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VIOLÊNCIA
Mais 8 pessoas foram feridas em tiroteio entre grupos rivais de madrugada no Dendê; polícia só chegou ao local de manhã
Disputa entre traficantes mata 8 no Rio
MARCELLO GAZZANEO
HENRI CARRIÈRES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Oito pessoas foram mortas e oito feridas por um grupo de traficantes que invadiu, na madrugada de ontem, o morro do Dendê,
na Ilha do Governador (zona norte do Rio). A invasão começou
por volta da 1h e provocou um tiroteio com criminosos rivais que
durou até o fim da madrugada.
Segundo a polícia, as oito vítimas foram mortas à queima-roupa. Sete seriam traficantes, com
idades entre 18 e 26 anos, e a oitava, o dono de um bar na favela.
A Polícia Militar só subiu o
morro de manhã, quando cerca
de 50 homens do 17º Batalhão
ocuparam os principais pontos
do Dendê. No fim da tarde, apenas as ruas de acesso à favela estavam policiadas. Moradores do
morro não quiseram falar com
jornalistas sobre o conflito.
Além dos oito corpos, os policiais encontraram no Dendê dois
carros queimados e outros dois
metralhados. Durante o ataque,
os criminosos atiraram contra os
transformadores de energia e o
fornecimento de luz na favela chegou a ser interrompido.
A guerra entre as quadrilhas do
tráfico no Dendê, que pertencem
à facção Terceiro Comando Puro,
já dura mais de dois meses. No dia
29 de outubro, criminosos ligados
ao traficante Edson Francisco Alves, 32, o Bizulai, mataram 12 pessoas do grupo de Claudecy de Oliveira, o Noquinha, 25.
Ontem, segundo a polícia, Noquinha, expulso do morro em outubro, promoveu um ataque-surpresa à quadrilha rival.
Investigações de policiais da 37ª
Delegacia de Polícia, na Ilha, indicam que 20 homens liderados por
Noquinha invadiram o morro.
Por quase quatro horas, as duas
quadrilhas se enfrentaram. No
momento do ataque, moradores
se divertiam em um baile funk.
O objetivo do ataque de Noquinha, segundo a polícia, não era a
retomada dos pontos-de-venda
de drogas no Dendê. "A intenção
é enfraquecer ao máximo o grupo
de Bizulai", disse um policial. Para invadir a favela, o criminoso teria contado com a ajuda de traficantes ligados a Irapuan David
Lopes, o Gangan.
A informação foi confirmada
pelo secretário de Segurança, Anthony Garotinho. Gangan, que
controla o tráfico nos morros de
São Carlos e Coroa (Estácio, zona
central), Querosene (Rio Comprido, zona norte) e Serrinha (Madureira, zona norte), estaria protegendo Noquinha.
"Estamos intensificando nosso
trabalho na Ilha. Mas há um conflito grande entre as facções criminosas na área desde a prisão do
Ronaldo do Dendê. Há uma disputa por aquela área", afirmou
Garotinho, referindo-se ao traficante Ronaldo Souza Costa, preso
em outubro. Ronaldo é irmão de
Romildo Souza Costa, o Miltinho
do Dendê.
Para os policiais da 37ª DP, o
confronto de ontem foi mais um
capítulo de uma "disputa intermediária" entre gerentes do tráfico. Miltinho do Dendê, o verdadeiro chefe do tráfico no morro,
estaria indiferente ao conflito.
"Quem vencer essa guerra vai
continuar dando dinheiro ao Miltinho ", disse um investigador.
Desde outubro, segundo a polícia,
28 pessoas envolvidas no conflito
foram identificadas e tiveram a
prisão preventiva decretada. Sete
delas foram presas.
Os mortos no ataque foram
identificados como Edson dos
Santos Ribeiro, 26, Tiago do Nascimento Brás, 18, Marcos Antônio
Félix, 29, Leandro Carvalho de
Mendonça, 19, Hélio Júlio Ferreira de Lemos, 24, Roberto Oliveira
Barbosa, 23, e um homem identificado como Rogério, o Feinho.
José Nogueira da Silva, 43, era dono de um bar na favela.
Dos oito feridos, dois continuavam internados ontem à noite,
Anderson Jorge Amoroso, 23, e
Nelson Resende Carvalho. Os demais foram atendidos no Hospital
Paulino Werneck e liberados.
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