São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2009

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Ação de Paes para morador de rua é ineficaz

Eles são retirados das ruas pela operação "Choque de Ordem" e levados a abrigos, mas voltam pouco depois ao mesmo lugar

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

A operação "Choque de Ordem" implementada pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), desde o início da semana dura menos de cinco horas para a maioria dos moradores de rua retirados das calçadas da cidade. Eles almoçam, tomam banho nos abrigos do Estado mas se recusam a ficar no local e voltam para as áreas de onde foram retirados.
A reportagem acompanhou 13 dos 63 moradores de rua recolhidos pela prefeitura ontem pela manhã. Dois fugiram antes de chegar ao abrigo. Dez chegaram ao centro de triagem da Fundação Leão 13 -órgão estadual para acolhimento da população de rua- e assinaram um termo de compromisso afirmando não ter interesse de ficar no local. Um só ficou para tratar um ferimento na perna.
Para Paes, a retirada dos moradores de rua trata-se de um "trabalho contínuo" a ser feito pela prefeitura. "Não é uma tarefa simples. As pessoas vão voltar [para a rua], vão sair de novo, vão voltar, vão sair de novo, até o dia que elas perceberem que existe uma ação firme do governo, elas vão deixar de voltar porque o transtorno vai ser muito grande".
O processo "volta-sai", no entanto, não é novidade para o catador Jorge Almeida, 45, um dos primeiros a ser retirado da zona portuária. Ele já perdeu a conta de quantas vezes já se apresentou em um abrigo e assinou o termo de compromisso para retornar para rua.
"O dormitório é precário, o colchão é cheio de pulga. Fiquei lá um ano porque fui atropelado e precisava de atendimento. Tiraram só o meu documento, mas trabalho que é bom nada."
O grupo de 13 homens foi retirado debaixo da marquise do armazém 6 a partir das 8h30. Numa van, foram levados para a 6ª DP (Cidade Nova) para verificar se havia mandado de prisão contra alguém. Dois rapazes fugiram neste momento. Os 11 moradores de rua restantes chegaram por volta das 12h30 no centro de triagem, em Bonsucesso. Às 13h os primeiros saíram para voltar às ruas.
O centro de triagem da fundação abriga 148 pessoas em quartos amplos. Ontem foi servido ensopado de frango com arroz e feijão. Há 1.670 vagas para adultos e 846 para crianças em abrigos municipais e estaduais na cidade -desde o início da semana, foram recolhidos ao menos 149 pessoas.
Os abrigos da Fundação Leão 13 contam com alguns cursos profissionalizantes, mas a diretora do órgão, Terezinha Faria, admite que o local não é o melhor para a reinserção social. "As pessoas que ficam nos abrigos são as sem perspectiva de nada ou com algum tipo de deficiência. Há iniciativas de reinserção, mas é muito pouco".
Reinserção é do que precisa Marcelo Miranda, 30, pintor industrial, ex-funcionário da Refinaria Duque de Caxias com ensino fundamental completo e morador de rua há três meses.
"Tenho R$ 400 em doce num depósito para vender em ônibus. Vou ficar aqui fazendo o quê?", disse ao sair do centro. "Fui demitido, virei camelô, mas a Guarda Municipal levou meu material. Agora que estou me reerguendo querem me derrubar de novo?".


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