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MORTE EM PERDIZES
Segundo acusação, inscrição em muro de imóvel das vítimas era recado a vigia que diz ter visto Gil Rugai
Casa é pichada com nome de testemunha
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos muros da casa onde
moravam e foram mortos o empresário Luiz Rugai, 40, e sua mulher, Alessandra, 33, amanheceu
pichado na sexta-feira da semana
passada e foi rapidamente pintado por vizinhos do casal.
Nele estava escrito o apelido da
única testemunha do caso, um
dos vigias do quarteirão, com
uma cifrada referência ao assassinato. "Datena, cuidado, o casal já
morreu", seria a frase exata.
O fato chamou a atenção da polícia e assustou o rapaz, segundo o
qual o apelido é conhecido apenas
por algumas poucas pessoas. No
dia anterior à pichação, ele havia
prestado depoimento e dito ter
visto o filho mais velho de Rugai,
Gil, 21, deixar o imóvel, com outra
pessoa, logo após o crime. O suposto comparsa não foi identificado e, portanto, segue solto.
O medo do rapaz, dizem a Polícia Civil e o Ministério Público,
aumentou três dias depois. No
domingo passado, como a Folha
informou ontem, a cabine na qual
o vigia trabalhava foi incendiada
pouco antes das 18h, seu horário
de entrada. Naquele dia, porém,
ele chegou só às 21h.
Para investigar se os fatos têm ligação com o depoimento do vigia
ou se não passam de uma brincadeira de muito mau gosto, o departamento de homicídios instaurou um inquérito. O crime a
apurar é a eventual "coação no
curso do processo" -ou seja, intimidação de testemunha.
"O fato é que ninguém quer se
envolver com o caso, e a única
pessoa que se envolveu está sofrendo pressão psicológica muito
grande", disse a promotora Mildred Gonzalez Campi, designada
para acompanhar a apuração.
Segundo ela, o vigia não consegue dar detalhes da fisionomia do
suposto comparsa de Gil, pois teria fixado os olhos no universitário. Diante da dificuldade, o caminho para a elaboração do retrato
falado do foragido será a exclusão: com as poucas características
fornecidas pelo rapaz, os peritos
farão vários desenhos e esperam
que ele consiga apontar o que
mais se parece com o suspeito.
A Polícia Civil e o Ministério Público dizem ter oferecido proteção ao vigia. Ele, porém, teria recusado a oferta por não querer ficar longe da família.
A defesa de Gil questiona o depoimento da testemunha, afirmando que não era possível ver
alguém deixando a casa de onde
estava a guarita -hoje, inexistente.
Última perícia
Uma equipe do DHPP fez ontem, das 11h às 15h, a quinta e última perícia na casa da rua Atibaia,
antes de liberá-la aos familiares.
Até carros e bueiros foram checados, mas a arma do crime -uma
pistola 380- não foi achada.
Os policiais deixaram a casa levando a tampa de um baú de madeira do quarto de Gil -perfurada por um tiro- e a guarnição da
única porta arrombada no crime.
Elas devem servir, respectivamente, para a perícia tentar esclarecer quando foi feito o disparo
que atingiu o baú e para a acusação demonstrar a violência do
chute que arrombou a porta. A
defesa de Gil afirma que o disparo
pode ser uma prova plantada para
incriminar o rapaz.
"Também teremos um laudo de
visibilidade a partir da cabine do
vigia. Será feito à noite e com chuva. A defesa não quer provas técnicas? Ela as terá", disse Campi.
Em defesa de Gil
A única pessoa ouvida ontem
pelo DHPP foi a videomaker Maristela Grecco, 40, mãe de Gil. Ela
falou por duas horas e, segundo o
relato dos próprios policiais, inocentou veementemente o filho,
fruto de um casamento de cinco
anos com Rugai, de quem se separara havia 16 anos.
Dizendo ser confidente de Gil,
negou que o filho já tenha tido
uma arma de verdade e afirmou
ter certeza de que o primogênito
não tem nenhuma relação com a
morte do pai.
Após o depoimento, Maristela
foi visitar o rapaz no 77º DP, onde
ele está preso. No aniversário do
filho, ela o viu por 30 minutos.
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