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Alagados há 60 dias fazem protesto na prefeitura
Manifestação de moradores do Jardim Pantanal contou com apoio de parlamentares do PT e entrou em confronto com a PM
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Moradores da várzea do Tietê, área conhecida por Jardim
Pantanal, foram ontem à sede
da prefeitura, no centro, para
protestar contra o que consideram "descaso do poder público
com o sofrimento, a humilhação, a doença e a desesperança
que atingem o povo alagado"
(segundo panfleto distribuído
no ato). Ontem completaram-se dois meses desde que o rio
inundou a várzea, ocupada por
centenas de casas pobres que
ainda estão sob as águas.
Cerca de 400 pessoas, segundo os organizadores do protesto, ou 200, segundo a Polícia
Militar, exigiram ser recebidos
pelo prefeito Gilberto Kassab
(DEM), que não se encontrava
no local, conforme o gabinete.
Parlamentares do PT, PC do
B e PSOL, entre eles o senador
Eduardo Suplicy e o deputado
federal Carlos Zarattini (PT-SP), apoiaram a manifestação.
Por volta das 14h30, soldados
da PM e da Guarda Civil fecharam com grades metálicas a
área em torno da prefeitura.
Para afastar os manifestantes
das portas do prédio, os soldados usaram spray de pimenta.
O vereador José Ferreira
(Zelão), do PT, e dois ativistas
tiveram queimaduras nos olhos
e intoxicação. A PM disse que
foi atacada a pedradas e que,
por isso, o uso do gás.
Os moradores do Jardim
Pantanal saíram em 15 ônibus
fretados de vários pontos da zona leste alagada. Vários portavam garrafas cheias de água
imunda, lodo e fezes, que diziam ter colhido no quintal de
suas casas. A costureira Maria
Zelia Sousa Andrade levou dois
vidros de conserva: um tinha
uma cobra d"água dentro, outro, centenas de larvas de mosquitos. Os moradores dizem
que houve cotização entre eles
para custear os ônibus.
"O subprefeito de São Miguel
Paulista, Milton Persoli, disse
que a gente estava mentindo ao
dizer que achou cobras em casa.
Trouxe esta para provar", disse.
A principal reivindicação dos
manifestantes era "uma casa
por outra casa". A enfermeira
Ana Aparecida da Silveira, 51,
explica: "A prefeitura quer que
a gente saia de nossas casas em
troca de um cheque de auxílio-aluguel no valor de R$ 2.000.
Eu só saio da minha casa, que
construí ao longo de anos e
anos, se receber outra".
A prefeitura diz que só pagará desapropriação por imóveis
em áreas particulares, que são
5% na região. Pelos demais, que
ficam em áreas invadidas, não
será pago nada além do auxílio-aluguel. Segundo a prefeitura, o
benefício será dado até o recebimento de moradia definitiva.
Um grupo de parlamentares
e moradores foi recebido pelo
secretário de Relações Governamentais, Antonio Carlos Malufe. Ficou marcada reunião
com Kassab na sexta-feira.
No início do ano, o prefeito
fez um apelo ao presidente Lula
para que o PT não explorasse
politicamente as enchentes. Em
telefonema, reclamou de parlamentares do PT que, diz ele, vinham incentivando os moradores do Pantanal a permanecer
nas áreas afetadas pelas chuvas.
Um dos citados, o deputado
estadual Adriano Diogo, estava
no ato: "Tenho um trabalho
histórico na zona leste. É inadmissível que o prefeito queira
cercear minha participação e a
de outros representantes numa
manifestação pacífica, tranquila e democrática de um povo
que está cansado de sofrer."
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