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Curva do Copan é a linha do terreno, diz Niemeyer
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO
"Isso é uma bobagem", costumava responder Oscar Niemeyer,
lacônico, quando questionado sobre a época em que projetou uma
série de edifícios em São Paulo
nos anos 50, sendo o Copan o
principal deles. No entanto o
maior arquiteto brasileiro, 98
anos completados em dezembro,
já se dispõe a comentar as realizações daquele período na cidade.
Em entrevista à Folha por telefone e depois em seu escritório no
Rio, de onde se visualiza a praia de
Copacabana do alto, Niemeyer
afirma que a forma do Copan, antes de ser um elogio à curva
-marca do arquiteto-, apenas
acompanhava as dimensões do
terreno localizado nas proximidades da avenida Ipiranga. "A arquitetura é feita de programas, do
terreno e da invenção do arquiteto. Quando eu fiz o Copan, a rua
era curva, e ele [o prédio] seguiu
essa curva. Nada mais natural."
E o que opina Oscar Niemeyer
sobre a forma como foi construído o Copan? "Foi um projeto que
eu fiz com outros colegas para São
Paulo, convidado pelo Frias [Octavio Frias de Oliveira, publisher
da Folha, que deu impulso inicial
ao projeto de construção e comercialização do Copan]. É da amizade com Frias que eu me lembro
quando falam do Copan. É um
prédio de apartamentos, simples.
É um prédio que está bem."
Estudiosos da obra de Niemeyer
dizem que os trabalhos do início
da década de 50, empreendimentos imobiliários realizados durante o "boom" da construção em
São Paulo, sofreram mudanças,
muitas vezes sem que o autor tivesse sido consultado.
Essas incisões descaracterizaram as idéias originais. No caso
do Copan, isso ocorreu principalmente a partir de 1958, quando o
Bradesco assumiu a obra após a
falência da empresa originalmente responsável pelo projeto. Niemeyer, decepcionado, chegou a
expressar ao amigo Carlos Lemos
que os projetos dessa época não
são de sua criação -Lemos recebeu procuração para tocar o Copan depois que Niemeyer foi a
Brasília, mas também foi voto
vencido em alterações no projeto.
Os andares de um bloco, que
haviam sido projetados para abrigar um único apartamento, foram
divididos em quatro para facilitar
a comercialização dos imóveis.
Uma rampa imaginada para a
frente do Copan foi eliminada por
decisão dos engenheiros.
E o que diz o criador sobre as alterações no projeto original? "Foram pequenos detalhes. Indiferente. Mas isso foi tão longe [no
tempo]..." O senhor não quer comentá-las? "Não... quero discutir
a [remoção de parte da] marquise
do [parque] Ibirapuera. Aliás
também cansei de discutir isso."
Oscar Niemeyer segue trabalhando, agora só pelas manhãs, e
reserva a tarde para receber os
amigos -exceto às terças, quando participa de discussões filosóficas. Seu mais recente projeto,
um complexo cultural de 222 mil
m2, é disputado pelas cidades espanholas de Oviedo e Avilés, cujos prefeitos estão se digladiando
para abrigar a criação do arquiteto. Talvez seja certo dizer que nem
passa pela cabeça de qualquer um
dos dois alterar as linhas desenhadas pelo arquiteto.
(SOS)
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