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Atraso sobrecarrega pilotos, diz entidade
Denúncias em relação à sobrecarga na jornada de trabalho já totalizam perto de cem -quase três vezes a média habitual
Alguns pilotos ou
comissários se dizem
pressionados a trabalhar
mesmo quando a escala
horária já atingiu seu limite
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise no tráfego aéreo brasileiro tem agravado dois problemas que já eram alvo de reclamações e que passaram a
acrescentar novos transtornos
e riscos aos passageiros: vôos
estão sendo cancelados por falta de tripulação; e as denúncias
de sobrecarga na jornada de
trabalho dos pilotos e dos demais aeronautas dispararam.
A explicação é simples: quando os vôos sofrem atrasos sistemáticos, alguns tripulantes
também ficam à espera em seu
horário de serviço e, dependendo da demora, não podem mais
decolar porque a jornada diária
já está prestes a se esgotar. Ou
então entram no avião já sabendo que seu limite terá sido
ultrapassado na hora do pouso.
A presidente do Sindicato
Nacional dos Aeronautas, Graziela Baggio, afirma que as denúncias recebidas pela entidade de sobrecarga na jornada de
trabalho já totalizam perto de
cem de um mês para cá -quase
três vezes a média habitual.
Alguns pilotos ou comissários se dizem pressionados pelas companhias aéreas a trabalhar mesmo quando a escala
horária já atingiu seu limite.
Baggio afirma que vai analisar cada denúncia para verificar quais são procedentes e encaminhá-las à Anac.
A legislação dos aeronautas
prevê que a jornada de trabalho
de uma tripulação simples (geralmente para vôos nacionais)
é de 11 horas, já incluídos os 30
minutos de deslocamento depois da parada dos motores.
No caso de tripulações de revezamento, geralmente usadas
em vôos internacionais e nas
quais há contingente adicional
para dividir os serviços e garantir horas de descanso no vôo,
ela pode atingir até 20 horas.
A lei prevê a possibilidade de
ampliação de 60 minutos no
trabalho, a critério do comandante, mas em casos excepcionais, como inexistência de escala regular com acomodações,
por condições meteorológicas
ou "imperiosa necessidade".
Segundo Hugo Stringhini,
presidente do sindicato dos pilotos da aviação comercial, a ultrapassagem dos horários sempre foi alvo de questionamento.
O problema maior, desta vez,
é que, com os atrasos se repetindo em larga escala e diariamente, esse desrespeito tem
ocorrido com maior freqüência, aumentando a possibilidade de cansaço acumulado.
"As empresas já trabalhavam
no limite da escala prevista. Se
tem atraso, afeta", diz Baggio.
Ela acrescenta que muitas
empresas não têm equipe disponível para substituição imediata fora de São Paulo. Assim,
quando a jornada se esgota, há
comandantes que estão fazendo paradas no meio da rota para a troca de tripulação, cabendo aos passageiros esperar.
Ronaldo Jenkins, coordenador de segurança de vôo do
Snea (Sindicato Nacional das
Empresas Aéreas), afirma que
vários vôos estão sendo cancelados pelo fato de a tripulação
não poder exceder a jornada
horária, mas nega pressão.
"Em situações excepcionais
pode até haver algum pequeno
acréscimo, mas é só um ou outro caso e sempre há uma justificativa", afirma Jenkins. Ele
diz que as empresas não desrespeitam as normas até porque podem ser multadas pela
Anac. Procurada ontem, a
agência não havia se manifestado até a conclusão desta edição.
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