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SAÚDE / COMPORTAMENTO
Hormônio amplia estresse
de torcedor após derrota
Revés no futebol pode causar tristeza profunda e irritação nos mais fanáticos
Especialista afirma que são comuns casos em que, após decepção no esporte, rendimento de profissional cai no trabalho
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os batimentos cardíacos estão acelerados, as pupilas estão
dilatadas e a atenção está voltada para uma única coisa: uma
partida de futebol. A expectativa é a vitória. Mas nem sempre
isso acontece e, então, o torcedor sai do momento de euforia
e pode embarcar em uma tristeza profunda, apresentando
sintomas de irritação e até mesmo de agressividade.
Um dos principais motivos
para que isso aconteça é o aumento dos níveis de cortisol (liberado em situações de estresse) no sangue. O cortisol é um
hormônio produzido pela glândula supra-renal (que fica em
cima do rim) e é considerado
um "maestro do organismo",
pois interfere no funcionamento de todos os outros hormônios. Em situações de estresse
físico ou emocional ele é liberado pelo organismo como forma
de resposta àquela situação.
"A pessoa com os níveis de
cortisol alterados pode ficar
mais irritada e até mesmo agir
com agressividade em algumas
situações. É comum que no dia
seguinte à decepção [como a
derrota de um jogo importante], muitas pessoas fiquem com
o "pavio curto" com os que estão
ao seu redor. Em algumas situações, essa alteração pode até
afetar o desempenho da pessoa
no trabalho", explicou a psiquiatra Alexandrina Meleiro,
do Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas e professora da USP.
Segundo Alexandrina, observar a reação dos torcedores logo após uma derrota em uma
partida de futebol é um bom
exemplo para verificar esse tipo de situação.
"O brasileiro é fanático por
futebol, muito mais do que com
outros esportes. Se o time dele
ganha um título, é visível que o
torcedor vai trabalhar mais feliz, com mais entusiasmo, com
mais vontade. Pode até render
mais na empresa. Já se o time
perde o jogo, a tendência é que
a pessoa fique triste, irritada e
queira sair quebrando tudo o
que vê na frente."
Transferir problemas
O psiquiatra Sérgio Klepacz,
do Hospital Samaritano, também destaca a alteração dos níveis de cortisol no sangue como
um dos motivos para o transtorno de humor que os torcedores sofrem quando seu time
perde uma partida.
Ele destaca, porém, que a
reação das pessoas também inclui fatores pessoais. "É como
se o brasileiro transferisse para
o jogo os "problemas" que enfrenta no dia-a-dia", disse.
"Em geral, o ser humano precisa depositar em alguma coisa
as suas expectativas para ter
uma vida sem estresse. E ele
acaba se apoiando nos jogos de
futebol. A pessoa tem problemas em casa, no trabalho, na
escola, mas acredita no futebol.
Se essa expectativa for quebrada, a pessoa pode entrar num
quadro de tristeza profunda,
que pode acabar se tornando
uma depressão", disse.
O psiquiatra Marco Aurélio
Peluso, especialista em psiquiatria e esporte, afirma que
não conhece estudos específicos sobre o aumento dos níveis
de cortisol nos torcedores antes e depois dos jogos.
"Mas, dentro do que a gente
conhece, é muito provável que
os níveis estejam alterados,
principalmente depois de uma
derrota", disse.
Segundo Peluso, todas essas
reações dos torcedores acontecem porque na hora em que o
time de futebol entra em campo, eles se identificam com os
jogadores.
"No caso da seleção brasileira, por exemplo, a identificação
acontece por uma questão de
nacionalidade. É como se o torcedor também entrasse em
campo. É por isso que, no momento da derrota, muitos entram em crise e não sabem lidar
com essa situação", explicou.
Para Peluso, o brasileiro tem
dificuldade em lidar com a derrota e com a frustração por uma
questão cultural. "Nós temos
de ser os melhores do mundo,
sempre. O brasileiro se identifica tanto com o jogador, que depois da derrota o time vai tirar
férias e o torcedor vai ficar em
casa, deprimido. É como se ele
tivesse perdido o jogo."
Os especialistas destacam,
porém, que esses sintomas de
irritabilidade, tristeza, agressividade ou depressão são transitórios e devem durar poucos
dias. "Se os sintomas de desânimo persistirem por mais de
três meses, aí sim o torcedor
deve procurar um médico", disse Alexandrina.
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