"Vem botar o pé na lama", gritaram moradores do Jardim Pantanal, região que sofre com alagamentos desde o início de dezembro

Prefeito foi vaiado e antecipou sua saída do local; ele isentou moradores de pagar taxas de água e esgoto nos próximos três meses

Vagner Campos/Futura Press

Kassab em visita ao Jardim Pantanal, área na zona leste de SP que está alagada; prefeito foi hostilizado por grupo de moradores

DO "AGORA"

O prefeito Gilberto Kassab (DEM) foi hostilizado ontem por um grupo de moradores ao visitar, pela manhã, o Jardim Pantanal, região da zona leste que enfrenta alagamentos desde o início de dezembro.
"Vem botar o pé na lama", gritavam os moradores, principalmente mulheres. O prefeito chegou a dizer "Vamos, vamos" e a pedir calma, mas não foi.
Kassab foi vaiado. Mesmo assim, tentou conversar com os moradores. Diante do protesto, resolveu antecipar sua saída.
A manifestação improvisada foi puxada por moradores de um condomínio, de 32 prédios, que teve várias unidades no térreo alagadas por conta da chuva. "Fiquei indignada porque ele só foi ao bloco 1 [que não alagou], não veio ver a nossa situação. Queria muito que ele tivesse pisado na lama", disse a radiologista Lisa Marie Felizardo, 27, uma das mais exaltadas.
Ao ver o prefeito, ela o convidou para "botar o pé na lama". O prefeito foi embora, alegando que teria que fazer uma visita ao bairro do Jardim Helena. A assessoria de imprensa da prefeitura não confirmou se ele foi mesmo ao destino anunciado.
Ao sair do condomínio sem visitar as áreas cheias de lama, o prefeito ouviu mais vaias. Uma das moradoras que falaram com Kassab, a babá Raquel Cristina da Silva Santos, 31, afirmou que, na hora do alagamento, cuidava de sete crianças em seu apartamento. "Comecei a colocar cobertor para a água não entrar em casa", disse.
Para ela, a visita do prefeito à região "foi uma grande palhaçada". "Ele sempre vem aqui, mas não resolve nada. Perguntei se ele queria uma bota emprestada para poder entrar na lama, mas ele não respondeu ."
Em entrevista no local, o prefeito disse que as famílias da região vão ficar isentas das taxas de água e esgoto nos meses de janeiro, fevereiro e março.
Disse também que a prefeitura cadastrou 1.700 famílias, das quais 300 seriam encaminhadas para a CDHU e os demais receberiam bolsa-aluguel até as unidades ficarem prontas.
Região na margem do rio Tietê em São Miguel Paulista, o Jardim Pantanal ficou debaixo d"água após a enchente do dia 8 de dezembro. Como duas estações da Sabesp foram afetadas pela inundação, além da água, os moradores tiveram de enfrentar muito esgoto.
Mesmo sem chover mais, a área ficou alagada por quase 14 dias. Com as chuvas no início desta semana, a região voltou a ficar debaixo d"água.
No local vivem cerca de 10 mil pessoas, boa parte em situação irregular, em área de preservação ambiental. Após o alagamento, a prefeitura e o Estado iniciaram cadastramento dos moradores e prometeram transferi-los para outras áreas.


Texto Anterior: Tamoios é bloqueada após deslizamento
Próximo Texto: Para moradores, alagamento foi maior agora
Índice