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Família de vítima contribui para apuração
Parentes de deficiente mental encontrado decapitado ajudou polícia na investigação do grupo de extermínio "Highlanders"
Ameaçados de morte, eles afirmam que Carlinhos foi levado em carro da PM e achado morto em Itapecerica da Serra no dia seguinte
Rafael Hupsel/Folha Imagem
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Enterro de Antônio Carlos Alves, o Carlinhos, achado decapitado em Itapecerica; indício de que tenha sido vítima dos "Highlanders"
DA REPORTAGEM LOCAL
A ação dos familiares do deficiente mental Antonio Carlos
Silva Alves, 31, o Carlinhos, foi
um dos fatores que contribuíram para a apuração na qual a
Polícia Civil constatou a existência de um grupo de extermínio na Polícia Militar.
Por questões de segurança, a
Folha não revela os nomes dos
parentes de Carlinhos, que foram ameaçados de morte. "Ligaram na minha casa e disseram que, caso eu não me cale,
vão arrancar minha cabeça
também", diz a irmã de Alves.
"Corpo de homem, mas com
idade mental de uma criança de
oito ou nove anos", como é descrito pela mãe, Carlinhos trabalhava como pintor. Ganhava
de R$ 10 a R$ 15 por dia e ajudava a mãe a reforçar a renda
mensal de R$ 800 da casa.
Em outubro passado, o pintor começou a dividir os trocados com a mãe. Queria comprar
calça de moletom e camiseta
novas. As peças custariam R$
50 e eram para o Natal.
Mas o projeto foi interrompido na tarde de 8 de outubro,
quando ele voltava para casa
cantando "Lacionais" (como
ele dizia Racionais MC's, grupo
de rap do qual era fã) e com a
roupa marcada por respingos
da tinta que aplicara ao longo
do dia na parede da casa de algum vizinho do Jardim Capela
(zona sul de São Paulo).
Naquele tarde, Carlinhos foi
visto sendo capturado e colocado dentro do carro n.º 37104 da
PM, onde estavam os PMs Moisés Alves Santos, Joaquim Aleixo Neto, Anderson dos Santos
Sales e Rodolfo da Silva Vieira,
apontado como protegido do
coronel Eduardo Félix, terceiro
na hierarquia da PM.
Sua irmã viu quando o carro
da PM passou com alguém sentado no banco traseiro, no meio
de dois PMs. "Nem imaginava
que era o meu irmão, já que forçavam a pessoa para baixo." No
dia seguinte, Carlinhos foi
achado decapitado e sem as
mãos em Itapecerica da Serra
(Grande São Paulo).
Mesmo reconhecido pelos
parentes, Carlinhos foi enterrado como indigente no dia 15
de outubro. No último dia 3, depois de exames de DNA comprovarem sua identidade, o
corpo de Carlinhos foi transferido para outro cemitério. No
segundo enterro, a mãe colocou no caixão as roupas que ele
pretendia usar no Natal.
Mas o policial Ivan Jerônimo
da Silva, chefe da equipe que investiga os "highlanders", não
está satisfeito. Semana passada, a mãe de Carlinhos ligou para perguntar se ainda há chance
de achar a cabeça e as mãos do
filho. Ontem, Silva recebeu a
informação de que o pai de José
Carlos da Silva Junior, 15, uma
das vítimas do grupo, teria sido
ameaçado de morte por PMs.
(ANDRÉ CARAMANTE)
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