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GILBERTO DIMENSTEIN
O pacote do medo
Estimativas reservadas do
governo indicam explosão do
desemprego no próximo semestre, chegando a atingir os 13%;
o patamar atual gira em torno
dos 8%.
O Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), ligado
ao Ministério do Planejamento, prevê que os trabalhadores
da construção civil, com abundante mão-de-obra sem qualificação, serão algumas das vítimas preferenciais.
É gente que, devido à baixa
escolaridade, sofre gigantescas
dificuldades de reciclagem,
com escassas chances no mercado de trabalho.
Circulam cálculos segundo os
quais, no primeiro trimestre de
1999, a economia irá se retrair
em cerca de 8%, comparando
com mesmo período deste ano.
Estamos, enfim, começando
a sentir saudades do atual nível de desemprego -um nível
que imaginávamos, até pouco
tempo, beirar o insuportável.
O impacto dessas projeções
no cotidiano, longe das frias
estatísticas econômicas, nutre
uma das mais temidas pragas
nacionais, um pesadelo do
brasileiro tão ou mais incômodo do que o próprio desemprego: a violência nas cidades.
Será que corremos o risco de
sentir saudades também dos
atuais níveis de violência urbana? Desculpe incomodar o
domingo do leitor, mas a resposta está entre talvez e provavelmente.
Acaba de sair uma investigação
da ONU (Organização das Nações Unidas) comparando os índices de violência em 185 países -e,
ali, são demolidos mitos, mas reforçados os temores brasileiros de
que a violência prospere.
Mito demolido: a visão de que os
homicídios são mais graves em
nações pobres e subdesenvolvidas.
Por incrível que pareça, é uma
bobagem.
Prepare-se para a surpresa: o número de homicídios nas nações
mais miseráveis do planeta ainda é
mais baixo do que nos mais ricos.
Nas nações mais pobres, existem
4,2 assassinatos por 100 mil habitantes. Nas industrializadas, 4,7.
Para entender essa estatística: somos, no Brasil, uma população em
torno de 154 milhões de pessoas.
Nossa taxa é de 24 assassinatos por
100 mil -o que representa 37 mil
mortes todos os anos.
Peguemos o caso do sul da Ásia,
onde estão localizados exemplos
de miséria como Índia ou Bangladesh; lá, é 2,2 por 100 mil. Mas a
América do Norte, onde imperam
os Estados Unidos, é 6,1 por 100
mil.
A situação é especialmente grave
nos países intermediários como o
Brasil, onde se misturam primeiro
e terceiro mundos.
Nos países em desenvolvimento,
a taxa pula para 12,7%. O pico vai
para a América Latina (20). Na região, estamos acima da média.
A média nada ou pouco significa
para quem vive nos grandes centros como Rio de Janeiro ou São
Paulo; nessas cidades atingem-se,
respectivamente, 74 e 44 por mil.
Várias vezes mais, portanto, do
que a realidade dos miseráveis indianos, onde a renda per capita é
25 vezes menor.
Não é necessário esforço de raciocínio. Alguém com apenas 30
anos de idade se lembra como as
cidades eram bem mais tranquilas
em seus tempos de infância, embora o Brasil fosse bem mais pobre.
O problema de estar no meio entre miseráveis e desenvolvidos é
ter de administrar os efeitos da migração explosiva para cidades sem
capacidade de migrantes, oferecendo-lhes moradia, hospitais,
empregos e escolas.
Perdem os laços que tinham em
suas comunidades, tornam-se vítimas da violência da invisibilidade; são anônimos vivendo entre
anônimos.
Ao lado da desigualdade social,
são bombardeados pelos apelos de
consumo; os adolescentes, com
baixa escolaridade, longe da chance de emprego, são atraídos pelo
dinheiro fácil do crime.
Não é, assim, um problema de
miséria -certamente, a maioria
dos migrantes ganha mais do que
quando estava no Nordeste.
É a sensação permanente de
marginalidade que gera a violência. O desemprego apenas joga álcool nessa fogueira.
O aumento da crise econômica,
movida, em boa parte, a omissão
do poder público, descaso dos governantes, aumentou a taxa de
medo da sociedade brasileira
-vai do medo de perder o emprego ao medo de andar na rua.
Daí se vê o que significa o perigo
da brincadeira com as medidas
necessárias para ajustar a nação.
O país seria bem melhor se os
homens públicos fossem obrigados a sentir o cotidiano como, por
exemplo, matricular seus filhos
numa escola pública, enfrentar a
fila de um hospital ou ter de andar
a pé, sem segurança, numa rua de
uma cidade como São Paulo ou
Rio.
PS - Por falar em emprego, a moda da inteligência emocional, nascida nos EUA, se instalou definitivamente nos departamentos de recursos humanos brasileiros. Virou
um critério para seleção de candidatos.
Saber lidar com as emoções passa a ser tão importante como saber
lidar com as informações. Já existe
uma série de sites em português
sobre inteligência emocional.
Uma coletânea deles pode ser encontrada no Universo Online, no
endereço www.aprendiz.com.br.
E-mail: gdimen@uol.com.br
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