São Paulo, sábado, 09 de abril de 2011

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DOR SEM REMÉDIO

Muitos parentes precisaram de atendimento médico no enterro de 11 das 12 crianças vítimas de massacre em escola de Realengo, no Rio

Rafael Andrade/Folhapress
Mulher chora durante o enterro de Larissa dos Santos Atanázio, morta no ataque à escola Tasso da Silveira anteontem

DO RIO

Apenas o choro de uma mãe amparada por parentes, o ranger dos carrinhos carregando caixões e o murmúrio das lágrimas contidas quebravam o silêncio com que 11 das 12 crianças mortas no massacre na escola Tasso da Silveira foram enterradas ontem no Rio. A 12ª vítima será cremada hoje pela manhã.
À base de calmantes, parentes dos mortos ainda tentavam buscar explicações.
Muitos precisaram de atendimento médico nos cemitérios do Murundu, em Realengo, e do Jardim da Saudade, em Sulacap e em Ricardo de Albuquerque.
Mas, na definição do médico Willian Vasconcelos, voluntário que apoiava os familiares no Murundu, o que eles mais precisavam era curar "uma dor sem remédio".
Ao menos 190 pessoas foram atendidas e 13 transferidas para um posto de saúde.
O motorista Gerson da Silva Guilherme, 47, padrinho de Laryssa Silva Martins, 14, disse que muitos da família ainda não acreditam no que aconteceu. Para ele, "pensam que estão sonhando". "Mas o pesadelo não acaba."

FLORES DO CÉU
Responsável por agilizar o enterro da afilhada, Gerson disse que a bala que matou Laryssa também atingiu os familiares.
"O cara deu um tiro na cabeça da menina, mas atingiu também o coração de cada parente e amigo."
No Murundu, um helicóptero da Polícia Civil lançou pétalas de flores pela manhã. A cada caixão fechado, aplausos quebravam a paz dolorosa dos cemitérios.
A família das gêmeas Bianca e Brenda Tavares se dividia na dor de velar a primeira e cuidar da recuperação da segunda, ainda internada.
Protestos silenciosos também fizeram parte dos enterros. Em Sulacap, amigos de Rafael Pereira da Silva,14, carregavam faixa reclamando da segurança. "Aí, governante, até quando vamos ficar sem segurança nas escolas e nas ruas? Hoje foi essa escola, qual será a próxima?"
Enquanto pensavam na tragédia, alguns viam a escola municipal Tasso da Silveira como um símbolo a ser eliminado. Wagner Assis, tio de Rafael Pereira da Silva, pediu memorial para as vítimas.
"Essa escola tinha de ser derrubada para se fazer ali um jardim cheio de flores em homenagem às vítimas. Eu também tenho um filho. Como posso mandá-lo para a escola na segunda-feira? Como posso ficar tranquilo?", disse.

HOMENAGEM
Já na escola Tasso da Silveira, que ficou fechada ontem, todos faziam questão de elogiá-la e tentar evitar que sua imagem seja abalada.
Haydée Miranda, 48, se mostrava duplamente atingida. "Como mãe, me sinto na pele dessas mães. É dor infinita. Como ex-aluna, espero que a mancha desse ex-aluno não tire o brilho da escola."
"Tenho a honra de ter estudado aqui. Todos os alunos são filhos ou sobrinhos de ex-alunos. É uma família e esse louco acabou com ela", disse Paulo dos Santos, 43.

CONTRA O TRAUMA
Alguns pais levaram seus filhos para a escola para ajudá-los a encarar o trauma do dia anterior.
Mãe de Felipe, 11, que estava em uma das salas onde aconteceu o massacre, Viviane Barcelos Gonçalves afirmou não pretender tirar o filho da escola. "Não é porque aconteceu uma vez que vai acontecer de novo."
Sob folhas com o nome das 12 crianças mortas, vizinhos depositaram flores e mensagens às vítimas.
(CIRILO JUNIOR, ITALO NOGUEIRA, JANAINA LAGE e PEDRO SOARES)


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