São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2007

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Transponder do Legacy não tinha defeito

Conclusão da comissão aeronáutica que investiga queda do Boeing da Gol reforça possibilidade de falha humana no acidente

Informação foi transmitida ontem aos familiares das vítimas; segundo a FAB, foco passa a ser a análise da operação dos equipamentos

ELIANE CANTANHÊDE
EM SÃO PAULO

A comissão aeronáutica que investiga as causas do maior acidente da história da aviação brasileira, em setembro do ano passado, concluiu que o transponder, o TCAS (sistema anti-colisão) e o rádio do jato Legacy funcionavam normalmente e não sofreram nenhuma pane até o choque com o Boeing da Gol que resultou na morte de 154 pessoas. Isso reforça a possibilidade de falha humana.
A informação foi transmitida ontem pelo presidente da comissão de investigação, coronel Rufino Ferreira, aos familiares das vítimas do Boeing, com quem se reuniu na sede do Cenipa (o centro de investigações e de prevenção de acidentes aeronáuticos), em Brasília.
Conforme nota distribuída pela Aeronáutica depois da reunião, os testes foram realizados nas instalações da Honeywell fabricante do transponder, e da ACSS, que produziu o TCAS, ambas nos EUA, com acompanhamento de investigadores e técnicos brasileiros e norte-americanos.
Descartada a falha nos aparelhos, restam duas hipóteses para que o transponder estivesse inoperante durante o vôo: ou foi desligado, de propósito ou inadvertidamente, ou houve alguma falha de instalação no Legacy, que saía da fábrica, a Embraer, e fazia seu primeiro vôo.
A frente de investigação sobre o sistema de rádio e navegação do Legacy sai agora da sub-comissão do fator material e passa para a do fator operacional. Segundo a nota da Aeronáutica, "o foco passa a ser a análise da operação dos equipamentos: se ela foi imprópria, acidental ou incorreta".
Extra-oficialmente, a Aeronáutica trabalha com a hipótese de os pilotos norte-americanos Joe Lepore e Jan Paladino terem desligado sem querer o equipamento e não terem percebido a falha.
Os pilotos poderiam ter desligado o transponder inadvertidamente com um movimento dos pés, sem se dar conta ao longo do vôo que ele estava inoperante. Um dos motivos considerados pelos investigadores é que eles usavam um laptop durante o vôo. A tampa aberta poderia, como hipótese, ter escondido o painel de comando, onde fica o transponder.
As transcrições das conversas de Lepore e Paladino, registradas pela caixa-preta do Legacy e cujos principais pontos foram publicados pela Folha, mostram que em nenhum momento, até o choque, os dois falaram em desligar o transponder ou demonstraram saber que ele estava inoperante.
A questão é chave para desvendar totalmente as causas do acidente. O transponder aciona o TCAS (sistema anti-colisão), que avisa os pilotos, visual e sonoramente, em caso de aproximação perigosa de qualquer objeto.
Para o presidente da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Vôo 1907, Jorge André Cavalcante, a reunião foi "muito positiva e esclarecedora". Segundo ele, descartar qualquer falha de equipamento "só confirma que eles [os pilotos do Legacy] têm muita responsabilidade no acidente".


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