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Preso por engano descreve influência do PCC em cadeia
DA REPORTAGEM LOCAL
Da rotina nos Jardins para a
cadeia. Foram oito dias chocantes para Lucas (nome fictício), microempresário de 37
anos detido, segundo ele, por
engano, ao ser confundido com
um ladrão, no segundo semestre do ano passado. A experiência traumática no Centro de
Detenção Provisória (CDP) do
Belém revelou, também, regras
que ele desconhecia, mas que
ordenam a vida no presídio.
Não são as leis da direção da
unidade -quem as dita são
membros da facção PCC.
"Quando cheguei [ao CDP],
veio uma dupla dar cigarros e
falar as "regras". As principais
são jamais olhar para mulheres
durante visitas e nunca olhar
nem ouvir o que diziam os presos de uma das celas."
Morador dos Jardins (zona
oeste paulistana), ele foi detido
por policiais militares quando
andava de chinelos até Santa
Cecília, centro de São Paulo,
onde encontraria um amigo.
Acusado pelos PMs de furtar
a grade de um painel de energia, ficou oito dias no CDP do
Belém. Foi sua única passagem
policial durante toda a vida,
mas suficiente para conhecer
como opera o PCC dentro das
prisões de São Paulo.
Antes de qualquer coisa, ele
teve de responder a um "questionário". "São desconfiados,
perguntam de onde você é, por
que você está lá, se você precisa
de médico, da enfermaria. E tudo com muito respeito."
Poucas horas depois, descobriu o que havia na cela proibida: era onde ficavam os líderes
da facção naquele presídio, os
homens que passavam as ordens do comando criminoso
para as celas. "Falavam que não
era para chegar perto nem para
prestar atenção em nada. Claro
que eu nem olhava."
Segundo Lucas, através de
seus prepostos, o PCC comanda o comércio entre as grades.
É possível comprar cigarros,
maconha e cocaína "à vontade"; o celular custa R$ 500. "A
realidade é que eles comandam
tudo. Escolhem os faxinas e os
"barraqueiros" [presos que distribuem café e comida]."
Graças ao controle desses
presos, que contam com mais
liberdade para percorrer as celas, os líderes do PCC na prisão
acabam obtendo privilégios na
alimentação, por exemplo.
"Eles têm mais regalia. A influência sobre os presos é total.
Quando fui para lá, meu advogado telefonou para um cliente
da facção avisando para me tratarem bem que um amigo dele
iria para lá. E não aconteceu nada comigo." Mesmo com essa
liberdade, a palavra PCC é vetada. "Falam só do "partido" e se
tratam como "irmãos"."
Segundo Lucas, embora os
presos evitem deixar explícito
esse domínio que o PCC exerce
sobre os demais, as relações internas deixam claro que existe
um comando. "Você percebe
que eles é que organizam, que
tem alguém gerenciando. É um
terrorismo psicológico, a coisa
toda fica entre eles."
Ao deixar a prisão, Lucas decidiu, pela primeira vez, ir até a
cela proibida. "Sei quem eles
eram. Fui lá, apertei a mão de
dois deles e agradeci. Saí com
vida, nada aconteceu comigo."
O último dia teve ainda um
agradecimento. Ele tirou as
boas roupas que tinha, deu-as
para os presos mais poderosos.
"Disse que eles precisavam
mais."
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO)
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