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JOGO
Temor do Fisco é que lei, se aprovada, não tenha regulamentação adequada
Cassino pode ser "máquina" de lavar dinheiro, diz Receita
DENISE CHRISPIM MARIN
enviada especial a Belo Horizonte
A Receita Federal concluiu que o
projeto de lei que libera os cassinos no Brasil, aprovado em março
pela Comissão de Constituição e
Justiça do Senado, não impõe barreiras para sua utilização na lavagem de dinheiro do narcotráfico e
de outras atividades ilícitas.
"O projeto de lei é leniente quanto à prevenção de lavagem de dinheiro por meio de cassinos",
concluiu o Relatório Especial sobre Riscos da Lavagem de Dinheiro, ao qual a Folha teve acesso.
O texto foi elaborado pela Copei
(Coordenadoria de Pesquisa e Investigação), a chamada equipe de
"inteligência fiscal", e encaminhado ao secretário da Receita Federal, Everardo Maciel.
O temor do Fisco é que, uma vez
aprovada pelo Congresso e sancionada, a nova lei não conte com
regulamentação adequada. Ou seja, com regras práticas de controle
do capital que circulará nos cassinos e de seus funcionários, dirigentes e proprietários.
A situação atual, sem os cassinos, já assusta o Fisco. Dados do
IRS (Internal Revenue System), a
Receita Federal norte-americana,
mostram que US$ 450 bilhões em
moeda "suja" circulam no Brasil a
cada ano. A instituição ainda calcula que 17% dos depósitos bancários dos cartéis da droga estão
concentrados no país.
Segundo o coordenador-geral da
Copei, Deomar de Moraes, o projeto de lei favorece a lavagem de
dinheiro por quatro motivos: permite a instalação de um cassino
por unidade da federação antes da
regulamentação da lei; não limita
a atividade apenas a hotéis, que,
do ponto fiscal, são considerados
empreendimentos com um mínimo de solidez; deixa para a regulamentação a adoção de regras de
controle; não há menção ao cumprimento da lei de lavagem de dinheiro.
De acordo com o relatório, os
cassinos são alvos fáceis de setores
interessados na lavagem de dinheiro por oito motivos:
1) O meio de troca é o dinheiro
em espécie. O jogador pode, por
exemplo, entrar no cassino com
R$ 1.000 obtidos em atividades ilícitas e perder R$ 100 na roleta. Ao
sair, poderá alegar que os R$ 900
restantes foram ganhos nos jogos;
2) Os cassinos fornecem alguns
serviços similares aos dos bancos
(conta de depósito, câmbio de
moedas, troca de cheques, transferência eletrônica para instituição financeira, crédito);
3) Há rapidez nas operações que
envolvam dinheiro;
4) São equipados para lidar com
grandes transações de dinheiro;
5) Fichas de jogos e dinheiro são
intercambiáveis;
6) Os clientes podem permanecer anônimos, segundo o projeto
de lei;
7) Procedimentos internos podem ser abrandados para clientes
considerados importantes;
8) O cassino com estabelecimento em outros países pode transferir recursos ao exterior.
Para contornar a ausência de
barreiras à lavagem de dinheiro
em cassinos, o relatório da Copei
sugere que essas casas e seus responsáveis estejam sujeitos às penalidades previstas na lei de lavagem de dinheiro e recebam tratamento similar ao dado às instituições financeiras.
Assim, os proprietários e os cassinos também seriam submetidos
à fiscalização do Coaf (Conselho
de Controle de Atividades Financeiras), ainda não regulamentado.
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