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Cicotti Júnior, vida e morte pela bola
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Chovia fraco no gramado
dos veteranos de Monte
Aprazível, que corriam desanimados pela iminente derrota para o Bady Bassitt. Polaco, do alto de seu 1,90 m,
apitava o jogo. Era sábado,
dia da última partida de uma
vida inteira de futebol.
Polaco era o apelido que
Celestino Cicotti Júnior, garoto loiro de olhos verdes, tinha já aos 15 anos, quando
pediu um emprego na farmácia. Lá ficou 26 anos, dia após
dia chegando às 8h para abrir
as portas, vender remédios e
fechá-las ao fim da tarde.
A paixão pelo futebol era
tanta -mais ainda pelo Palmeiras- que até no trabalho
a TV ficava ligada no futebol.
Findo o expediente, ele vestia o uniforme e ia para o
campo, toda noite. Mulher e
filha não podiam reclamar.
No fim de semana, o dia inteiro era para o esporte.
Naquele sábado, Polaco
chegou às 8h na farmácia.
Foi uma manhã cheia, de trabalho e de piadas, no ânimo
de quem pularia a noite de
Carnaval "no centrinho de
Monte". Saiu meio-dia, foi
para casa e, como sempre,
acabou no campo de futebol.
Fazia uns dois anos que começara a apitar partidas e já
era dos maiores nomes do time -amigo próximo do secretário de esportes da cidade. Jogava com sol e chuva.
Chuviscava naquele sábado em que os veteranos perdiam e discutiam o gol, quando o estrondo os derrubou,
como peões em um tabuleiro. O juiz ficou estirado no
chão, os olhos ainda abertos.
Um raio caíra sobre Polaco, que morreu naquele fatídico sábado, aos 41. Quem o
conhecia diria que "morreu
fazendo o que gostava".
obituario@folhasp.com.br
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