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Na mesma sessão, Câmara amplia e acaba com o rodízio
Vereadores de SP aprovam pacotaço com 96 projetos, incluindo propostas contraditórias
Votações foram resultado de um acordão feito pelos parlamentares que garantiu a aprovação de dois
projetos de cada um deles
ROGÉRIO PAGNAN
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Câmara Municipal de São
Paulo aprovou no mesmo dia e
na mesma sessão um projeto de
lei que amplia o rodízio e um
outro que acaba com a restrição
à circulação de veículos.
A aberração legislativa ocorreu na noite de quarta-feira em
meio a um acordão para aprovação em massa as propostas
de vereadores. Em pouco mais
de seis horas, os parlamentares
paulistanos aprovaram 96 projetos. Ou seja, quase 16 por hora
(ou um a cada quatro minutos).
Pelo acordo, cada um dos 55
vereadores pôde indicar dois
projetos para aprovação. Os
que não conseguiram sugerir
propostas ficaram com crédito
-poderão apresentá-las futuramente com garantia de aprovação (na quinta, outras seis
propostas receberam "sim").
Os projetos foram aprovados
em primeira votação - não necessariamente por unanimidade. Para a segunda, prevista para a semana que vem (antes de
virar lei, um projeto precisa ser
aprovado duas vezes e ser submetido a apreciação do prefeito), o acordão prevê que só um
projeto será aprovado por vereador (a critério do vereador).
Na lista dos aprovados há
projetos como o que estabelece
o Dia de Orgulho Heterossexual em São Paulo, do vereador
Carlos Apolinário (DEM).
"O Executivo envidará esforços no sentido de divulgar a data instituída por esta lei, objetivando conscientizar e estimular a população a resguardar a
moral e os bons costumes", diz
o artigo 3º do projeto de lei.
A Folha apurou que o acordão foi viabilizado com apoio
do líder do governo Gilberto
Kassab (DEM), José Police Neto (PSDB), o Netinho, a fim de
facilitar a aprovação da proposta orçamentária do prefeito para 2008, ano eleitoral.
Vereadores do PT também
participaram do acordão. O petista Paulo Fiorilo diz que o seu
partido se aproveitou do "desespero" do governo para conseguir aprovar seus próprios
projetos. É o caso de um do vereador Arselino Tatto que obriga as repartições públicas e
hospitais a atender os usuários
em tempo "razoável".
Líder do governo, José Police
Neto nega o acordo. Diz que
houve apenas um "entendimento". "Acordo é quando se
vota em troca de alguma coisa."
Por esse "entendimento", segundo o tucano, os colegas não
colocariam empecilhos entre si
(como obstruções). O objetivo
é tentar, ainda segundo ele, a
aprovação ainda neste ano para
que, entre outras coisas, o calendário eleitoral de 2008 não
impossibilite sua execução.
Autor do projeto que aumenta o rigor no rodízio, o tucano
Ricardo Teixeira disse ter alertado as bancadas, mas não conseguiu mudar a situação. "É
uma baita incoerência. Falei
para o pessoal: "Gente, votar a
favor do meu e do [projeto] do
Adilson [Amadeu, PTB, autor
da proposta que acaba com o
rodízio] está errado'", diz. "Tenho certeza de que muitos vereadores nem viram [os dois
projetos]."
Pela proposta de Teixeira
que foi aprovada, o rodízio passaria a valer na cidade inteira
(não só no centro expandido,
como é hoje) e afetaria toda a
frota de segunda a sexta -hoje
só 20% sofre restrição a cada
dia. Metade das placas seria
proibida de circular das 7h às
8h30 e das 17h às 18h30. A outra metade, das 8h30 às 10h e
das 18h30 às 20h.
Amadeu disse que chegou a
ser procurado por Teixeira para que retirasse seu texto, mas
não concordou. "Apresentei
primeiro. Não abro mão."
Questionado pela Folha sobre a contradição, o petebista
respondeu três vez do mesmo
jeito. "É o acordo dos líderes."
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