São Paulo, sexta-feira, 09 de fevereiro de 2007

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BARBARA GANCIA

Direita virou palavrão


Que tipo de avaliação poderá ter um prefeito que pertence a um partido de direita e é tido como autoritário?


NESTA SEMANA, entre atônita e mortificada, a população de São Paulo viu seu prefeito, Gilberto Kassab, do PFL, perder completamente as estribeiras diante das câmeras com um cidadão que protestava contra o atendimento em um posto de saúde.
Mais tarde, ficamos sabendo que o autor do protesto, um senhor de nome Kaiser Paiva, vinha a ser dono de uma pequena firma que confeccionava faixas e cartazes, e que ele teve de fechar as portas da empresa em razão da Lei Cidade Limpa, imposta recentemente pela prefeitura.
Pois antes de Gilberto Kassab esfriar a cabeça, tomar um chazinho de camomila e perceber o tamanho do estrago que havia causado, sua assessoria já aventava para a possibilidade de se tratar de um protesto premeditado. Segundo o pessoal do prefeito, o senhor Kaiser seria um agitador profissional.
Digamos que fosse mesmo (até agora, a dúvida permanece), e que ele estivesse a serviço da oposição, assim como estavam os agitadores que atazanaram o prefeito durante a inauguração da nova rua Oscar Freire e, depois, na comemoração do aniversário da cidade, na Praça da Sé. O que isso nos diz sobre o homem que administra a maior cidade do hemisfério sul e de quem pouco sabemos? Bem, no mínimo, que o engenheiro formado pela Poli Gilberto Kassab é do tipo de termocéfalo (cabeça quente) que cede a provocações. E isso é ruim, muito ruim para São Paulo.
Como bem lembrou a colega Dora Kramer, nesta semana, na rádio BandNews FM, a administração da ex-prefeita Marta Suplicy era bem avaliada pela população, mas a petista acabou perdendo a reeleição por conta de sua arrogância.
Agora imagine, ó, nobre leitor, o que pode ocorrer com os índices de aprovação de um prefeito que pertence a um partido de direita e que é identificado pela população como sendo autoritário.
Aliás, atualmente, ser de direita é mais "out" do que o umbigo da Globeleza. Ser conservador ou apenas não comungar com os devaneios anticapitalistas da esquerda significa ser automaticamente identificado com gente da laia do nada saudoso general Silvio Frota, com Erasmo Dias, Conte Lopes ou, sabe lá, até com Pinochet e Hitler.
Uma das heranças mais lamentáveis do regime militar é essa. Pegamos tamanho bode de fardas que, no Brasil dos dias de hoje, ser de esquerda é considerado natural, e ser de direita constitui uma aberração. Vá você, meu sensato leitor, tentar defender a economia de mercado nos salões por onde circula a elite intelectual. E se lhe der na veneta elogiar Stálin ou Fidel Castro, ninguém olhará torto para você. Mas ai de quem ousar dizer que Hugo Chávez não é um democrata.
Nesse sentido, a atitude despropositada de Gilberto Kassab contra um cidadão comum acaba adquirindo proporções catastróficas. Serve não apenas para reforçar o preconceito contra a direita, bem como para colocar em cheque todas as ações positivas da administração Kassab até agora. Pode escrever: de hoje em diante, as medidas do prefeito contra a poluição visual, o barulho e a poluição do ar passarão a ser encaradas como ações da elite insensível contra os pobres oprimidos.

barbara@uol.com.br


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