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Bazar causa tumulto, e até cueca de Abadía vira atração
Procura por bens de traficante foi tão grande que a entrada do Jockey, em SP, teve de ser fechada minutos após a abertura
Para conter a revolta de quem foi barrado, a polícia chegou a usar gás pimenta
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
A notícia de que os bens de
um megatraficante de drogas
seriam vendidos num brechó
aberto ao público correu São
Paulo e levou ao Jockey Club
gente disposta a tudo por produtos finos a preços tentadores. Até as cuecas do traficante
foram postas à venda, por R$ 1.
Houve quem chegou de madrugada, para garantir os primeiros lugares da fila. Houve
quem, na tentativa desesperada de entrar, tentou derrubar o
portão, brigou com a polícia e
levou gás pimenta no rosto.
Houve quem furou a fila, em
carro importado, entrando pelos fundos. E houve até quem
pulou o muro do Jockey Club.
Foram expostos mais de
2.000 itens -roupas, sapatos,
malas, brinquedos, eletrodomésticos, televisores, rádios,
computadores, sofás, quadros,
colchões, travesseiros, lençóis e
aparelhos de jantar.
Tudo pertencia ao traficante
colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía e à mulher dele, Yéssica. Procurado internacionalmente, ele foi descoberto no
Brasil no ano passado e condenado a 30 anos de prisão.
A organização do brechó esperava não mais que 300 pessoas, mas foi surpreendida por
5.000. Por isso, a entrada ficou
poucos minutos aberta, o suficiente para 500 pessoas entrarem. Revoltadas, as demais tiveram de voltar para casa.
"O que eu posso fazer se as
pessoas têm fascinação por esse tipo de coisa? Não há bens
suficientes para toda a demanda", disse Lucien Belmonte,
presidente da Fundação Julita
e um dos organizadores.
Os bens que garantiam o conforto de Abadía no Brasil foram
oferecidos por até 30% do valor
original. Um microondas saiu
por R$ 100. Uma camiseta de
grife, por R$ 10. Cada DVD da
coleção do traficante custou R$
7. Pelo mesmo preço se comprava uma Bíblia em espanhol.
Guardadas numa caixa, as
cuecas do colombiano foram
disputadas por ricos e pobres.
Em menos de duas horas, as
300 peças já estavam esgotadas. Cada uma custava R$ 1.
"Eu tinha separado algumas
cuecas para levar para os meus
filhos, mas deixei num canto e
alguém levou", queixou-se a
dona-de-casa Marisete Santos,
43. Ao lado, Paola Pádua, 27,
que se identificou como
"stylist", pedia ajuda a uma
amiga para ver se havia alguma
cueca branca perdida no meio
das camisetas.
Ninguém se importava com o
fato de aqueles produtos terem
sido usados por um criminoso
acusado até de homicídio. "É só
jogar sal grosso e lavar com
água benta", recomendava uma
vendedora.
As pessoas deixaram o
Jockey carregando imensas sacolas de plástico. Uma fila de
táxis se formou na entrada,
atravancando o trânsito. Fiscais multaram mais de 20 carros que estavam estacionados
em local proibido.
Foi a primeira vez que a Justiça brasileira determinou a
venda em bazar de bens que
pertenceram a um traficante. O
dinheiro arrecadado será doado a instituições de caridade.
O brechó deveria continuar
aberto até o domingo. No entanto, por causa do sucesso das
vendas, os organizadores não
tinham certeza se teriam fôlego
para tantos dias.
Bens mais caros de Abadía,
como relógios, canetas, TVs de
plasma, bicicletas e carros, irão
a leilão hoje à noite, no Jockey.
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