São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2008

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Bazar causa tumulto, e até cueca de Abadía vira atração

Procura por bens de traficante foi tão grande que a entrada do Jockey, em SP, teve de ser fechada minutos após a abertura

Para conter a revolta de quem foi barrado, a polícia chegou a usar gás pimenta

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

A notícia de que os bens de um megatraficante de drogas seriam vendidos num brechó aberto ao público correu São Paulo e levou ao Jockey Club gente disposta a tudo por produtos finos a preços tentadores. Até as cuecas do traficante foram postas à venda, por R$ 1.
Houve quem chegou de madrugada, para garantir os primeiros lugares da fila. Houve quem, na tentativa desesperada de entrar, tentou derrubar o portão, brigou com a polícia e levou gás pimenta no rosto. Houve quem furou a fila, em carro importado, entrando pelos fundos. E houve até quem pulou o muro do Jockey Club.
Foram expostos mais de 2.000 itens -roupas, sapatos, malas, brinquedos, eletrodomésticos, televisores, rádios, computadores, sofás, quadros, colchões, travesseiros, lençóis e aparelhos de jantar.
Tudo pertencia ao traficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía e à mulher dele, Yéssica. Procurado internacionalmente, ele foi descoberto no Brasil no ano passado e condenado a 30 anos de prisão.
A organização do brechó esperava não mais que 300 pessoas, mas foi surpreendida por 5.000. Por isso, a entrada ficou poucos minutos aberta, o suficiente para 500 pessoas entrarem. Revoltadas, as demais tiveram de voltar para casa.
"O que eu posso fazer se as pessoas têm fascinação por esse tipo de coisa? Não há bens suficientes para toda a demanda", disse Lucien Belmonte, presidente da Fundação Julita e um dos organizadores.
Os bens que garantiam o conforto de Abadía no Brasil foram oferecidos por até 30% do valor original. Um microondas saiu por R$ 100. Uma camiseta de grife, por R$ 10. Cada DVD da coleção do traficante custou R$ 7. Pelo mesmo preço se comprava uma Bíblia em espanhol.
Guardadas numa caixa, as cuecas do colombiano foram disputadas por ricos e pobres. Em menos de duas horas, as 300 peças já estavam esgotadas. Cada uma custava R$ 1.
"Eu tinha separado algumas cuecas para levar para os meus filhos, mas deixei num canto e alguém levou", queixou-se a dona-de-casa Marisete Santos, 43. Ao lado, Paola Pádua, 27, que se identificou como "stylist", pedia ajuda a uma amiga para ver se havia alguma cueca branca perdida no meio das camisetas.
Ninguém se importava com o fato de aqueles produtos terem sido usados por um criminoso acusado até de homicídio. "É só jogar sal grosso e lavar com água benta", recomendava uma vendedora.
As pessoas deixaram o Jockey carregando imensas sacolas de plástico. Uma fila de táxis se formou na entrada, atravancando o trânsito. Fiscais multaram mais de 20 carros que estavam estacionados em local proibido.
Foi a primeira vez que a Justiça brasileira determinou a venda em bazar de bens que pertenceram a um traficante. O dinheiro arrecadado será doado a instituições de caridade.
O brechó deveria continuar aberto até o domingo. No entanto, por causa do sucesso das vendas, os organizadores não tinham certeza se teriam fôlego para tantos dias.
Bens mais caros de Abadía, como relógios, canetas, TVs de plasma, bicicletas e carros, irão a leilão hoje à noite, no Jockey.


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