São Paulo, sábado, 09 de fevereiro de 2008

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Cicotti Júnior, vida e morte pela bola

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Chovia fraco no gramado dos veteranos de Monte Aprazível, que corriam desanimados pela iminente derrota para o Bady Bassitt. Polaco, do alto de seu 1,90 m, apitava o jogo. Era sábado, dia da última partida de uma vida inteira de futebol.
Polaco era o apelido que Celestino Cicotti Júnior, garoto loiro de olhos verdes, tinha já aos 15 anos, quando pediu um emprego na farmácia. Lá ficou 26 anos, dia após dia chegando às 8h para abrir as portas, vender remédios e fechá-las ao fim da tarde.
A paixão pelo futebol era tanta -mais ainda pelo Palmeiras- que até no trabalho a TV ficava ligada no futebol. Findo o expediente, ele vestia o uniforme e ia para o campo, toda noite. Mulher e filha não podiam reclamar. No fim de semana, o dia inteiro era para o esporte.
Naquele sábado, Polaco chegou às 8h na farmácia. Foi uma manhã cheia, de trabalho e de piadas, no ânimo de quem pularia a noite de Carnaval "no centrinho de Monte". Saiu meio-dia, foi para casa e, como sempre, acabou no campo de futebol.
Fazia uns dois anos que começara a apitar partidas e já era dos maiores nomes do time -amigo próximo do secretário de esportes da cidade. Jogava com sol e chuva.
Chuviscava naquele sábado em que os veteranos perdiam e discutiam o gol, quando o estrondo os derrubou, como peões em um tabuleiro. O juiz ficou estirado no chão, os olhos ainda abertos.
Um raio caíra sobre Polaco, que morreu naquele fatídico sábado, aos 41. Quem o conhecia diria que "morreu fazendo o que gostava".


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