São Paulo, quarta-feira, 09 de fevereiro de 2011

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Camelô vende receita falsa de antibiótico

Prescrição forjada para medicamento, que desde novembro só pode ser vendido com indicação médica, custa R$ 30

Reportagem adquire receita falsa na rua e, a poucos metros do local, compra antibiótico em uma farmácia

JAMES CIMINO
DE SÃO PAULO

Camelôs vendem em São Paulo prescrições falsas para antibióticos, medicamentos para os quais a Anvisa exige receita médica desde novembro, com objetivo de frear o abuso de automedicação.
Quem tenta fugir de consulta médica para resolver uma amigdalite, por exemplo, paga em média R$ 30 pela prescrição ilegal no entorno da praça da República, da praça da Sé (região central) ou do Largo 13 (zona sul).
A receita forjada é oferecida discretamente pelos conhecidos "plaqueiros" de ruas centrais, como Barão de Itapetininga e São Bento.
A Folha esteve na sexta-feira passada na região e comprou, com dados pessoais falsos, uma receita de amoxicilina 500 mg. Poucos minutos depois, já estava com o remédio em mãos.
Ao ser abordado, o "plaqueiro" tira de uma sacola um bloco de receituário com carimbo de uma médica cujo registro no Cremesp é verdadeiro, e tem o cuidado de iniciar a fraude com o jargão médico "uso interno".
Embora pergunte nome, dosagem e posologia, o "vendedor" se confunde ao grafar o nome amoxicilina, o que poderia induzir o farmacêutico a fornecer outro remédio.
Mesmo com a receita rasurada, a reportagem comprou o remédio na drogaria Onofre da mesma rua.
À Folha a Onofre afirmou que "não há indícios visíveis de que a receita seria falsa". Além disso, diz que não pediu documento do cliente porque a Anvisa só tornará isso obrigatório em abril -a Anvisa, porém, diz que exigir documento já é obrigatório.

TARJA PRETA
Também é fácil de achar receita para medicação controlada, os famosos tarja preta. O documento foi oferecido, em branco, por R$ 50 na praça da República, em meio à circulação de policiais.
A única recomendação foi para não fazer a compra ali perto porque "eles [farmacêuticos] estão espertos".
De fato, uma farmacêutica da praça da República olhou a receita e cravou: "Mesmo que a gente tivesse Rivotril, você não ia conseguir comprar com esse xerox..." Na av. Angélica, no entanto, uma farmácia fez a venda.
Teve o cuidado de pedir identidade. Dessa vez, a reportagem preencheu a receita com dados verdadeiros.
Nenhum responsável pela farmácia foi localizado até o fechamento desta edição.

Colaborou IURI DE CASTRO TÔRRES


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