São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2000


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MEIO AMBIENTE
Estado e município tentam ação conjunta na Rodrigo de Freitas, enquanto trocam acusações
Esgoto continua a poluir lagoa do Rio

FERNANDA DA ESCÓSSIA
FERNANDA PONTES
da Sucursal do Rio

Enquanto técnicos do governo do Estado e da Prefeitura do Rio de Janeiro faziam ontem uma reunião de bate-boca e promessas sobre a morte de peixes na lagoa Rodrigo de Freitas (zona sul do Rio), lixo e esgoto eram despejados no espelho d'água.
O rio dos Macacos, que passa pelo morro do mesmo nome (zona sul), uma comunidade carente sem esgoto, despeja na lagoa todo os dejetos dos barracos.
De domingo até ontem, foram retiradas da Rodrigo de Freitas 132 toneladas de peixes e crustáceos mortos. Foi o maior acidente ambiental em uma área nobre da zona sul, nos últimos sete anos.

Grupo executivo
Técnicos das administrações estadual e municipal formaram um grupo executivo para tratar do problema, mas a troca de acusações sobre a responsabilidade pelo acontecido continuou.
O Estado acusa a prefeitura de ter interrompido a dragagem do canal do Jardim de Alá, que liga o mar à lagoa, dificultando a oxigenação da água. Para o município, o despejo de esgotos na Rodrigo de Freitas é o principal motivo da mortandade de peixes.
O presidente da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos), Alberto Gomes, prometeu iniciar em dez dias o monitoramento da rede de esgoto da lagoa, para encontrar pontos clandestinos de despejo. A intenção é investir R$ 560 mil no trabalho, que deverá ser feito por robôs.
A Rio Águas, empresa municipal que faz a limpeza do canal, informou que vai fazer uma coleta semanal da água da lagoa para verificar o nível de poluição.
O presidente da Rio Águas, Carlos Dias, disse que o assoreamento (obstrução por areia ou por sedimentos quaisquer que provoca redução da correnteza) do Jardim de Alá não influi na qualidade da água e repetiu que a Cedae joga esgoto na lagoa. "Nossos exames indicaram que a salinidade da água da lagoa é zero, ou seja, o trânsito de água do mar pelo canal não influi em nada."

Cedae
O presidente da Cedae negou que a empresa -um ponto frágil do governo Anthony Garotinho (PDT), já responsabilizada pela poluição nas praias- jogue esgoto no local. "Se vão acusar a Cedae, então vamos falar da limpeza do canal. Não quero mais saber de quem é a culpa, quero uma solução", disse Gomes.
Garotinho anunciou que passará parte do dia amanhã na sede do órgão, "com a tesoura afiada para fazer com que a Cedae tenha recursos para investir".
A Rio Águas disse que, em 60 dias, receberá o estudo encomendado à empresa portuguesa LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Lisboa) apontando soluções para os problemas da lagoa.
Uma das alternativas em discussão é o alargamento do canal do Jardim de Alá de 10 metros para 30 metros.
O oceanógrafo David Zee, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, vai integrar o grupo de discussão sobre a lagoa.
Ele sugeriu a construção de "caixas de sedimentação" para evitar que as galerias de águas pluviais (que não são de esgoto, mas conduzem óleo, água suja e matéria orgânica) sejam lançadas diretamente na lagoa. "Nessas caixas, parte do material poluente ficaria depositado, reduzindo a sujeira na lagoa", afirmou.

Pescadores
Outra sugestão foi o pagamento de indenizações a 34 famílias que sobrevivem da pesca na região. A proposta será encaminhada ao governador Garotinho e ao prefeito do Rio de Janeiro, Luiz Paulo Conde (PFL).
O presidente da colônia de pescadores Z-13, Pedro Marins, disse que as famílias estão sem sua principal fonte de renda. Os pescadores estão ajudando na retirada dos peixes mortos. "Ainda não recebemos nada por esse trabalho, estamos gastando nossas economias e não sabemos o que vai acontecer", afirmou.


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