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Transponder do Legacy não tinha defeito
Conclusão da comissão aeronáutica que investiga queda do Boeing da Gol reforça possibilidade de falha humana no acidente
Informação foi transmitida ontem aos familiares das vítimas; segundo a FAB, foco passa a ser a análise da operação dos equipamentos
ELIANE CANTANHÊDE
EM SÃO PAULO
A comissão aeronáutica que
investiga as causas do maior
acidente da história da aviação
brasileira, em setembro do ano
passado, concluiu que o transponder, o TCAS (sistema anti-colisão) e o rádio do jato Legacy
funcionavam normalmente e
não sofreram nenhuma pane
até o choque com o Boeing da
Gol que resultou na morte de
154 pessoas. Isso reforça a possibilidade de falha humana.
A informação foi transmitida
ontem pelo presidente da comissão de investigação, coronel
Rufino Ferreira, aos familiares
das vítimas do Boeing, com
quem se reuniu na sede do Cenipa (o centro de investigações
e de prevenção de acidentes aeronáuticos), em Brasília.
Conforme nota distribuída
pela Aeronáutica depois da
reunião, os testes foram realizados nas instalações da Honeywell fabricante do transponder, e da ACSS, que produziu o TCAS, ambas nos EUA,
com acompanhamento de investigadores e técnicos brasileiros e norte-americanos.
Descartada a falha nos aparelhos, restam duas hipóteses para que o transponder estivesse
inoperante durante o vôo: ou
foi desligado, de propósito ou
inadvertidamente, ou houve alguma falha de instalação no Legacy, que saía da fábrica, a Embraer, e fazia seu primeiro vôo.
A frente de investigação sobre o sistema de rádio e navegação do Legacy sai agora da sub-comissão do fator material e
passa para a do fator operacional. Segundo a nota da Aeronáutica, "o foco passa a ser a
análise da operação dos equipamentos: se ela foi imprópria,
acidental ou incorreta".
Extra-oficialmente, a Aeronáutica trabalha com a hipótese de os pilotos norte-americanos Joe Lepore e Jan Paladino
terem desligado sem querer o
equipamento e não terem percebido a falha.
Os pilotos poderiam ter desligado o transponder inadvertidamente com um movimento
dos pés, sem se dar conta ao
longo do vôo que ele estava inoperante. Um dos motivos considerados pelos investigadores
é que eles usavam um laptop
durante o vôo. A tampa aberta
poderia, como hipótese, ter escondido o painel de comando,
onde fica o transponder.
As transcrições das conversas de Lepore e Paladino, registradas pela caixa-preta do Legacy e cujos principais pontos
foram publicados pela Folha,
mostram que em nenhum momento, até o choque, os dois falaram em desligar o transponder ou demonstraram saber
que ele estava inoperante.
A questão é chave para desvendar totalmente as causas do
acidente. O transponder aciona
o TCAS (sistema anti-colisão),
que avisa os pilotos, visual e sonoramente, em caso de aproximação perigosa de qualquer
objeto.
Para o presidente da Associação de Familiares e Amigos
das Vítimas do Vôo 1907, Jorge
André Cavalcante, a reunião foi
"muito positiva e esclarecedora". Segundo ele, descartar
qualquer falha de equipamento
"só confirma que eles [os pilotos do Legacy] têm muita responsabilidade no acidente".
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