São Paulo, quarta-feira, 09 de fevereiro de 2011

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ANÁLISE

O ponto entre a automedicação desejável e a aventureira

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Além de escrever reportagens, existem dois motivos pelos quais as pessoas recorrem a traficantes de receitas: ou estão em busca de drogas que o médico não prescreveria ou não estão dispostas a passar pela consulta.
A primeira situação inclui gente atrás de remédios para fins recreativos ou de utilização controversa, como anfetaminas para perder peso.
Dá para imaginar que, sem as barreiras burocráticas, contingentes ainda maiores fariam experimentações duvidosas, mas a exigência de receita não impede o abuso.
Relatório de 2007 do governo dos EUA indica que o consumo de drogas lícitas é o que mais cresce entre jovens. Ele só perde para a maconha.
A situação número dois é a que podemos chamar de automedicação clássica. Seja por falta de recursos, tempo ou ambos, o sujeito prefere não passar por uma consulta. Por recomendação de terceiros ou por experiências passadas, imagina saber que droga de que necessita.
Apesar de estigmatizada pela propaganda oficial, a automedicação é em algum grau desejável. A OMS a descreve como "necessária" e com função complementar ao sistema de saúde, especialmente nos países pobres.
De fato, a última coisa de que o SUS precisa é agregar às filas dos serviços médicos todos os portadores de quadros virais menores e todas as dores de cabeça do país. A esmagadora maioria das moléstias que acometem a humanidade passa sozinha.
O desafio é encontrar o ponto ótimo que não onere o SUS com consultas desnecessárias nem incentive aventuras muito ousadas na automedicação. Quanto aos traficantes, enquanto houver restrições à compra e demanda pelas drogas, eles terão seu negócio assegurado.


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