São Paulo, quarta-feira, 09 de julho de 2008

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Vídeo desmente PMs e confirma disparos contra carro de garoto

Cenas de circuito de TV de prédio mostram que os dois policiais atiraram diretamente contra veículo em que estava João Roberto

Polícia do Rio indiciou o cabo e o soldado por homicídio doloso qualificado, isto é, com intenção e sem dar chance de defesa


Rafael Andrade/Folha Imagem
Alessandra e Paulo Roberto Soares, pais de João Roberto, durante o enterro do garoto no Rio

SERGIO TORRES
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Cenas gravadas pelo circuito de TV de um prédio vizinho ao local onde foi morto o menino João Roberto Amorim Soares, 3, indicam que os policiais militares envolvidos no caso mentiram ao depor à Polícia Civil e atiraram diretamente no carro em que estava o garoto, sua mãe e o irmão de nove meses.
As imagens são "definitivas", disse o delegado Walter Alves Oliveira, que ontem indiciou o cabo William de Paula e o soldado Elias Gonçalves da Costa Neto por homicídio doloso qualificado (com intenção de matar e sem dar chance de defesa à vítima).
Interrogados na noite de domingo, os PMs disseram que atingiram o garoto, que estava dentro de um Palio Weekend, durante troca de tiros com criminosos que circulavam na Tijuca num Fiat Stilo roubado.
As imagens confirmam a versão dos pais da vítima, de que não houve tiroteio na hora em que os PMs abordavam o carro onde o garoto estava.
A gravação mostra os policiais descendo de um veículo e atirando contra o Palio. Sentado no banco de trás, João Roberto foi baleado na nuca, nas nádegas e na orelha esquerda. Morreu no dia seguinte e foi enterrado ontem. Ao volante, a mãe, Alessandra Amorim Soares, sofreu ferimentos por estilhaços, sem gravidade, na barriga e nas pernas. Vinícius, de nove meses, não foi atingido.
Além de indiciados, De Paula, 36, e Costa Neto, 30, tiveram a prisão temporária de 30 dias pedida à Justiça pelo delegado. O Judiciário não havia se manifestado sobre a solicitação até a conclusão desta edição.
Eles estão em prisão administrativa, decretada pela PM desde domingo. Segundo o comando da corporação, ainda não constituíram advogados.

Stilo
Nos depoimentos, os PMs disseram que perseguiam o Stilo -de cor preta- quando, na rua General Espírito Santo Cardoso, o carro da família Soares ficou entre o fogo cruzado.
O circuito de TV do edifício gravou imagens que revelam que, logo após o Stilo passar em alta velocidade, Alessandra encostou o carro à esquerda. A patrulha parou alguns metros atrás. Os policiais desceram, um deles protegeu-se atrás de um poste e os dois atiraram contra o Palio, perfurado por ao menos 16 tiros.
O Stilo foi localizado de madrugada em um acesso ao morro do Cruz, no bairro. Tinha o vidro traseiro destruído, laterais amassadas e um orifício, possivelmente provocado por um tiro. Dentro dele havia quatro cápsulas de pistola.
O Stilo havia sido roubado no sábado por dois homens armados. Até o episódio que vitimou o menino, às 19h30 de domingo, seus ocupantes envolveram-se em quatro roubos.
O estado do carro reforça a versão dos PMs de que houve tiroteio. Só que o enfrentamento não teria ocorrido na r. General Espírito Santo Cardoso, conforme as investigações, mas na rua Uruguai (também na Tijuca), assim que o cabo e o soldado avistaram o Stilo roubado, dando início à perseguição.
Os PMs envolvidos na morte de João Roberto eram vistos como de bom comportamento por seu comando. As fichas funcionais do cabo de De Paula e de Costa Neto não registram episódios anteriores de violência, segundo o coronel Ruy Loury, comandante do 6º BPM.


NA FOLHA ONLINE
www.folha.com.br/081903

Veja a íntegra do vídeo



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