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Moradores enfrentam PM durante protesto
Manifestantes culpam obra da Dersa por enchente em bairro na zona leste; estatal diz desconhecer caso
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
CRISTINA MORENO DE CASTRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Cerca de 200 moradores do
Jardim Santo André, bairro localizado a 30 km do centro de
São Paulo, extremo da zona leste, enfrentaram ontem policiais da Força Tática, durante
protestos contra a Dersa (empresa de Desenvolvimento Rodoviário S.A), responsabilizada
pelas enchentes que deixaram
ruas e casas até 3 metros debaixo da água.
"Vivo aqui há 24 anos. Nunca
houve uma inundação dessa",
disse a dona de casa Jucinéia
Novaes, 32, mãe de três crianças. Ela perdeu geladeira, fogão, mantimentos, cama, berço
do bebê que está esperando e
toda a cozinha planejada que
comprou há um ano e ainda
não quitou. "Só consegui recolher meus filhos e subir correndo para o cômodo de cima."
Segundo ela, a enchente de
quinta-feira e de ontem devastou seu imóvel e foi causada pela Dersa -lá está sendo construída a expansão da avenida
Jacu-Pêssego que ligará o Rodoanel às cidades de Santo André e Mauá. Dos dois lados da
avenida Sapopemba, que cruza
o bairro, veem-se obras em andamento, muita terra recém-mexida, sem cobertura vegetal.
"A erosão da chuva jogou toneladas de terra e entulhos no
rio Mombaça, que margeia a
avenida Sapopemba. Interrompeu o rio. Criou uma represa
onde antes era a várzea. Encheu tudo", disse o geógrafo Cícero Antonio Teixeira Filho,
35, morador do bairro.
Paraplégico por causa de um
tiro de revólver que tomou há
15 anos, Leonardo Matias, 43,
escapou por pouco de morrer
na enchente que atingiu sua casa. As águas subiram três metros. Vivendo no térreo, o homem teve de ser içado pelo pai
sexagenário, recém-operado, e
por uma amiga adolescente para o andar superior. A água subiu tão rápido que não deu tempo para que o Fiat Tipo fosse tirado da garagem. Perda total.
O pessoal que vive rio abaixo
diz que a continuidade das chuvas fortes acabou rompendo o
dique. Liberada toda a água que
se havia represado, encheram-se casas e ruas -inclusive a avenida Sapopemba.
Por volta das 16h30 de ontem, cerca de 100 garotos do
bairro armaram-se com pedras
para arremessar nos homens
da Força Tática, que os haviam
encurralado em uma rua de
acesso, de modo a impedi-los
de retornar à avenida Sapopemba. A PM revidou atirando
bombas de gás lacrimogêneo.
A assessoria da Dersa informou desconhecer que a obra
tenha provocado o alagamento.
Itaquaquecetuba
Na ponte que divide São Paulo de Itaquaquecetuba, moradores do Jardim Fiorelo queimaram pneus na manhã de ontem para protestar contra o que
consideram um descaso em relação ao seu problema: assim
como no vizinho Jardim Pantanal, suas ruas estão alagadas há
pelo menos um mês. Segundo
relato dos moradores, o protesto reuniu 200 pessoas. A reportagem não localizou o prefeito
Armando da Farmácia (PR) para comentar.
Eles reclamam que o bairro
vizinho, por fazer parte de São
Paulo, vem ganhando mais
atenção da mídia e das autoridades. "Ninguém acha nosso
prefeito, ele não vem aqui", disse a assistente administrativa
desempregada Elisângela Cruz,
33. Três palmos de água invadiram sua casa, que registra as
marcas nas paredes -descascadas pela força da chuva.
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