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CIDADANIA
Pesquisa mostra que 60% das homossexuais não se assumem quando vão ao ginecologista por temer discriminação
Marlene Bergamo/Folha Imagem
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A iluminadora Neusa Maria de Jesus e a economista Luiza Granado, coordenadoras de ONGs que defendem os direitos das lésbicas |
ONGs lançam "dia do orgulho lésbico" em SP
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de 60% das lésbicas não
revelam ao seu ginecologista sua
orientação sexual. São tratadas
por seus médicos como mulheres
que fazem sexo com homens,
porque essa é a regra estabelecida.
Os médicos perguntam sobre
contraceptivos, sugerem preservativos ou pílulas, e as mulheres
fazem de conta que concordam.
Esconder a "orientação" sexual
tem seus motivos. Cerca de 60%
das mulheres que revelaram ser
lésbicas dizem que sofreram algum tipo de discriminação. Uma
entrevistada afirmou que a médica pediu a presença de sua enfermeira, com medo de ser assediada. Vários médicos sugeriram que
a paciente procurasse ajuda de
um psiquiatra, outros se "interessaram" em saber como era a relação com suas parceiras.
Esse quadro de preconceito e
desinformação médica aparece
em pesquisa feita com 150 mulheres de 17 a 57 anos pela Rede de
Informação Um Outro Olhar,
ONG que tem uma publicação
própria, com o mesmo nome. As
entrevistadas eram leitoras da revista. Do grupo de mulheres ouvidas, 32% são mães e 23% fizeram
pelo menos um aborto. A primeira pesquisa foi concluída três anos
atrás. Uma mais ampla está em
andamento.
O cenário revelado nessa pesquisa é uma das razões para o lançamento, nesta quarta-feira, dia
11, do Dia Nacional do Orgulho
Lésbico. A data será comemorada
no dia 19 de agosto, dia em que, 20
anos atrás, o Grupo de Ação Lésbica Feminista (Galf) invadiu o
Ferros Bar. O local era o ponto de
encontro das lésbicas de São Paulo, mas os proprietários decidiram proibir a venda ali do boletim
da associação, o "ChanacomChana". A invasão do bar, que contou
com o apoio de políticos e advogados, marcou uma espécie de
"revolução" lésbica, que está sendo retomada agora.
"Assumir a identidade de lésbica é difícil na família, no trabalho,
na igreja. É difícil também quando se trata de saúde", diz a economista Luiza Granado, 42, coordenadora da Rede de Informação
Um Outro Olhar. Uma das líderes
do movimento disse que não revela sua orientação sexual aos médicos com medo de que eles não
cuidarão de sua saúde.
Não deveria ser assim. Pelos cálculos que elas mesmas fazem,
10% das mulheres são lésbicas ou
bissexuais. Na região metropolitana de São Paulo, há 15 milhões
de habitantes. Considerando-se
que as mulheres são metade da
população, seriam 750 mil mulheres fazendo parte desse grupo.
Em São Paulo, os grupos organizados não chegam a cinco. Na
Parada Gay deste ano, que acontece no próximo dia 22, quando
desfilarão 30 carros alegóricos,
apenas três são de lésbicas. No
ano passado, motociclistas do
grupo Mulheres que Amam Mulheres abriram a parada. "O primeiro grupo de mulheres desfilou
há três anos, numa picape. Agora
já somos três trios elétricos, mas
ainda é quase nada", diz Luiza
Granado.
A iluminadora de teatro Neusa
Maria de Jesus, 45, da Coordenadoria Especial de Lésbicas (CEL),
da Associação da Parada GLBT
(Gays, Lésbicas, Bissexuais e
Transgêneros), diz que a criação
de um dia do "orgulho lésbico" é
uma identificação para as mulheres. "Nós queríamos um dia específico para nós", afirma.
Luiza Granado diz que a nova
data será incluída no calendário
de eventos da cidade.
Um Outro Olhar, tel. 0/xx/11/3735-1035,
Associação da Parada Gay de São Paulo,
tel. 0/xx/11/3362-2361
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