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TRANSPORTE
Vicente Cândido foi beneficiado com recursos de empresas do grupo Ruas; ele diz que não há conflito de interesses
Deputado do PT recebeu doação de viações
CHICO DE GOIS
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O deputado estadual e ex-vereador de São Paulo Vicente Cândido
(PT) recebeu R$ 10 mil de doação
de empresas de ônibus para sua
campanha eleitoral à Assembléia
Legislativa em 2002. Ele também
obteve R$ 3.500 de uma cooperativa de transporte.
Dos sete vereadores que foram
eleitos para a Assembléia ou para
a Câmara dos Deputados, somente Cândido declarou ter recebido,
oficialmente, recursos de viações.
As informações constam da declaração de receitas apresentada
pelo então candidato ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) em 5 de
novembro do ano passado. De
acordo com as informações oficiais, Cândido teria arrecadado
R$ 152 mil. Ele gastou R$ 10,5 mil
de recursos próprios.
As viações que deram dinheiro
para a campanha do deputado foram a São Luiz e a Bola Branca,
ambas pertencentes à família de
José Ruas Vaz, líder do transporte
na capital paulista, com 30% da
frota total de 10 mil ônibus, e que
ganhará mais espaço com a licitação do setor feita pela prefeita
Marta Suplicy (PT) para selecionar operadores pelos próximos
dez anos. Cada uma deu R$ 5.000.
A administração petista tem
travado uma disputa com os empresários do setor de transporte.
Em 7 de abril, o ministro-chefe da
Casa Civil, José Dirceu, disse que a
greve que paralisou os ônibus da
cidade naquele mês era patrocinada por empresários. Nesse
mesmo dia, Marta chegou a acusar os empresários das nove empresas que foram excluídas na licitação do novo sistema de transporte de "gângsters".
Em outubro de 2001, quando
Marta encaminhou à Câmara
Municipal o projeto sobre a reorganização dos transportes, Cândido disse que "há [havia] um looby
legítimo" das viações. Uma das
principais polêmicas à época tratava-se da defesa de que as gratuidades para idosos, estudantes,
carteiros e policiais fossem bancadas pela prefeitura, e não por operadores. "O projeto tem um grau
de polêmica por causa dos interesses econômicos. Mas vamos
debater as sugestões", disse. Ele
acabou aprovado, inclusive com
voto favorável do petista.
Esta não é a primeira vez que
parlamentares do PT recebem dinheiro para campanha eleitoral
de setores que criticavam. Na eleição para vereador em 2000, Arselino Tatto, atual presidente do Legislativo, recebeu R$ 10 mil da Cavo, que trabalhara para a prefeitura. Ele disse, à época, que não via
mal nenhum porque a doação havia sido declarada ao TRE.
A própria prefeita recebeu recursos de empresas de lixo para
sua campanha à prefeitura. No total, foram mais que R$ 500 mil.
Outro lado
O vereador Vicente Cândido informou à Folha, por sua assessoria, que não vê problemas no fato
de ter recebido doações de viações
de ônibus e cooperativas de transporte, já que "tudo foi feito dentro
da legalidade e da transparência".
Ele alega ainda não haver conflito de interesses porque se tratava
de uma candidatura para a esfera
estadual, e não municipal.
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