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Preso é flagrado ao visitar a namorada
Roberto Peukert foi levado por agente, no domingo, para a casa da namorada, funcionária de hospital onde ficou internado
Corregedoria investiga se, além da saída sem escolta, condenado por matar a família também usufrui de outros privilégios no hospital
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Venezuelano naturalizado
brasileiro, Roberto Agostinho
Peukert, 42, entrou para a crônica policial brasileira na madrugada de 6 de janeiro de 1985,
quando, aos 18 anos e estudante da 7ª série, matou a tiros e facadas a mãe, o pai e os três irmãos após uma discussão por
conta do som alto.
Condenado a 25 anos de prisão pela chacina, acabou internado em um manicômio judicial, de onde, segundo determinação da Justiça, só pode sair
com escolta policial.
Na manhã do último domingo, porém, a Folha flagrou Peukert ao sair do manicômio, sem
escolta, para passar o dia na casa da namorada, Neusa Maria
Teixeira Rocha, funcionária do
hospital psiquiátrico de Franco
da Rocha 1, onde ele esteve internado até janeiro deste ano.
Peukert, que agora está em
Franco da Rocha 2, foi deixado
só na casa, a quase dois quilômetros do hospital, e lá ficou o
dia todo, sem escolta de funcionários do sistema prisional. Ele
foi levado no carro particular
de um agente prisional, conhecido como Ocimar, que também é responsável pela guarita
de entrada do hospital psiquiátrico. Em seguida, o agente voltou ao seu posto.
Por volta das 11h, o preso ficou sozinho na casa, já que a
namorada e outras duas outras
mulheres saíram para fazer
compras no centro de Franco
da Rocha. Ao voltar, cerca de
uma hora depois, foram recebidas na garagem por ele.
Laudos do psiquiatra Guido
Palomba, um dos mais conceituados do país, relatam que
Peukert ainda tem uma estrutura psíquica frágil. "Como é
inteligente, tem certa vivência,
supõe-se que em eventual novo
delito poderia agir de forma
mais elaborada", diz o laudo.
O juiz Adjair de Andrade
Cintra determinou, em janeiro
deste ano, "que não seja autorizada a saída do sentenciado da
colônia [hospital psiquiátrico
2], salvo acompanhado de funcionários do estabelecimento".
A decisão, diz o juiz, baseia-se
no fato de haver divergência
nos laudos "sobre o grau de periculosidade do sentenciado".
Em entrevista à Folha por
telefone, o preso negou ter cometido alguma irregularidade
e admitiu que freqüentemente
tem passeado aos domingos.
Além de passear sem escolta,
"Robertinho", como é chamado pela diretora da unidade, a
psicóloga Odete Maria Vieira
Lanzotti, tem as chaves de várias salas do hospital, mantém
um quarto exclusivo e é o único
a usar um notebook para fazer
trabalhos particulares para a
empresa de um tio.
A saída sem escolta e outros
possíveis privilégios são investigados pela Corregedoria Administrativa do Sistema Penitenciário de São Paulo. Odete
Maria é mulher de Paulo César
Sampaio, psiquiatra que coordena todo o sistema de saúde
dos presídios paulistas e também investigado por conceder
regalias a Peukert.
Após passar anos na hoje extinta Casa de Detenção de São
Paulo e na Casa de Custódia e
Tratamento de Taubaté, uma
das mais rígidas do país, Peukert foi transferido para o hospital de Franco da Rocha 1, onde vigora o regime fechado.
Em janeiro, foi transferido
para a unidade 2, onde existe
um regime de desinternação
progressiva que, sempre com
avaliações psiquiátricas e autorização judicial, permite saídas
dos internos -alguns até podem sair sozinhos, o que não é
o caso de Peukert.
A chacina
Às 20h37 de 19 de agosto de
1987, Peukert foi condenado
por matar o pai, o português radicado no Brasil Mário Agostinho Valente, 46, desenhista da
Mercedes-Benz; a mãe, Karin
Klaudia Peukert, 42, operadora
bilingüe da multinacional ZF
do Brasil; a irmã, Cristina, 16; e
os irmãos, Paulo, 17, e André, 8.
Peukert foi condenado a 25
anos de prisão pela chacina,
mas, como foi considerado semi-imputável (tem consciência
do que é crime, mas não consegue se controlar), o juiz Nilton
Vieira de Melo trocou a pena
por internação no manicômio
judiciário (neste caso, o condenado passa por avaliações periódicas anuais ou a cada três
anos, a partir das quais ele pode
ou não receber benefícios).
A chacina ocorreu no sobrado da família, na Vila Santa Catarina (zona sul de SP). Após as
mortes, Peukert colocou os
corpos no porta-malas de um
dos carros da família e os abandonou perto de um cemitério.
Em 1991, em entrevista à Folha, Peukert afirmou: "Se insistirem muito em saber qual meu
estado, diga que estou completamente maluco, vendo hipopótamos com asinhas".
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