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DISCRIMINAÇÃO
Dados da Funai mostram que dos 1.800 que vivem na cidade de São Paulo, apenas cerca de 600 trabalham
Índio esconde origem para obter emprego
LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Reportagem Local
O medo do preconceito tem
obrigado índios que moram em
São Paulo a camuflar suas origens
para conseguir emprego. Na hora
de procurar trabalho, os índios se
apresentam como negros, nordestinos ou índios argentinos.
E mesmo assim, disfarçados, os
indígenas em geral só conseguem
disputar vagas mal remuneradas
que estão à disposição no mercado
de trabalho. No final, acabam ocupados como pedreiros, vigilantes
ou empregadas domésticas.
"Trabalhei um ano e dois meses
em uma casa de família. Quando
contaram para a minha patroa que
eu era índia, ela começou a dar indiretas dizendo que não gostava
de índios e depois me demitiu",
diz Maria de Fátima Cardoso, índia da tribo dos pankararus que
passou a trabalhar como merendeira depois de ter sido demitida.
A remuneração desses trabalhadores acompanha esse raciocínio.
Segundo dados da Funai (Fundação Nacional do Índio), dos 1.800
índios que moram na capital, apenas cerca de 600 trabalham. A média salarial é de R$ 350.
O preconceito contra os índios é
resquício de uma imagem que tem
quase 500 anos. Escravizados, os
indígenas resistiam e eram considerados "indolentes". Os ecos
desses adjetivos continuam sendo
ouvidos até hoje.
"Preguiçoso", "ingênuo",
"selvagem", dizem os índios entrevistados pela Folha, sobre como são chamados pela população
das cidades.
Ignorância
Para o índio Jurandir Siridiwê
Xavante, representante dos xavantes em São Paulo, a origem do
preconceito está ligada à história
do Brasil. "Nas escolas, as crianças aprendem que o índio foi substituído pelo negro na escravidão
porque ele era preguiçoso", diz.
Antropólogos e especialistas
consultados pela Folha dizem que
a reação do índio de esconder a
origem é compreensível.
"A sociedade ignora aquilo que
desconhece ou que tem medo, por
isso, se fecha para o índio", diz a
antropóloga Betty Mindlin.
Segundo o chefe do serviço de
assistência da Funai e representante dos terenas na capital, Mário
de Camilo Ivy, três grupos indígenas vivem em São Paulo: fulniôs,
guaranis e pankararus. "Apenas
esses últimos se arriscam na disputa de emprego."
Segundo ele, os fulniôs e guaranis são mais isolados e vivem de
artesanato, doações e de agricultura. "Em comum, eles têm as condições precárias de vida em favelas, aldeias ou áreas rurais", diz.
De acordo com Ivy, os pankararus são pioneiros na busca por
emprego em São Paulo.
"Eles são corajosos. A maioria
dos índios prefere continuar em
comunidade e evitar o branco."
Coragem
Para o presidente da Associação
Indígena Pankararu, Frederico
Pankararu, a coragem é mais uma
necessidade de sobrevivência. Segundo ele, faz parte da tradição de
sua aldeia, Brejo dos Padres, em
Pernambuco, encaminhar os jovens de 18 anos para trabalhar em
São Paulo.
"É uma fase de aprendizado do
jovem. Nós trabalhamos para ganhar dinheiro, mas o nosso destino é voltar para a aldeia", afirma.
Segundo ele, é preciso coragem
para enfrentar a cidade grande.
Essa qualidade não faltou para o
índio xerente Wa'ikaira', 16. Ele é
jogador de futebol e foi chamado
para fazer um teste na seleção da
Bélgica. "É uma vitória, um sonho que está se realizando", diz.
A empresária do atacante, Sandra Eli de Melo, diz que ele se tornou o orgulho da aldeia. "Foi um
milagre. Não tem outra explicação", afirma a empresária.
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