São Paulo, sábado, 09 de janeiro de 2010

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Moradores enfrentam PM durante protesto

Manifestantes culpam obra da Dersa por enchente em bairro na zona leste; estatal diz desconhecer caso

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

CRISTINA MORENO DE CASTRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Cerca de 200 moradores do Jardim Santo André, bairro localizado a 30 km do centro de São Paulo, extremo da zona leste, enfrentaram ontem policiais da Força Tática, durante protestos contra a Dersa (empresa de Desenvolvimento Rodoviário S.A), responsabilizada pelas enchentes que deixaram ruas e casas até 3 metros debaixo da água.
"Vivo aqui há 24 anos. Nunca houve uma inundação dessa", disse a dona de casa Jucinéia Novaes, 32, mãe de três crianças. Ela perdeu geladeira, fogão, mantimentos, cama, berço do bebê que está esperando e toda a cozinha planejada que comprou há um ano e ainda não quitou. "Só consegui recolher meus filhos e subir correndo para o cômodo de cima."
Segundo ela, a enchente de quinta-feira e de ontem devastou seu imóvel e foi causada pela Dersa -lá está sendo construída a expansão da avenida Jacu-Pêssego que ligará o Rodoanel às cidades de Santo André e Mauá. Dos dois lados da avenida Sapopemba, que cruza o bairro, veem-se obras em andamento, muita terra recém-mexida, sem cobertura vegetal.
"A erosão da chuva jogou toneladas de terra e entulhos no rio Mombaça, que margeia a avenida Sapopemba. Interrompeu o rio. Criou uma represa onde antes era a várzea. Encheu tudo", disse o geógrafo Cícero Antonio Teixeira Filho, 35, morador do bairro.
Paraplégico por causa de um tiro de revólver que tomou há 15 anos, Leonardo Matias, 43, escapou por pouco de morrer na enchente que atingiu sua casa. As águas subiram três metros. Vivendo no térreo, o homem teve de ser içado pelo pai sexagenário, recém-operado, e por uma amiga adolescente para o andar superior. A água subiu tão rápido que não deu tempo para que o Fiat Tipo fosse tirado da garagem. Perda total.
O pessoal que vive rio abaixo diz que a continuidade das chuvas fortes acabou rompendo o dique. Liberada toda a água que se havia represado, encheram-se casas e ruas -inclusive a avenida Sapopemba.
Por volta das 16h30 de ontem, cerca de 100 garotos do bairro armaram-se com pedras para arremessar nos homens da Força Tática, que os haviam encurralado em uma rua de acesso, de modo a impedi-los de retornar à avenida Sapopemba. A PM revidou atirando bombas de gás lacrimogêneo.
A assessoria da Dersa informou desconhecer que a obra tenha provocado o alagamento.

Itaquaquecetuba
Na ponte que divide São Paulo de Itaquaquecetuba, moradores do Jardim Fiorelo queimaram pneus na manhã de ontem para protestar contra o que consideram um descaso em relação ao seu problema: assim como no vizinho Jardim Pantanal, suas ruas estão alagadas há pelo menos um mês. Segundo relato dos moradores, o protesto reuniu 200 pessoas. A reportagem não localizou o prefeito Armando da Farmácia (PR) para comentar.
Eles reclamam que o bairro vizinho, por fazer parte de São Paulo, vem ganhando mais atenção da mídia e das autoridades. "Ninguém acha nosso prefeito, ele não vem aqui", disse a assistente administrativa desempregada Elisângela Cruz, 33. Três palmos de água invadiram sua casa, que registra as marcas nas paredes -descascadas pela força da chuva.


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