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Parentes e viúva disputam herança de ganhador de loteria
Vencedor de R$ 52 mi da Mega Sena foi morto a tiros em um bar em Rio Bonito (RJ); para delegado, hipótese de latrocínio é remota
Mulher com que vivia afirma que testamento a torna a única herdeira; família diz que ela pode estar envolvida no crime
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A RIO BONITO (RJ)
A disputa pela herança do ganhador da Mega Sena Rennê
Sena, 54, começou antes de o
corpo ser enterrado. Ontem,
Adriana Almeida, que se diz
viúva, afirmou haver um testamento que a favorece. Os 11 irmãos e a filha da vítima não a
reconhecem como viúva dele. A
polícia investiga a hipótese de
crime encomendado.
Sena foi morto com cinco tiros na cabeça na manhã de anteontem, quando bebia cerveja
em um bar na área rural de Rio
Bonito (75 km do Rio). Em julho de 2005, sozinho, ele vencera o concurso 679 da Mega Sena. Recebeu R$ 51.890.452,61.
Quando amputou as pernas,
anos antes, em razão do diabetes, o açougueiro se aposentou.
Vivia em situação de quase miséria. Para se sustentar, vendia
flores às margens da BR-101 em
sua cadeira de rodas.
Foi abandonado pela mulher,
que levara a filha única.
Com o prêmio lotérico, Sena
comprou uma fazenda na cidade, onde passou a morar, e voltou a ser procurado pelos parentes, que tinham se afastado
e a quem distribuiu dinheiro e
imóveis. Casou ainda com uma
mulher 25 anos mais nova.
Sena foi morto por um homem de capacete que chegara
de moto ao bar onde costumava beber cerveja de três a quatro vezes por semana, geralmente de manhã. Não teve
tempo de falar nada. Quatro tiros desfiguraram seu rosto. Um
atingiu a nuca.
O criminoso levou a pochete
dele, mas deixou o relógio e a
aliança.
Para o delegado Ademir da
Silva, responsável pelo caso, a
hipótese de latrocínio (roubo
seguido de morte) é remota.
Ele disse que o assassino conhecia os hábitos da vítima.
Afirmou ter várias "linhas de
investigação"-entre elas, disse, o envolvimento de Adriana.
Advogado contratado por
ela, o criminalista Alexandre
Dumans, com escritório no
Rio, confirmou a suspeita do
delegado, com quem conversou
reservadamente à tarde.
"Ele acha que minha cliente
é um dos suspeitos. Está no direito dele", afirmou Dumans.
Adriana não quis dar entrevistas, mas o advogado falou
por ela. Disse que, meses após o
prêmio, Sena registrou um novo testamento, em que deixava
toda a fortuna e todos os seus
bens para ela. Estavam juntos
havia cerca de um ano, mas não
chegaram a se casar.
A família contesta a validade
do testamento. A irmã Aldinéia
Sena disse que o crime foi praticado a mando de Adriana.
O irmão Miguel disse que a
família não reconhece Adriana
como viúva. Para a família, a
herdeira natural é a filha única
de Sena, Renata, 20.
O advogado disse considerar
natural que a família esteja reclamando. "Eles [os parentes]
ficarão à míngua. Nada será repartido. Rennê tinha preferência por ela. Tinha uma relação
afetiva com os três filhos dela,
que viviam com eles na fazenda. Tudo o que ele comprava
era para ela. Ele até suspeitava
que não era o verdadeiro pai da
filha", disse Dumans, para
quem a polícia deve investigar
a hipótese de latrocínio.
A família impediu que Sena
fosse enterrado no Jardim das
Acácias, onde Adriana comprara um jazigo anteontem por R$
5.400. Levado para o cemitério
rural de Rio Seco, o corpo foi
enterrado no início da noite.
Hostilizada pelos presentes e
cercada por seguranças, Adriana esteve no cemitério, mas
preferiu não descer do carro.
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