São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2004

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COMPORTAMENTO

Virgindade não é considerada importante

Brasileiro inicia vida sexual por volta dos 14 anos, diz pesquisa da Unesco

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pesquisa inédita sobre juventude e sexualidade, divulgada ontem pela Unesco em Brasília, aponta que jovens brasileiros começam a ter relação sexual com cerca de 14 anos e não atribuem importância à virgindade.
Por outro lado, mais de um terço dos alunos pesquisados (com idade entre 10 e 24 anos) acredita que seus parceiros têm relação sexual apenas com eles, sendo que 80% recusam a perspectiva de existir amor sem fidelidade. Em média, 70% indicam manter relação com apenas uma pessoa.
A pesquisa ouviu 16.422 alunos de 241 escolas públicas e particulares de 13 capitais mais o Distrito Federal. Eles representam um universo de 4,658 milhões de jovens entre 10 e 24 anos. Os questionários, aplicados em 2001, também foram direcionados a 4.532 pais e 3.099 professores deles.
A pesquisa mostra que, em quase todas as capitais, mais de 10% dos alunos entre 10 e 14 anos já tiveram relação sexual. A idade média em que tiveram a primeira relação varia, para meninos, de 13,9 (Cuiabá) a 14,5 anos (Florianópolis) e, para meninas, de 15 (Porto Alegre) a 16 anos (Belém).
Quando se trata de discriminação e violência, um dado preocupante está relacionado ao homossexualismo. Em média, 27% dos jovens (o que representaria 1,255 milhão de pessoas) dizem que não gostariam de ter um homossexual como colega de classe.
Ao classificar seis ações consideradas mais violentas, bater em homossexual aparece em terceiro lugar para as meninas, atrás de atirar em alguém e estuprar, e em sexto para os meninos, após uso de drogas, roubo e andar armado.
Ao abordar a gravidez, a pesquisa aponta que entre 12,2% (Florianópolis) e 36,9% (Recife) das alunas disseram já ter ficado grávida alguma vez. Pelas projeções feitas para o país, isso representaria 107.076 adolescentes.
"A sexualidade é tratada ou na aula de ciências ou por meio de palestras, que os alunos dizem não agüentar mais. Discutir sexualidade não é falar de espermatozóide, mas deixar o jovem dizer o que acha", diz Miriam Abramovay, uma das três responsáveis pelo estudo da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
A pesquisa aponta que, em média e no universo do estudo, as adolescentes ficam grávidas pela primeira vez aos 16 anos, o que é classificado com um "problema". Na faixa entre 10 e 14 anos, o índice de meninas que declaram ter ficado grávidas varia de 22,2% a 33,3%. Para Abramovay, tanto família como escola não atendem às necessidades dos jovens. Um dos empecilhos para o diálogo entre pais e filhos sobre sexo pode ser o nível de conhecimento, já que um terço diz não ter informações.
Em média, a cada dez jovens entrevistados, nove disseram utilizar algum tipo de método para evitar a gravidez. Entre 42% e 68,3% dos jovens afirmam alguém que já fez aborto.
Um dos dados preocupantes está relacionado ao uso do preservativo: em média, 8,7% dos jovens que têm relação sexual afirmam nunca ter usado camisinha. Segundo a pesquisadora Mary Garcia Castro, isso representaria, pela projeção, 808.624 adolescentes.


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