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Após 3 meses acampados, estudantes comemoram posse de prédio da UNE
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
A UNE (União Nacional dos
Estudantes) recuperou a posse do terreno onde ficava seu
antigo prédio na Praia do Flamengo, zona sul do Rio, incendiado em 1964. A Justiça negou a reintegração de posse
pedida por uma empresa de
estacionamento que funcionava no local. Cabe recurso.
O prédio da UNE foi incendiado por militantes de direita
em 1º março de 1964, dia do
golpe militar. Após a demolição do prédio, o terreno foi
ocupado por uma empresa de
estacionamento, nos anos 80,
que chegou a ser interditada
pela prefeitura por não ter alvará de funcionamento. A disputa jurídica pela posse do terreno começou em 1994. Anteontem, a Justiça deu ganho
de causa à entidade.
Cerca de 200 estudantes invadiram o terreno em 1º de fevereiro e permaneceram
acampados em barracas. Depois de pouco mais de três meses, contêineres passaram a
servir como quartos, banheiros e escritório, e a maior parte dos estudantes voltou para
suas cidades. Permaneceram
dez militantes da UNE -nem
todos são estudantes.
"Antes eu era estudante,
mas hoje sou contratado do
Instituto Cuca [Centro Universitário de Cultura e Arte] e
militante na UNE", disse Luis
Parras, 30, formado em artes
plásticas na UFBA (Universidade Federal da Bahia). O
acampamento passou a ser a
sede do Cuca, que será transferido de São Paulo para o prédio a ser construído no local.
"No começo, era uma ocupação pelo volume de pessoas.
Com o tempo, virou uma área
de produção", disse Parras,
em frente a um laptop conectado à internet. A infra-estrutura do acampamento conta com
12 contêineres, água, esgoto e
luz de "fonte alternativa". Nos
fundos, há uma horta. A UNE
forneceu comida aos acampados até a semana passada, com
um custo total de R$ 120 mil,
mas não soube estimar os outros gastos. A verba veio da arrecadação com a confecção de carteiras de estudante e doações.
"Agora que atingimos o nosso
objetivo, estou tentando ver se
viabilizam um dinheiro para eu
voltar para casa", disse Patrícia
Moraes, 30, estudante de um
curso de extensão em teatro no
Rio Grande do Sul. Já o estudante secundarista Éder Carlos,
24, manteve os estudos durante
o acampamento: ele faz um supletivo à distância e trabalha no
escritório de direito da tia. "A
militância não me prejudica."
A convivência nem sempre foi
pacífica, inclusive com os vizinhos. O acampamento já foi alvo de ovos e sacos de gelo. As
brigas internas também foram
constantes no início. "Fazíamos
plenária de dois em dois dias para discutir os problemas com
banheiro, som...", conta Parras.
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