São Paulo, quarta-feira, 09 de julho de 2008

Próximo Texto | Índice

Preso é flagrado ao visitar a namorada

Roberto Peukert foi levado por agente, no domingo, para a casa da namorada, funcionária de hospital onde ficou internado

Corregedoria investiga se, além da saída sem escolta, condenado por matar a família também usufrui de outros privilégios no hospital


ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Venezuelano naturalizado brasileiro, Roberto Agostinho Peukert, 42, entrou para a crônica policial brasileira na madrugada de 6 de janeiro de 1985, quando, aos 18 anos e estudante da 7ª série, matou a tiros e facadas a mãe, o pai e os três irmãos após uma discussão por conta do som alto.
Condenado a 25 anos de prisão pela chacina, acabou internado em um manicômio judicial, de onde, segundo determinação da Justiça, só pode sair com escolta policial.
Na manhã do último domingo, porém, a Folha flagrou Peukert ao sair do manicômio, sem escolta, para passar o dia na casa da namorada, Neusa Maria Teixeira Rocha, funcionária do hospital psiquiátrico de Franco da Rocha 1, onde ele esteve internado até janeiro deste ano.
Peukert, que agora está em Franco da Rocha 2, foi deixado só na casa, a quase dois quilômetros do hospital, e lá ficou o dia todo, sem escolta de funcionários do sistema prisional. Ele foi levado no carro particular de um agente prisional, conhecido como Ocimar, que também é responsável pela guarita de entrada do hospital psiquiátrico. Em seguida, o agente voltou ao seu posto.
Por volta das 11h, o preso ficou sozinho na casa, já que a namorada e outras duas outras mulheres saíram para fazer compras no centro de Franco da Rocha. Ao voltar, cerca de uma hora depois, foram recebidas na garagem por ele.
Laudos do psiquiatra Guido Palomba, um dos mais conceituados do país, relatam que Peukert ainda tem uma estrutura psíquica frágil. "Como é inteligente, tem certa vivência, supõe-se que em eventual novo delito poderia agir de forma mais elaborada", diz o laudo.
O juiz Adjair de Andrade Cintra determinou, em janeiro deste ano, "que não seja autorizada a saída do sentenciado da colônia [hospital psiquiátrico 2], salvo acompanhado de funcionários do estabelecimento". A decisão, diz o juiz, baseia-se no fato de haver divergência nos laudos "sobre o grau de periculosidade do sentenciado".
Em entrevista à Folha por telefone, o preso negou ter cometido alguma irregularidade e admitiu que freqüentemente tem passeado aos domingos.
Além de passear sem escolta, "Robertinho", como é chamado pela diretora da unidade, a psicóloga Odete Maria Vieira Lanzotti, tem as chaves de várias salas do hospital, mantém um quarto exclusivo e é o único a usar um notebook para fazer trabalhos particulares para a empresa de um tio.
A saída sem escolta e outros possíveis privilégios são investigados pela Corregedoria Administrativa do Sistema Penitenciário de São Paulo. Odete Maria é mulher de Paulo César Sampaio, psiquiatra que coordena todo o sistema de saúde dos presídios paulistas e também investigado por conceder regalias a Peukert.
Após passar anos na hoje extinta Casa de Detenção de São Paulo e na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, uma das mais rígidas do país, Peukert foi transferido para o hospital de Franco da Rocha 1, onde vigora o regime fechado.
Em janeiro, foi transferido para a unidade 2, onde existe um regime de desinternação progressiva que, sempre com avaliações psiquiátricas e autorização judicial, permite saídas dos internos -alguns até podem sair sozinhos, o que não é o caso de Peukert.

A chacina
Às 20h37 de 19 de agosto de 1987, Peukert foi condenado por matar o pai, o português radicado no Brasil Mário Agostinho Valente, 46, desenhista da Mercedes-Benz; a mãe, Karin Klaudia Peukert, 42, operadora bilingüe da multinacional ZF do Brasil; a irmã, Cristina, 16; e os irmãos, Paulo, 17, e André, 8.
Peukert foi condenado a 25 anos de prisão pela chacina, mas, como foi considerado semi-imputável (tem consciência do que é crime, mas não consegue se controlar), o juiz Nilton Vieira de Melo trocou a pena por internação no manicômio judiciário (neste caso, o condenado passa por avaliações periódicas anuais ou a cada três anos, a partir das quais ele pode ou não receber benefícios).
A chacina ocorreu no sobrado da família, na Vila Santa Catarina (zona sul de SP). Após as mortes, Peukert colocou os corpos no porta-malas de um dos carros da família e os abandonou perto de um cemitério.
Em 1991, em entrevista à Folha, Peukert afirmou: "Se insistirem muito em saber qual meu estado, diga que estou completamente maluco, vendo hipopótamos com asinhas".


Próximo Texto: Psiquiatra: Peukert não suporta ser contrariado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.