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Teste mostra que fumaça de incenso é prejudicial à saúde
Avaliação de cinco marcas feitas pela Pro Teste mostra presença de benzeno -substância cancerígena- e formol
Surpresos com o resultado do estudo, médicos aconselham população a evitar se expor ao produto, que pode causar alergias
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Usado desde a Antigüidade
com sentido de purificação e
proteção, o incenso acaba de
receber sinal vermelho da Pro
Teste, a Associação Brasileira
de Defesa do Consumidor. Cinco marcas avaliadas mostram
que daquela fumacinha, aparentemente inocente, exalam
substâncias altamente tóxicas.
Queimando um incenso todos os dias, por exemplo, a pessoa inala a mesma quantidade
de benzeno -substância cancerígena- contida em três cigarros, ou seja, em torno de 180
microgramas por metro cúbico.
Há também alta concentração
de formol, cerca de 20 microgramas por metro cúbico, que
pode irritar as mucosas.
As substâncias nem de longe
lembram as especiarias aromáticas com as quais o incenso era
fabricado no passado, como
gálbano, estoraque, onicha e
olíbano. Se há uma leve semelhança, ela reside na forma obscura da fabricação. No passado,
o incenso era preparado secretamente por sacerdotes.
Hoje, o consumidor também
não é informado como esses
produtos são feitos e quais
substâncias está inalando. O
motivo é simples: por falta de
regulamentação própria, os fabricantes de incenso não são
obrigados a fazer isso.
Nas cinco marcas avaliadas
(Agni Zen, Big Bran, Golden,
Hem e Mahalakshimi), todas
indianas, não há sequer o nome
do distribuidor brasileiro na
embalagem. Muito menos a
descrição de quais substâncias
compõem o produto. A Folha
tentou localizar as empresas,
por meio dos nomes dos incensos, mas, assim como a Pro
Teste, não teve sucesso.
A avaliação foi feita a partir
da simulação do uso em ambiente parecido com uma sala.
Segundo a Pro Teste, foi medida a emissão de poluentes
VOCs (compostos orgânicos
voláteis) e de substâncias passíveis de causar alergias, como
benzeno e formol. As concentrações foram medidas após
meia hora do acendimento.
Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Pro Teste
e colunista da Folha, alerta que
os aromatizadores de ambiente, como o incenso, são vendidos sem regulamentação ou
fiscalização, o que representa
perigo à saúde.
"Os consumidores pensam
que se trata de produtos inofensivos, que trazem harmonia
e, na verdade, estão inalando
substâncias altamente tóxicas
e até cancerígenas."
A Pro Teste reivindica que a
Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) faça um
estudo sobre o impacto dos
produtos na saúde e elabore regulamentação para a produção,
importação e venda no Brasil.
Consumidora
"Estou surpresa. Acendo incensos diariamente há 20 anos
no momento em que faço minhas preces no altar budista
que tenho na sala. É uma forma
de agradecimento às divindades e de limpeza energética. Jamais pensei que eles pudessem
fazer mais mal do que bem", diz
Renata Sobreira Uliana, 49.
O resultado dos testes também surpreendeu os médicos.
"Nunca li nenhum artigo científico a respeito disso, mas é um
dado muito interessante, que
vai fazer a gente repensar a forma de liberar esse tipo de produto", diz José Eduardo Delfini
Cançado, presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia.
Clystenes Soares Silva, pneumologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo),
explica que nem pessoas predispostas a desenvolver quadros alérgicos (como rinite e
asma) nem pessoas saudáveis
devem se expor aos incensos.
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