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Ação de Paes para morador de rua é ineficaz
Eles são retirados das ruas pela operação "Choque de Ordem" e levados a abrigos, mas voltam pouco depois ao mesmo lugar
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
A operação "Choque de Ordem" implementada pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes
(PMDB), desde o início da semana dura menos de cinco horas para a maioria dos moradores de rua retirados das calçadas da cidade. Eles almoçam,
tomam banho nos abrigos do
Estado mas se recusam a ficar
no local e voltam para as áreas
de onde foram retirados.
A reportagem acompanhou
13 dos 63 moradores de rua recolhidos pela prefeitura ontem
pela manhã. Dois fugiram antes
de chegar ao abrigo. Dez chegaram ao centro de triagem da
Fundação Leão 13 -órgão estadual para acolhimento da população de rua- e assinaram
um termo de compromisso
afirmando não ter interesse de
ficar no local. Um só ficou para
tratar um ferimento na perna.
Para Paes, a retirada dos moradores de rua trata-se de um
"trabalho contínuo" a ser feito
pela prefeitura. "Não é uma tarefa simples. As pessoas vão
voltar [para a rua], vão sair de
novo, vão voltar, vão sair de novo, até o dia que elas perceberem que existe uma ação firme
do governo, elas vão deixar de
voltar porque o transtorno vai
ser muito grande".
O processo "volta-sai", no entanto, não é novidade para o catador Jorge Almeida, 45, um
dos primeiros a ser retirado da
zona portuária. Ele já perdeu a
conta de quantas vezes já se
apresentou em um abrigo e assinou o termo de compromisso
para retornar para rua.
"O dormitório é precário, o
colchão é cheio de pulga. Fiquei
lá um ano porque fui atropelado e precisava de atendimento.
Tiraram só o meu documento,
mas trabalho que é bom nada."
O grupo de 13 homens foi retirado debaixo da marquise do
armazém 6 a partir das 8h30.
Numa van, foram levados para
a 6ª DP (Cidade Nova) para verificar se havia mandado de prisão contra alguém. Dois rapazes fugiram neste momento. Os
11 moradores de rua restantes
chegaram por volta das 12h30
no centro de triagem, em Bonsucesso. Às 13h os primeiros
saíram para voltar às ruas.
O centro de triagem da fundação abriga 148 pessoas em
quartos amplos. Ontem foi servido ensopado de frango com
arroz e feijão. Há 1.670 vagas
para adultos e 846 para crianças em abrigos municipais e estaduais na cidade -desde o início da semana, foram recolhidos ao menos 149 pessoas.
Os abrigos da Fundação Leão
13 contam com alguns cursos
profissionalizantes, mas a diretora do órgão, Terezinha Faria,
admite que o local não é o melhor para a reinserção social.
"As pessoas que ficam nos abrigos são as sem perspectiva de
nada ou com algum tipo de deficiência. Há iniciativas de reinserção, mas é muito pouco".
Reinserção é do que precisa
Marcelo Miranda, 30, pintor
industrial, ex-funcionário da
Refinaria Duque de Caxias com
ensino fundamental completo
e morador de rua há três meses.
"Tenho R$ 400 em doce num
depósito para vender em ônibus. Vou ficar aqui fazendo o
quê?", disse ao sair do centro.
"Fui demitido, virei camelô,
mas a Guarda Municipal levou
meu material. Agora que estou
me reerguendo querem me
derrubar de novo?".
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