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Cremesp critica lobby das bebidas na Câmara
Diretor de conselho de medicina diz que adiar votação sobre anúncio de bebidas colabora para que famílias sigam "sendo dizimadas"
Representantes da indústria de cerveja, de agências de publicidade e de emissoras de TV estiveram, em abril, quase todos os dias no Congresso
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
ANGELA PINHO
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A principal entidade médica
de São Paulo disse que "famílias continuarão sendo dizimadas" pelo fato de a Câmara dos
Deputados ter retirado o status
de urgente do projeto de lei que
tira as propagandas de bebidas
alcoólicas do rádio e da TV entre as 6h e as 21h.
A tramitação da proposta
agora pode se arrastar por meses e até anos.
"Famílias continuarão sendo
dizimadas, a violência doméstica continuará sendo freqüente
e o Brasil seguirá como o campeão em acidentes automobilísticos. Tudo isso por causa do
álcool", disse Desiré Callegari,
um dos diretores do Cremesp
(Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo).
"Infelizmente, é o aspecto econômico que está norteando a
política brasileira de bebidas."
Representantes da indústria
de cerveja, de agências de publicidade e principalmente de
emissoras de TV estiveram
quase cotidianamente no Congresso no último mês para
pressionar parlamentares a tirar o texto da pauta de votação.
"Tínhamos um representante, não saímos daí", admitiu
Marcos Mesquita, superintendente do Sindicato da Indústria
de Cerveja. "Já fui procurado
por grupos ligados ao Ministério da Saúde, organizações não-governamentais contrárias e
favoráveis e empresas de comunicação", disse o líder da minoria na Câmara, deputado Zenaldo Coutinho (PSDB-PA).
Deputados também afirmaram, sob a condição de não serem identificados, que foram
procurados por lobistas da Associação Brasileira das Agências de Publicidade. O presidente da entidade, Dalton Pastore, nega qualquer tipo de articulação no Congresso. "Toda a
nossa manifestação contrária
foi feita publicamente", disse.
A retirada do projeto da pauta ocorreu numa reunião anteontem em que estiveram presentes, além do líder da minoria, o presidente da Câmara,
Arlindo Chinaglia (PT-SP), e os
deputados Henrique Fontana
(PT-RS), Maurício Rands (PT-PE), Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN), detentor de concessões de rádio e televisão, e
Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA), cuja família é dona da TV Bahia.
O projeto é de autoria da Presidência da República. O presidente da Câmara acabou com a
urgência da proposta com o
aval do ministro das Relações
Institucionais, José Múcio.
"É triste ver o Congresso se
curvar frente às redes de TV",
disse o médico Ronaldo Laranjeira, que coordena a Unidade
de Pesquisa em Álcool e Drogas
da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
No ano passado, a indústria
da cerveja teve um faturamento bruto de R$ 26 bilhões.
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