São Paulo, terça-feira, 09 de junho de 2009

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Pilotos exigem troca de sensor e podem parar

Membros de sindicato minoritário criticam Air France por não suspender voos mesmo após admitir problemas em sensores de velocidade

Grupo, que representa cerca de 10% dos comandantes, disse acreditar que falha está entre as principais hipóteses para queda de Airbus no mar


Marinha do Brasil/AFP
Mergulhadores recolhem estabilizador do A330 da Air France; equipamento faz parte do conjunto de peças que equilibram o avião no ar

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Um grupo de pilotos da Air France ameaçou ontem parar de voar até que a empresa substitua os sensores de velocidade da frota de Airbus.
Membros de um sindicato minoritário, o Alter, que representa cerca de 10% dos comandantes da Air France, criticam a empresa por não ter suspendido os voos dos Airbus-A330 e A340 mesmo após admitir, no sábado passado, que os sensores desses modelos haviam apresentado problemas.
Uma das mensagens automáticas enviadas pelo Airbus que caiu no Atlântico, com 228 pessoas, indicava problema nos sensores externos.
Para os pilotos, a falha está entre as principais hipóteses para o acidente. "Queremos proteger nossos tripulantes e passageiros", disse o sindicalista Christophe Presentier à emissora France Info.
No sábado, a agência francesa que investiga o acidente confirmou que a peça já havia mostrado falhas nos A330 e A340 e que a Airbus havia recomendado a troca. E acrescentou que o avião que caiu no dia 31 não havia passado pela atualização.
Cada avião tem três dessas peças, chamadas pitots. São tubos instalados na dianteira do avião, que medem a velocidade do vento e enviam os dados para outros sistemas.
Uma das mensagens automáticas enviadas pelo Airbus em seus minutos finais indica problemas na medição dos pitots, dentro da sequência de panes que o aparelho acusou.
Uma das hipóteses é que, com isso, o computador do avião tenha interpretado dados errados e induzido os pilotos a fazer manobras inadequadas.
Sem admitir ligação com o acidente, a Air France anunciou no sábado que iria "acelerar" a troca dos sensores. Ontem, disse que todos os aviões A330 e A340 já estão com pelo menos um sensor novo.
"Em nove aviões já foram trocados dois ou três dos sensores", disse a porta-voz da Air France, Veronique Brachet.
A Air France tem 15 aviões do modelo A330 e 19 do A340. Segundo Brachet, a troca de apenas um dos sensores é suficiente para dar segurança imediata ao avião. Ela disse que a substituição total será "rápida", mas não falou em prazos.
A porta-voz disse não temer uma greve de pilotos (a empresa tem 4.000), já que a ameaça partiu de uma minoria.

Outro sindicato
O maior sindicato de pilotos da França, o SNPL (Sindicato Nacional dos Pilotos de Linha da França), também diz existir a suspeita que o desastre esteja ligado ao sensor, mas afirma estar satisfeito com as medidas adotadas. "O ideal seria a troca imediata dos três sensores, mas ter um trocado já dá uma boa garantia de que os dados de velocidade serão enviados corretamente", disse o vice-presidente do SNPL, Pascal Guerin.
Para Guerin, comandante de um A340, ainda é cedo para dizer o que derrubou o Airbus, mas está claro que uma falha simultânea dos três sensores coloca o piloto em apuros. "Sem eles o piloto perde todas as indicações de velocidade."
Ele classificou de "excessiva" a exigência do sindicato Alter, que orientou seus membros a se recusarem a voar enquanto ao menos dois dos sensores não forem trocados.
Indagada por que a troca não havia sido feita antes do acidente, a porta-voz da Air France disse que a explicação está no comunicado emitido pela empresa no sábado.
Nele, a Air France afirma que se antecipou à proposta da Airbus de realizar uma experimentação dos novos sensores e decidiu trocar todas as peças a partir de 27 de abril.
E conclui: "Sem pressupor uma ligação com as causas do acidente, a Air France acelerou este programa de troca".
Por meio de sua assessoria em São Paulo, a Airbus disse que recomendações como a de troca dos sensores "são frequentes e não relacionadas a incidentes específicos". Afirmou que a intenção "é melhorar a performance do equipamento, e não a segurança". A empresa não respondeu aos outros questionamentos para "não prejudicar a apuração".


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