OTÁVIO CABRAL
da Reportagem Local

Pelo menos 120 civis foram mortos em supostos confrontos com policiais militares desde o início do ano no Estado de São Paulo. Como ontem foi o 98º dia do ano, a média de civis mortos diariamente chega a 1,2.
Esse é um dos principais dados do relatório trimestral de prestação de contas da Ouvidoria de Polícia do Estado de São Paulo, relativo ao primeiro trimestre de 1998, divulgado ontem pelo ouvidor Benedito Domingos Mariano.
Segundo ele, a atuação mais preocupante é a da Polícia Militar. Nos três primeiros meses do ano, houve 76 denúncias de homicídios envolvendo a PM, que resultaram em 96 mortes. Em comparação com o último trimestre de 1997, quando chegaram à ouvidoria 22 denúncias de homicídios contra policiais militares, houve um aumento de 245,45%.
Outras 13 denúncias de homicídios envolveram a Polícia Civil. Esses crimes denunciados resultaram em 14 mortes, segundo Mariano. No último trimestre do ano passado, as denúncias de homicídios contra policiais civis somaram apenas sete, o que significa que houve um aumento de 85,71% nos casos.
Além das 110 mortes denunciadas no primeiro trimestre (96 da PM e 14 da Polícia Civil), outras dez denúncias de assassinatos chegaram à ouvidoria apenas nos oito primeiros dias de abril.
Mariano destaca que todos os casos de homicídios foram confirmados e estão sendo investigados pelas corregedorias das polícias.
"Esses números comprovam que o discurso do comando da Polícia Militar, que prega o respeito aos direitos humanos, não está sendo assimilado pela tropa. O comando precisa descobrir as razões e tentar reverter essa situação", afirmou o ouvidor.
"E o número pode ser ainda maior, pois a ouvidoria trabalha com denúncias, não com boletins de ocorrência."
O comando da Polícia Militar confirma que o número de civis mortos aumentou, mas nega que tenha sido na proporção mostrada no relatório (leia texto ao lado).
Com esse aumento de denúncias, o item homicídio cometido por policial passou a ocupar o terceiro lugar no ranking das reclamações à ouvidoria. No último relatório, assassinato era apenas a 12ª reclamação mais frequente.
O "campeão" das denúncias continua sendo abuso de autoridade, responsável por 127 das 934 denúncias, 13,6% do total.
Outro índice que apresentou mudança significativa foi o de reclamações de falta de policiamento. O índice era o quarto maior no último relatório, com 8,84% das denúncias, e passou para o 10º lugar, com 3,96%. "É um sinal de que a polícia está mais atuante."



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