São Paulo, quarta-feira, 09 de maio de 2007

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Após 3 meses acampados, estudantes comemoram posse de prédio da UNE

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

A UNE (União Nacional dos Estudantes) recuperou a posse do terreno onde ficava seu antigo prédio na Praia do Flamengo, zona sul do Rio, incendiado em 1964. A Justiça negou a reintegração de posse pedida por uma empresa de estacionamento que funcionava no local. Cabe recurso.
O prédio da UNE foi incendiado por militantes de direita em 1º março de 1964, dia do golpe militar. Após a demolição do prédio, o terreno foi ocupado por uma empresa de estacionamento, nos anos 80, que chegou a ser interditada pela prefeitura por não ter alvará de funcionamento. A disputa jurídica pela posse do terreno começou em 1994. Anteontem, a Justiça deu ganho de causa à entidade.
Cerca de 200 estudantes invadiram o terreno em 1º de fevereiro e permaneceram acampados em barracas. Depois de pouco mais de três meses, contêineres passaram a servir como quartos, banheiros e escritório, e a maior parte dos estudantes voltou para suas cidades. Permaneceram dez militantes da UNE -nem todos são estudantes.
"Antes eu era estudante, mas hoje sou contratado do Instituto Cuca [Centro Universitário de Cultura e Arte] e militante na UNE", disse Luis Parras, 30, formado em artes plásticas na UFBA (Universidade Federal da Bahia). O acampamento passou a ser a sede do Cuca, que será transferido de São Paulo para o prédio a ser construído no local.
"No começo, era uma ocupação pelo volume de pessoas. Com o tempo, virou uma área de produção", disse Parras, em frente a um laptop conectado à internet. A infra-estrutura do acampamento conta com 12 contêineres, água, esgoto e luz de "fonte alternativa". Nos fundos, há uma horta. A UNE forneceu comida aos acampados até a semana passada, com um custo total de R$ 120 mil, mas não soube estimar os outros gastos. A verba veio da arrecadação com a confecção de carteiras de estudante e doações.
"Agora que atingimos o nosso objetivo, estou tentando ver se viabilizam um dinheiro para eu voltar para casa", disse Patrícia Moraes, 30, estudante de um curso de extensão em teatro no Rio Grande do Sul. Já o estudante secundarista Éder Carlos, 24, manteve os estudos durante o acampamento: ele faz um supletivo à distância e trabalha no escritório de direito da tia. "A militância não me prejudica."
A convivência nem sempre foi pacífica, inclusive com os vizinhos. O acampamento já foi alvo de ovos e sacos de gelo. As brigas internas também foram constantes no início. "Fazíamos plenária de dois em dois dias para discutir os problemas com banheiro, som...", conta Parras.


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