São Paulo, quinta, 9 de abril de 1998

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NARCOTRÁFICO
Chefe da polícia colombiana diz que há "forte presença" do crime organizado russo nas Américas
Máfia russa usa Brasil para tráfico de drogas

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

O Brasil transformou-se em um dos países de "forte presença" da chamada "máfia russa", em especial no tráfico de drogas.
A denúncia foi feita, em recente seminário interamericano realizado na Costa Rica, por alguém que, por dever de ofício, tem a obrigação de estar bem informado sobre o narcotráfico: o general Rosso José Serrano, chefe da Polícia Nacional da Colômbia (principal produtor mundial de cocaína). "Levantamentos de inteligência detectaram uma forte presença da máfia russa em todo o continente americano, mas especialmente no Caribe, na Flórida (EUA), na Colômbia e no Brasil", denunciou.
A "máfia russa" surgiu na esteira do desmantelamento do comunismo na antiga União Soviética e se infiltrou em todo tipo de negócios, legais e ilegais. Sua ação na Europa toda já vinha sendo denunciada há algum tempo, mas é a primeira vez que uma autoridade detecta "uma forte presença" dela também nas Américas.
A informação do general colombiano combina com o balanço que o Departamento de Estado norte-americano fez, recentemente, sobre o controle de narcóticos na América Latina, disponível na Internet, na página www.state.gov.
"O Brasil continua a ser um grande país de trânsito para drogas ilícitas embarcadas para os Estados Unidos e a Europa", começa o relatório, referente a 1997.
Mais: "As rígidas leis brasileiras sobre segredo bancário e sua rede financeira extremamente desenvolvida tornam o país um campo fértil para atividades de lavagem de dinheiro".
O documento norte-americano centra a sua análise sobre a região amazônica, transformada "em ponte aérea usada pelos aviões dos traficantes de narcóticos".
Diz ainda que "uma extensa rede amazônica de transporte fluvial leva drogas para portos no Atlântico para embarques externos". A rede fluvial, sempre segundo o relatório, é igualmente utilizada para transportar produtos químicos, "muitos dos quais feitos no Brasil, para laboratórios de processamento de narcóticos rio acima, principalmente na Colômbia".
O documento lamenta que a Polícia Federal brasileira continue a contar com poucos recursos humanos e financeiros, "apesar do aumento de atividade dos traficantes de drogas e da grande área que a polícia deve cobrir para coibir essa atividade".
Segundo o relatório norte-americano, aumentou muito pouco a quantidade de cocaína apreendida pela Polícia Federal, de 96 para 97. Passou de 3,1 toneladas métricas para 3,7, no ano passado.
Como conseqüência do aumento da atividade dos traficantes, o governo norte-americano está insistindo com seus pares do continente para internacionalizar o combate tanto ao narcotráfico como à lavagem do dinheiro resultante dessas operações.
No seminário da Costa Rica em que o general Serrano denunciou a presença da "máfia russa" também no Brasil, três países latino-americanos (Costa Rica, Colômbia e Peru) concordaram em flexibilizar o conceito tradicional de soberania, como arma na guerra contra o narcotráfico.
Dispõem-se a abrir suas fronteiras para a cooperação internacional. Na prática, significa permitir maior presença dos organismos norte-americanos de combate ao narcotráfico, o único do continente que estão em condições de ampliar a escala de suas operações.
O presidente da Costa Rica, José Figueres, chegou a dizer: "Devemos avançar rumo a um conceito (de soberania) mais moderno, sem fronteiros, a exemplo do que se fez no campo econômico e do investimento estrangeiro".



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