São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2004

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MORTE EM PERDIZES

Segundo acusação, inscrição em muro de imóvel das vítimas era recado a vigia que diz ter visto Gil Rugai

Casa é pichada com nome de testemunha

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos muros da casa onde moravam e foram mortos o empresário Luiz Rugai, 40, e sua mulher, Alessandra, 33, amanheceu pichado na sexta-feira da semana passada e foi rapidamente pintado por vizinhos do casal.
Nele estava escrito o apelido da única testemunha do caso, um dos vigias do quarteirão, com uma cifrada referência ao assassinato. "Datena, cuidado, o casal já morreu", seria a frase exata.
O fato chamou a atenção da polícia e assustou o rapaz, segundo o qual o apelido é conhecido apenas por algumas poucas pessoas. No dia anterior à pichação, ele havia prestado depoimento e dito ter visto o filho mais velho de Rugai, Gil, 21, deixar o imóvel, com outra pessoa, logo após o crime. O suposto comparsa não foi identificado e, portanto, segue solto.
O medo do rapaz, dizem a Polícia Civil e o Ministério Público, aumentou três dias depois. No domingo passado, como a Folha informou ontem, a cabine na qual o vigia trabalhava foi incendiada pouco antes das 18h, seu horário de entrada. Naquele dia, porém, ele chegou só às 21h.
Para investigar se os fatos têm ligação com o depoimento do vigia ou se não passam de uma brincadeira de muito mau gosto, o departamento de homicídios instaurou um inquérito. O crime a apurar é a eventual "coação no curso do processo" -ou seja, intimidação de testemunha.
"O fato é que ninguém quer se envolver com o caso, e a única pessoa que se envolveu está sofrendo pressão psicológica muito grande", disse a promotora Mildred Gonzalez Campi, designada para acompanhar a apuração.
Segundo ela, o vigia não consegue dar detalhes da fisionomia do suposto comparsa de Gil, pois teria fixado os olhos no universitário. Diante da dificuldade, o caminho para a elaboração do retrato falado do foragido será a exclusão: com as poucas características fornecidas pelo rapaz, os peritos farão vários desenhos e esperam que ele consiga apontar o que mais se parece com o suspeito.
A Polícia Civil e o Ministério Público dizem ter oferecido proteção ao vigia. Ele, porém, teria recusado a oferta por não querer ficar longe da família.
A defesa de Gil questiona o depoimento da testemunha, afirmando que não era possível ver alguém deixando a casa de onde estava a guarita -hoje, inexistente.

Última perícia
Uma equipe do DHPP fez ontem, das 11h às 15h, a quinta e última perícia na casa da rua Atibaia, antes de liberá-la aos familiares. Até carros e bueiros foram checados, mas a arma do crime -uma pistola 380- não foi achada.
Os policiais deixaram a casa levando a tampa de um baú de madeira do quarto de Gil -perfurada por um tiro- e a guarnição da única porta arrombada no crime.
Elas devem servir, respectivamente, para a perícia tentar esclarecer quando foi feito o disparo que atingiu o baú e para a acusação demonstrar a violência do chute que arrombou a porta. A defesa de Gil afirma que o disparo pode ser uma prova plantada para incriminar o rapaz.
"Também teremos um laudo de visibilidade a partir da cabine do vigia. Será feito à noite e com chuva. A defesa não quer provas técnicas? Ela as terá", disse Campi.

Em defesa de Gil
A única pessoa ouvida ontem pelo DHPP foi a videomaker Maristela Grecco, 40, mãe de Gil. Ela falou por duas horas e, segundo o relato dos próprios policiais, inocentou veementemente o filho, fruto de um casamento de cinco anos com Rugai, de quem se separara havia 16 anos.
Dizendo ser confidente de Gil, negou que o filho já tenha tido uma arma de verdade e afirmou ter certeza de que o primogênito não tem nenhuma relação com a morte do pai.
Após o depoimento, Maristela foi visitar o rapaz no 77º DP, onde ele está preso. No aniversário do filho, ela o viu por 30 minutos.


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