São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2008

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Madrasta pode ser levada para outra cidade

Após a ameaça de rebelião, as autoridades passaram a estudar a possibilidade de transferir Anna Jatobá para Tremembé

Madrasta está no presídio de Sant'Ana; Alexandre Nardoni, pai da menina Isabella, está detido no 13º DP, em cela isolada

Fernando Donasci/Folha Imagem
Presas da penitenciária feminina de Sant'Ana fazem homenagem a Isabella e protestam contra a transferência de Anna Jatobá

LUÍS KAWAGUTI
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

As presas da penitenciária feminina de Sant'Ana, na zona norte, fizeram um protesto ontem de manhã e tentaram iniciar uma rebelião contra a transferência para o local da estudante Anna Jatobá, 24.
As detentas, que souberam da chegada da madrasta da menina Isabella por meio de agentes penitenciários, bateram canecas contra as grades, aos gritos de "assassina".
O tumulto foi controlado pelos guardas do presídio e as detentas por pouco não conseguiram iniciar uma rebelião. A Folha apurou que, por temer pela segurança de Anna Jatobá, as autoridades policiais e a cúpula da SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) estudavam ontem a possibilidade de transferi-la para outra penitenciária, em Tremembé (138 km de SP). Segundo o "Jornal da Globo", a transferência foi feita no final da noite de ontem. A informação não foi confirmada pelo presídio de Sant'Ana ou pelo de Tremembé.
Na manhã de ontem, as presas também escreveram com giz mensagens de protesto em uma das quadras da penitenciária: "Assassina maldita" e "Homenagem a Isabella, presente do dia das mães". Depois, a primeira mensagem foi apagada e substituída pela frase: "Estamos na paz pela vida".
Por segurança, Anna Jatobá tinha passado a madrugada isolada em uma cela do 97º DP (Americanópolis), na zona sul de São Paulo. Ali, dormiu sobre um papelão em uma cela de aproximadamente 18 metros quadrados, leu a Bíblia e tomou café da manhã normalmente.
Anna Jatobá foi levada para o distrito porque os CDPs (Centros de Detenção Provisória) não recebem detentos no período noturno. Ela chegou ao presídio de Sant'Ana às 11h, sob escolta policial.
A previsão de que Anna Jatobá seria hostilizada na penitenciária havia sido feita anteontem pela delegada Renata Pontes, assistente no 9º DP (Carandiru), que investigou a morte de Isabella. Ela afirmou que as detentas haviam dito que iniciariam uma rebelião se a madrasta fosse transferida para lá.
A SAP negou problemas com as presas de Sant'Ana envolvendo a transferência de Anna Jatobá. A secretaria informou que a estudante foi colocada em cela isolada do regime de observação, procedimento adotado em todas as transferências. Por segurança, ela ficará assim por um período de dez dias.
O órgão também se recusou a informar quantas presas estão atualmente no local. Em setembro, reportagem revelou que havia 2.662 detentas para 2.400 vagas. A Folha apurou que a unidade continua com excesso de lotação.
Durante a tarde de ontem, entre 16h15 e 17h, os advogados Ricardo Martins e Rogério Neres visitaram Anna Jatobá na penitenciária. "Eu só posso falar que está tudo bem com ela", disse Martins, minutos antes de se reunir com o advogado Marco Polo Levorin para conversar sobre um pedido de habeas corpus para o casal.
Anna Jatobá e seu marido, o estagiário de direito Alexandre Nardoni, 29, pai de Isabella, são acusados pela morte da menina, que foi atirada pela janela do sexto andar do prédio da família na zona norte de São Paulo no dia 29 de março. Segundo denúncia do Ministério Público, Anna esganou Isabella e incentivou Nardoni a atirar a menina desacordada por um buraco feito na rede de proteção da janela. O casal teve a prisão preventiva decretada anteontem.
Os dois negam o crime e afirmaram que o assassinato foi cometido por uma terceira pessoa que entrou no apartamento durante a ausência deles.
Nardoni, que tem curso superior completo, passou a noite em cela separada dos demais presos no 13º DP (Casa Verde), na zona norte, especial para presos com diploma universitário. A polícia acha que ele não corre risco de ser agredido pelos 30 detentos da carceragem.


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