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São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2003

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VIOLÊNCIA

Mais 8 pessoas foram feridas em tiroteio entre grupos rivais de madrugada no Dendê; polícia só chegou ao local de manhã

Disputa entre traficantes mata 8 no Rio

MARCELLO GAZZANEO
HENRI CARRIÈRES

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Oito pessoas foram mortas e oito feridas por um grupo de traficantes que invadiu, na madrugada de ontem, o morro do Dendê, na Ilha do Governador (zona norte do Rio). A invasão começou por volta da 1h e provocou um tiroteio com criminosos rivais que durou até o fim da madrugada.
Segundo a polícia, as oito vítimas foram mortas à queima-roupa. Sete seriam traficantes, com idades entre 18 e 26 anos, e a oitava, o dono de um bar na favela.
A Polícia Militar só subiu o morro de manhã, quando cerca de 50 homens do 17º Batalhão ocuparam os principais pontos do Dendê. No fim da tarde, apenas as ruas de acesso à favela estavam policiadas. Moradores do morro não quiseram falar com jornalistas sobre o conflito.
Além dos oito corpos, os policiais encontraram no Dendê dois carros queimados e outros dois metralhados. Durante o ataque, os criminosos atiraram contra os transformadores de energia e o fornecimento de luz na favela chegou a ser interrompido.
A guerra entre as quadrilhas do tráfico no Dendê, que pertencem à facção Terceiro Comando Puro, já dura mais de dois meses. No dia 29 de outubro, criminosos ligados ao traficante Edson Francisco Alves, 32, o Bizulai, mataram 12 pessoas do grupo de Claudecy de Oliveira, o Noquinha, 25.
Ontem, segundo a polícia, Noquinha, expulso do morro em outubro, promoveu um ataque-surpresa à quadrilha rival.
Investigações de policiais da 37ª Delegacia de Polícia, na Ilha, indicam que 20 homens liderados por Noquinha invadiram o morro. Por quase quatro horas, as duas quadrilhas se enfrentaram. No momento do ataque, moradores se divertiam em um baile funk.
O objetivo do ataque de Noquinha, segundo a polícia, não era a retomada dos pontos-de-venda de drogas no Dendê. "A intenção é enfraquecer ao máximo o grupo de Bizulai", disse um policial. Para invadir a favela, o criminoso teria contado com a ajuda de traficantes ligados a Irapuan David Lopes, o Gangan.
A informação foi confirmada pelo secretário de Segurança, Anthony Garotinho. Gangan, que controla o tráfico nos morros de São Carlos e Coroa (Estácio, zona central), Querosene (Rio Comprido, zona norte) e Serrinha (Madureira, zona norte), estaria protegendo Noquinha.
"Estamos intensificando nosso trabalho na Ilha. Mas há um conflito grande entre as facções criminosas na área desde a prisão do Ronaldo do Dendê. Há uma disputa por aquela área", afirmou Garotinho, referindo-se ao traficante Ronaldo Souza Costa, preso em outubro. Ronaldo é irmão de Romildo Souza Costa, o Miltinho do Dendê.
Para os policiais da 37ª DP, o confronto de ontem foi mais um capítulo de uma "disputa intermediária" entre gerentes do tráfico. Miltinho do Dendê, o verdadeiro chefe do tráfico no morro, estaria indiferente ao conflito.
"Quem vencer essa guerra vai continuar dando dinheiro ao Miltinho ", disse um investigador. Desde outubro, segundo a polícia, 28 pessoas envolvidas no conflito foram identificadas e tiveram a prisão preventiva decretada. Sete delas foram presas.
Os mortos no ataque foram identificados como Edson dos Santos Ribeiro, 26, Tiago do Nascimento Brás, 18, Marcos Antônio Félix, 29, Leandro Carvalho de Mendonça, 19, Hélio Júlio Ferreira de Lemos, 24, Roberto Oliveira Barbosa, 23, e um homem identificado como Rogério, o Feinho. José Nogueira da Silva, 43, era dono de um bar na favela.
Dos oito feridos, dois continuavam internados ontem à noite, Anderson Jorge Amoroso, 23, e Nelson Resende Carvalho. Os demais foram atendidos no Hospital Paulino Werneck e liberados.



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