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São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2003

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TRANSPORTE

Vicente Cândido foi beneficiado com recursos de empresas do grupo Ruas; ele diz que não há conflito de interesses

Deputado do PT recebeu doação de viações

CHICO DE GOIS
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O deputado estadual e ex-vereador de São Paulo Vicente Cândido (PT) recebeu R$ 10 mil de doação de empresas de ônibus para sua campanha eleitoral à Assembléia Legislativa em 2002. Ele também obteve R$ 3.500 de uma cooperativa de transporte.
Dos sete vereadores que foram eleitos para a Assembléia ou para a Câmara dos Deputados, somente Cândido declarou ter recebido, oficialmente, recursos de viações.
As informações constam da declaração de receitas apresentada pelo então candidato ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) em 5 de novembro do ano passado. De acordo com as informações oficiais, Cândido teria arrecadado R$ 152 mil. Ele gastou R$ 10,5 mil de recursos próprios.
As viações que deram dinheiro para a campanha do deputado foram a São Luiz e a Bola Branca, ambas pertencentes à família de José Ruas Vaz, líder do transporte na capital paulista, com 30% da frota total de 10 mil ônibus, e que ganhará mais espaço com a licitação do setor feita pela prefeita Marta Suplicy (PT) para selecionar operadores pelos próximos dez anos. Cada uma deu R$ 5.000.
A administração petista tem travado uma disputa com os empresários do setor de transporte. Em 7 de abril, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, disse que a greve que paralisou os ônibus da cidade naquele mês era patrocinada por empresários. Nesse mesmo dia, Marta chegou a acusar os empresários das nove empresas que foram excluídas na licitação do novo sistema de transporte de "gângsters".
Em outubro de 2001, quando Marta encaminhou à Câmara Municipal o projeto sobre a reorganização dos transportes, Cândido disse que "há [havia] um looby legítimo" das viações. Uma das principais polêmicas à época tratava-se da defesa de que as gratuidades para idosos, estudantes, carteiros e policiais fossem bancadas pela prefeitura, e não por operadores. "O projeto tem um grau de polêmica por causa dos interesses econômicos. Mas vamos debater as sugestões", disse. Ele acabou aprovado, inclusive com voto favorável do petista.
Esta não é a primeira vez que parlamentares do PT recebem dinheiro para campanha eleitoral de setores que criticavam. Na eleição para vereador em 2000, Arselino Tatto, atual presidente do Legislativo, recebeu R$ 10 mil da Cavo, que trabalhara para a prefeitura. Ele disse, à época, que não via mal nenhum porque a doação havia sido declarada ao TRE.
A própria prefeita recebeu recursos de empresas de lixo para sua campanha à prefeitura. No total, foram mais que R$ 500 mil.

Outro lado
O vereador Vicente Cândido informou à Folha, por sua assessoria, que não vê problemas no fato de ter recebido doações de viações de ônibus e cooperativas de transporte, já que "tudo foi feito dentro da legalidade e da transparência".
Ele alega ainda não haver conflito de interesses porque se tratava de uma candidatura para a esfera estadual, e não municipal.



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