São Paulo, terça-feira, 09 de fevereiro de 2010

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Alagados há 60 dias fazem protesto na prefeitura

Manifestação de moradores do Jardim Pantanal contou com apoio de parlamentares do PT e entrou em confronto com a PM

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Moradores da várzea do Tietê, área conhecida por Jardim Pantanal, foram ontem à sede da prefeitura, no centro, para protestar contra o que consideram "descaso do poder público com o sofrimento, a humilhação, a doença e a desesperança que atingem o povo alagado" (segundo panfleto distribuído no ato). Ontem completaram-se dois meses desde que o rio inundou a várzea, ocupada por centenas de casas pobres que ainda estão sob as águas.
Cerca de 400 pessoas, segundo os organizadores do protesto, ou 200, segundo a Polícia Militar, exigiram ser recebidos pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM), que não se encontrava no local, conforme o gabinete.
Parlamentares do PT, PC do B e PSOL, entre eles o senador Eduardo Suplicy e o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), apoiaram a manifestação.
Por volta das 14h30, soldados da PM e da Guarda Civil fecharam com grades metálicas a área em torno da prefeitura. Para afastar os manifestantes das portas do prédio, os soldados usaram spray de pimenta.
O vereador José Ferreira (Zelão), do PT, e dois ativistas tiveram queimaduras nos olhos e intoxicação. A PM disse que foi atacada a pedradas e que, por isso, o uso do gás.
Os moradores do Jardim Pantanal saíram em 15 ônibus fretados de vários pontos da zona leste alagada. Vários portavam garrafas cheias de água imunda, lodo e fezes, que diziam ter colhido no quintal de suas casas. A costureira Maria Zelia Sousa Andrade levou dois vidros de conserva: um tinha uma cobra d"água dentro, outro, centenas de larvas de mosquitos. Os moradores dizem que houve cotização entre eles para custear os ônibus.
"O subprefeito de São Miguel Paulista, Milton Persoli, disse que a gente estava mentindo ao dizer que achou cobras em casa. Trouxe esta para provar", disse.
A principal reivindicação dos manifestantes era "uma casa por outra casa". A enfermeira Ana Aparecida da Silveira, 51, explica: "A prefeitura quer que a gente saia de nossas casas em troca de um cheque de auxílio-aluguel no valor de R$ 2.000. Eu só saio da minha casa, que construí ao longo de anos e anos, se receber outra".
A prefeitura diz que só pagará desapropriação por imóveis em áreas particulares, que são 5% na região. Pelos demais, que ficam em áreas invadidas, não será pago nada além do auxílio-aluguel. Segundo a prefeitura, o benefício será dado até o recebimento de moradia definitiva.
Um grupo de parlamentares e moradores foi recebido pelo secretário de Relações Governamentais, Antonio Carlos Malufe. Ficou marcada reunião com Kassab na sexta-feira.
No início do ano, o prefeito fez um apelo ao presidente Lula para que o PT não explorasse politicamente as enchentes. Em telefonema, reclamou de parlamentares do PT que, diz ele, vinham incentivando os moradores do Pantanal a permanecer nas áreas afetadas pelas chuvas.
Um dos citados, o deputado estadual Adriano Diogo, estava no ato: "Tenho um trabalho histórico na zona leste. É inadmissível que o prefeito queira cercear minha participação e a de outros representantes numa manifestação pacífica, tranquila e democrática de um povo que está cansado de sofrer."


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