São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2010

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BARBARA GANCIA

Aleluia! Bucicleide larga o cigarro!



Tudo indica que minha tresloucada amiga Bucicleide perdeu a cabeça. Mas que vai reganhar a saúde. Força, Buci!

QUE ELA não é exatamente a pessoa mais equilibrada do mundo, todos nós estamos 000000cansados de saber. Mas, desde que iniciou tratamento para abandonar de vez o tabagismo, minha tresloucada amiga Bucicleide anda ultrapassando qualquer limite do que pode ser considerado como uma conduta socialmente aceitável.
Fui a primeira a aplaudir a heroica iniciativa de Buci, digo, Cleide quando ela informou que havia marcado um horário com a dra. Jaqueline, cardiologista do InCor, para tentar largar essa imundície.
Que minha amiga me desculpe por expô-la publicamente, mas Bucicleide sempre foi daquelas fumantes infames, que acendem um cigarrinho no meio do almoço para acompanhar a salada e que fumam até andando de bicicleta.
Da turma da resistência contra as leis antifumo, se deixassem, Buci estaria pitando seu crivo nicotífero tranquilamente dentro de aviões e berçários até hoje.
Discutimos feio e ela quase arrancou-me a ponta do nariz a dentadas quando disse a ela que antes da lei atual que proíbe o cigarro em locais fechados a taxa de monóxido de carbono era mais alta dentro de certos restaurantes e casas noturnas do que na rua. Mas a raiva passou e hoje ela sabe que os níveis estão parelhos nos ambientes internos e externos, o que irá contribuir para um inverno bem menos poluído em São Paulo.
No domingo passado, com a ingestão dos medicamentos prescritos e, em toda a docilidade, Bucicleide iniciou o tratamento indicado pela dra. Jaqueline. Tudo parecia sob controle até terça-feira, quando estivemos juntas participando de um torneio de perguntas e respostas na escola do sobrinho dela.
Logo no primeiro quesito: "Qual o último Estado brasileiro em ordem alfabética?", Bucicliede demonstrou-se algo alterada. Levantou da cadeira e saiu gritando pela sala: "Piauí! Piauí! Piauí!".
As outras pessoas à mesa, todas sob a impressão de que a resposta certa seria "Tocantins", desconsideraram o ataque de fúria como sendo mera empolgação de tia.
Mas, já na segunda pergunta, constatou-se que a presença dos homens de branco poderia ser necessária. Diante da indagação: o que é um palíndromo?, a mesa inteira calou. Percebendo que ninguém sabia a resposta, Bucicleide esbravejou: "Eu só ando com burro! É a história da minha vida! Como é que vocês não sabem que palíndromo é uma palavra que, lida da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita, tem o mesmo sentido?" A mesa ao lado, que também não sabia a resposta, agradeceu pela informação.
A essa altura, quase mastigando o papel das respostas, Bucicleide não parava de intercalar duas frases: "Eu vim aqui para ganhar esta m..." e "Estou carregando nosso time nas costas". Um primor de delicadeza e feminilidade, que eu prefiro atribuir ao efeito da medicação.
E, como os impropérios ditos por Buci na hora em que um de nós confundiu Paul Rubens com Paul Cézanne são todos impublicáveis, só me resta dizer que infelizmente não ganhamos o torneio.
Mas, que a despeito de seu comportamento errático, Bucicleide continua seguindo à risca o tratamento. Tudo indica que ela perdeu a cabeça, mas vai reganhar a saúde. Que assim seja. Força, Buci!

barbara@uol.com.br

www.barbaragancia.com.br

Twitter: @barbaragancia


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