São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2007

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Protesto deixa hospitais da Paulista ilhados

Engenheiro teve que dirigir pela calçada para levar à maternidade a mulher que entrou em trabalho de parto prematuro

Ambulâncias também tiveram acesso dificultado; manifestação na avenida foi contra a visita do presidente George W. Bush à cidade

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Percorrer ruas na contramão e andar com o carro sobre calçadas foi a forma que o engenheiro Fábio encontrou para chegar até a maternidade Pro-Matre, na região da avenida Paulista (zona central de São Paulo), na tarde de ontem. Sua mulher, com seis meses de gestação, entrou em trabalho de parto prematuro e teve que ser levada às pressas à maternidade. Nervoso, Fábio reclamava do caos em que se encontrava a região da Paulista, paralisada devido a uma manifestação contra a visita do presidente norte-americano, George W. Bush, à cidade.
"É um absurdo a cidade parar por conta de protesto", declarou ao entrar no hospital, localizado na rua Peixoto Gomide. Ao fundo se ouviam as explosões do conflito entre manifestantes e policiais na avenida Paulista. Cerca de dez minutos depois, chegou à maternidade o pastor evangélico Saulo Gomes de Oliveira para visitar o neto Lucca, que nascera anteontem. Ele demorou duas horas e meia para chegar ao hospital, trajeto que normalmente faria em 50 minutos. "Por que eles não vão protestar na Berrini [avenida Luís Carlos Berrini]? Não é para lá que o Bush vai?" A mesma indignação mostrava a professora Maria Aparecida Oliveira a caminho do hospital Nove de Julho. Ela iria visitar a mãe, que está com câncer, internada no hospital. "Demorei quase três horas. Imagine se estivesse com minha mãe dentro do carro", disse ela, que mora no Tatuapé.

Ambulâncias
A manifestação na avenida Paulista prejudicou também o acesso das ambulâncias aos hospitais da região. Ambulâncias que vinham do bairro Paraíso e da avenida 23 de Maio para hospitais como Clínicas, Incor e Beneficência Portuguesa perdiam até 20 minutos no congestionamento formado pela interdição da Paulista na altura da praça Oswaldo Cruz (Paraíso).
Um dos hospitais mais afetados foi o Santa Catarina, que fica no começo da avenida Paulista. O acesso ao estacionamento da unidade ficou fechado entre 15h e 17h. Pacientes que vinham do Paraíso em direção à Paulista tinham de caminhar pelo menos duas quadras para chegar ao Santa Catarina. Um motorista chegou a discutir com o fiscal de trânsito que fazia a interdição do acesso à avenida. "Estou com criança recém-nascida e doente no carro. Preciso chegar ao hospital. Quem vai se responsabilizar? É você?", reclamou.
Um funcionário do hospital explicou que, para chegar à unidade, o paciente ou visitante precisava estacionar o carro longe e caminhar. Ambulâncias tinham acesso pela rua Cincinato Braga. Muitos pacientes, já prevendo a confusão na região da avenida Paulista, desmarcaram suas consultas médicas ontem. Em uma clínica de acupuntura na alameda Fernão Cardim, por exemplo, 13 pessoas cancelaram suas consultas na tarde de ontem. "O paulistano já está precavido e foge de situações que vão lhe dar dor de cabeça, disse a médica Lilian Takeda.
A ginecologista Claudia Gazzo teve pelo menos três consultas canceladas, o equivalente a R$ 700. Outras pacientes tinham que marcar cirurgia e não apareceram no consultório para acertar os detalhes. "É uma dor de cabeça e um prejuízo que ninguém cobre."


Colaborou EVANDRO SPINELLI , da Reportagem Local


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