São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2006

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VIOLÊNCIA

Militares ampliam ação com lancha e helicóptero, além de barreiras nas saídas da cidade; moradores pedem saída das tropas

Sem êxito, Exército agora bloqueia estradas

Custódio Coimbra/Agência O Globo
Na ponte Rio-Niterói, soldado examina motor de carro durante operação para buscar armas roubadas de quartel no Rio


SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O Exército ampliou para municípios próximos ao Rio a ação militar em busca das armas roubadas de um quartel na zona norte. Bloqueios foram montados nas principais saídas da cidade. Em lancha emprestada pela Polícia Federal, os militares patrulham a baía de Guanabara. Pela primeira vez, helicópteros com soldados armados sobrevoaram áreas ocupadas. Como ocorre há seis dias, as armas não apareceram.
Embora o aparato tenha se tornado ainda mais visível, o Estado Maior do CML (Comando Militar do Leste) já começou a discutir, ainda que de modo reservado, a hipótese de os dez fuzis e a pistola não serem recuperados.
Caso isso ocorra, o mais provável é que as tropas voltem aos quartéis, e o serviço de inteligência do Exército continue a investigar o paradeiro do armamento, roubado na sexta passada.
Oficialmente, não há data para o fim da ocupação. O Exército considera a recuperação das armas "um ponto de honra", disse ontem o coronel Fernando Lemos, porta-voz do CML.
Ontem pela manhã, o Exército ocupou, com 200 homens da Brigada de Infantaria de Pára-quedistas, a favela do Metral (Vila Kennedy, zona oeste), reduto do CV (Comando Vermelho).
Na Metral, ocorreu a primeira apreensão de armamento em seis dias de ação. O Exército disse ter localizado em uma ruela dois coletes à prova de balas, uma granada e pacotes de TNT. Uma submetralhadora foi achada em uma casa no morro da Providência. Mas essas armas nada têm a ver com o material levado do quartel.
De manhã, os militares começaram a montar barreiras em pontos estratégicos de saída e chegada ao Rio. Com o auxílio da Polícia Rodoviária Federal, os bloqueios foram instalados em Niterói (15 km), após o pedágio da ponte; na rodovia Rio-Santos, na altura de Itaguaí (a 60 km do Rio); na Rio-Petrópolis (BR-040), em Duque de Caxias (Baixada Fluminense); e no belvedere da Dutra (Rio-SP), em Piraí (80 km do Rio).
Os dois helicópteros circularam pela manhã. Às 8h30, um deles, com dois soldados com fuzis e com as pernas para fora do aparelho, passaram ao lado da pista no sentido Rio da ponte Rio-Niterói. À tarde, só um helicóptero foi usado nas zonas norte e oeste.
O patrulhamento da baía de Guanabara ocorreu durante todo o dia. A lancha da PF circulou por pontos próximos às favelas da Ilha do Governador (zona norte), onde as quadrilhas são consideradas as mais bem armadas do Rio.
O Exército deixou ontem as favelas Vila dos Pinheiros (complexo da Maré) e Parque Alegria (Caju). Segundo o porta-voz do CML, não se confirmaram os indícios de que as armas estariam lá.
Pela primeira vez desde o início da ação, o CML admitiu que as tropas participaram de confrontos em favelas ocupadas. "Eles atiraram na nossa tropa, que reagiu", disse o porta-voz. Antes, ele dizia que os traficantes atiravam nos militares, que não revidavam.
Próximo à favela Parque Alegria, o tiroteio ocorreu quando, segundo o CML, um grupo de assaltantes, apoiado por traficantes, atacou passageiros presos no trânsito. Os militares notaram o arrastão e intervieram. Os traficantes teriam atirado, e os militares, reagido. Ninguém se feriu.
À noite, os militares trocaram tiros com traficantes do morro da Providência. Não houve feridos.
Em seguida, os moradores da Providência desceram e fizeram um protesto em frente à sede do CML, na central do Brasil, para pedir a retirada das tropas do morro. O relações-públicas do CML disse que o ato foi orquestrado por traficantes porque a ação atrapalha a venda de drogas.


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