São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Assassino mata por prazer, diz professor

Para Sérgio Kodato, da USP, serial killer do parque dos Paturis mata homossexuais para combater o próprio desejo reprimido

Segundo ele, assassinos em série são geralmente pessoas inteligentes, com histórico de maus-tratos e abandono, e sentem prazer em matar

DA REPORTAGEM LOCAL

O assassino em série do parque dos Paturis provavelmente é homossexual, mas não admite esse desejo. Mata por prazer, como se fizesse sexo, e por querer eliminar essa vontade de outros homens, avalia o professor de psicologia da violência da USP de Ribeirão Preto, Sérgio Kodato. (ANDRÉ CARAMANTE E ROGÉRIO PAGNAN)

 

FOLHA - Como funciona a mente de um matador em série?
SÉRGIO KODATO -
Existe uma compulsão a matar. O indivíduo geralmente ou alega estar sob forças demoníacas -há alguém falando para ele fazer aquilo- ou está sob o domínio da perversão sadomasoquista. Matar pessoas, fazê-las sofrer, gera prazer. A perversão sexual é caracterizada por isso. [Neste caso] Quase todas as vítimas são homossexuais. Isso indica que existe, vamos dizer assim, uma questão, um problema, um trauma sexual a ser resolvido. No fundo, no delírio dele, está fazendo uma espécie de limpeza. Limpeza social. O serial killer, geralmente, é um indivíduo relativamente inteligente, culto. Um indivíduo que teve uma infância traumatizada, com histórias de maus-tratos, rejeição, abandono. Isso danifica o desenvolvimento sexual e faz que a energia sexual se alie a uma energia agressiva de tal forma que, quando uma se manifesta, a outra se manifesta automaticamente. Por isso, ao mesmo tempo em que ele se sente fazendo uma limpeza, é intensamente prazeroso matar.

FOLHA - Ele sente o mesmo prazer em matar como uma pessoa normal sente quando faz sexo?
KODATO -
Exatamente. É isso que caracteriza a perversão sadomasoquista. Infringir dor a ele próprio ou ao a outrem, no sentido de chegar ao orgasmo.

FOLHA - Ele pode ser homossexual e tem problemas com isso?
KODATO -
Muito provavelmente. Pode ser que esteja querendo eliminar um desejo homossexual que não consegue aceitar nele. Então, projeta esse desejo como se fosse algo pecaminoso, fora de qualquer norma. Para combatê-lo, combate no outro. É mecanismo que a gente chama de projeção: projetar no outro coisas que você não consegue aceitar e reconhecer em você.

FOLHA - A polícia acredita que ele pode ser ligado à área da segurança.
KODATO -
Muitas vezes o sujeito vai ser militar como uma defesa contra esse homossexualismo, não é uma escolha consciente. Ele vai buscar uma profissão radicalmente masculina como uma defesa contra esse desejo. Só que um desejo, quando ele é contrariado, recalcado, sistematicamente ele vai estourar em algum outro lugar.

FOLHA - Essa pessoa pode parar de matar de uma hora para outra?
KODATO -
Como são muito inteligentes, podem parar de matar por um tempo. Fazem todo um jogo com a polícia de gato e rato. Eles querem mostrar que são mais espertos e inteligentes que a polícia.
Eles, na verdade, se baseiam um pouco no fato de que o maior serial killer da história, Jack Estripador, até hoje não se sabe quem é.


Texto Anterior: Há 50 Anos
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.