São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

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Família de vítima contribui para apuração

Parentes de deficiente mental encontrado decapitado ajudou polícia na investigação do grupo de extermínio "Highlanders"

Ameaçados de morte, eles afirmam que Carlinhos foi levado em carro da PM e achado morto em Itapecerica da Serra no dia seguinte


Rafael Hupsel/Folha Imagem
Enterro de Antônio Carlos Alves, o Carlinhos, achado decapitado em Itapecerica; indício de que tenha sido vítima dos "Highlanders"

DA REPORTAGEM LOCAL

A ação dos familiares do deficiente mental Antonio Carlos Silva Alves, 31, o Carlinhos, foi um dos fatores que contribuíram para a apuração na qual a Polícia Civil constatou a existência de um grupo de extermínio na Polícia Militar.
Por questões de segurança, a Folha não revela os nomes dos parentes de Carlinhos, que foram ameaçados de morte. "Ligaram na minha casa e disseram que, caso eu não me cale, vão arrancar minha cabeça também", diz a irmã de Alves.
"Corpo de homem, mas com idade mental de uma criança de oito ou nove anos", como é descrito pela mãe, Carlinhos trabalhava como pintor. Ganhava de R$ 10 a R$ 15 por dia e ajudava a mãe a reforçar a renda mensal de R$ 800 da casa.
Em outubro passado, o pintor começou a dividir os trocados com a mãe. Queria comprar calça de moletom e camiseta novas. As peças custariam R$ 50 e eram para o Natal.
Mas o projeto foi interrompido na tarde de 8 de outubro, quando ele voltava para casa cantando "Lacionais" (como ele dizia Racionais MC's, grupo de rap do qual era fã) e com a roupa marcada por respingos da tinta que aplicara ao longo do dia na parede da casa de algum vizinho do Jardim Capela (zona sul de São Paulo).
Naquele tarde, Carlinhos foi visto sendo capturado e colocado dentro do carro n.º 37104 da PM, onde estavam os PMs Moisés Alves Santos, Joaquim Aleixo Neto, Anderson dos Santos Sales e Rodolfo da Silva Vieira, apontado como protegido do coronel Eduardo Félix, terceiro na hierarquia da PM.
Sua irmã viu quando o carro da PM passou com alguém sentado no banco traseiro, no meio de dois PMs. "Nem imaginava que era o meu irmão, já que forçavam a pessoa para baixo." No dia seguinte, Carlinhos foi achado decapitado e sem as mãos em Itapecerica da Serra (Grande São Paulo).
Mesmo reconhecido pelos parentes, Carlinhos foi enterrado como indigente no dia 15 de outubro. No último dia 3, depois de exames de DNA comprovarem sua identidade, o corpo de Carlinhos foi transferido para outro cemitério. No segundo enterro, a mãe colocou no caixão as roupas que ele pretendia usar no Natal.
Mas o policial Ivan Jerônimo da Silva, chefe da equipe que investiga os "highlanders", não está satisfeito. Semana passada, a mãe de Carlinhos ligou para perguntar se ainda há chance de achar a cabeça e as mãos do filho. Ontem, Silva recebeu a informação de que o pai de José Carlos da Silva Junior, 15, uma das vítimas do grupo, teria sido ameaçado de morte por PMs. (ANDRÉ CARAMANTE)


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