São Paulo, terça-feira, 08 de novembro de 2011

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Ação da imprensa em tiroteio será revista

Comandante da Polícia Militar do Rio quer se reunir com jornalistas e cinegrafistas para debater medidas de segurança

Mais dois suspeitos de envolvimento na morte de cinegrafista são presos; colete não bloqueava bala de fuzil


Pedro Kirilos/Agência O Globo
Velório do cinegrafista Gelson Domingos, ontem

DIANA BRITO
DENISE MENCHEN

DO RIO

O comandante da Polícia Militar do Rio, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, pretende se reunir com sindicatos de cinegrafistas e jornalistas para discutir medidas de segurança para o trabalho da mídia em operações policiais.
O anúncio foi feito um dia após o repórter cinematográfico da TV Bandeirantes Gelson Domingos, 46, ter sido morto durante ação da PM na favela de Antares, em Santa Cruz, zona oeste. Ele levou um tiro de fuzil no peito.
A proposta foi considerada positiva pela presidente do sindicato dos jornalistas do Rio, Suzana Blass. "Acho positivo criar a cultura de que jornalista não tem que se comportar como policial em cobertura policial." Ontem dois homens foram presos sob suspeita de participação no tiroteio. Outros oito suspeitos estão presos na Delegacia de Homicídios.
No momento em que foi atingido, Domingos usava um colete à prova de balas. Segundo a Band, o colete era do tipo IIIA, o mais seguro dentre os permitidos para uso civil pelas Forças Armadas.
Este é o modelo usado pelas polícias Civil e Militar do Rio, inclusive por policiais do Bope e do Choque que participavam da ação em Antares.
Mas, de acordo com Nelio Andrade, advogado da família, ele usava um colete tipo IIA, adequado para proteger contra tiros de armas de menor calibre. A peça foi entregue à família, que a fotografou e encaminhou à polícia.
"O colete não é o que a Band diz. Esse rapaz estava em risco e talvez não soubesse disso", disse Andrade. Até a conclusão desta edição, a Bandeirantes não havia se pronunciado sobre a afirmação do advogado.
As Forças Armadas informaram que empresas jornalísticas podem solicitar autorização para ter acesso a coletes mais resistentes. O especialista em segurança Hugo Tisaka, diz que, pelas imagens, não é possível saber se havia um local mais adequado para que Domingos buscasse abrigo.
"A impressão é que ele estava mal posicionado, mas não dá para culpá-lo", disse.

ENTERRO
Cerca de 250 pessoas acompanharam ontem o enterro de Domingos no cemitério do Caju, na zona portuária. Para o colega de trabalho Fernando Azevedo, a morte de Domingos foi uma tragédia anunciada. "O fuzil, quando não mata, mutila. É uma briga desigual", disse.
A Band informou que a segurança de seus funcionários sempre foi prioridade. Disse também que a equipe é orientada a não correr riscos, mas que a decisão de entrar ou não em favelas "é tomada em campo, pela equipe de reportagem, seguindo sempre as orientações do comando policial durante a operação".
Em nota, a organização internacional CPJ (Committee to Protect Journalists) disse que a morte de Domingos "ilustra os riscos enfrentados por jornalistas que cobrem crimes no Brasil".

Colaborou RODRIGO RÖTZSCH


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