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Vídeo desmente PMs e confirma disparos contra carro de garoto
Cenas de circuito de TV de prédio mostram que os dois policiais atiraram diretamente contra veículo em que estava João Roberto
Polícia do Rio indiciou o cabo
e o soldado por homicídio
doloso qualificado, isto é,
com intenção e sem
dar chance de defesa
Rafael Andrade/Folha Imagem
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Alessandra e Paulo Roberto Soares, pais de João Roberto, durante o enterro do garoto no Rio
SERGIO TORRES
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Cenas gravadas pelo circuito
de TV de um prédio vizinho ao
local onde foi morto o menino
João Roberto Amorim Soares,
3, indicam que os policiais militares envolvidos no caso mentiram ao depor à Polícia Civil e
atiraram diretamente no carro
em que estava o garoto, sua
mãe e o irmão de nove meses.
As imagens são "definitivas",
disse o delegado Walter Alves
Oliveira, que ontem indiciou o
cabo William de Paula e o soldado Elias Gonçalves da Costa
Neto por homicídio doloso
qualificado (com intenção de
matar e sem dar chance de defesa à vítima).
Interrogados na noite de domingo, os PMs disseram que
atingiram o garoto, que estava
dentro de um Palio Weekend,
durante troca de tiros com criminosos que circulavam na Tijuca num Fiat Stilo roubado.
As imagens confirmam a versão dos pais da vítima, de que
não houve tiroteio na hora em
que os PMs abordavam o carro
onde o garoto estava.
A gravação mostra os policiais descendo de um veículo e
atirando contra o Palio. Sentado no banco de trás, João Roberto foi baleado na nuca, nas
nádegas e na orelha esquerda.
Morreu no dia seguinte e foi
enterrado ontem. Ao volante, a
mãe, Alessandra Amorim Soares, sofreu ferimentos por estilhaços, sem gravidade, na barriga e nas pernas. Vinícius, de nove meses, não foi atingido.
Além de indiciados, De Paula,
36, e Costa Neto, 30, tiveram a
prisão temporária de 30 dias
pedida à Justiça pelo delegado.
O Judiciário não havia se manifestado sobre a solicitação até a
conclusão desta edição.
Eles estão em prisão administrativa, decretada pela PM
desde domingo. Segundo o comando da corporação, ainda
não constituíram advogados.
Stilo
Nos depoimentos, os PMs
disseram que perseguiam o Stilo -de cor preta- quando, na
rua General Espírito Santo
Cardoso, o carro da família Soares ficou entre o fogo cruzado.
O circuito de TV do edifício
gravou imagens que revelam
que, logo após o Stilo passar em
alta velocidade, Alessandra encostou o carro à esquerda. A patrulha parou alguns metros
atrás. Os policiais desceram,
um deles protegeu-se atrás de
um poste e os dois atiraram
contra o Palio, perfurado por ao
menos 16 tiros.
O Stilo foi localizado de madrugada em um acesso ao morro do Cruz, no bairro. Tinha o
vidro traseiro destruído, laterais amassadas e um orifício,
possivelmente provocado por
um tiro. Dentro dele havia quatro cápsulas de pistola.
O Stilo havia sido roubado no
sábado por dois homens armados. Até o episódio que vitimou
o menino, às 19h30 de domingo, seus ocupantes envolveram-se em quatro roubos.
O estado do carro reforça a
versão dos PMs de que houve
tiroteio. Só que o enfrentamento não teria ocorrido na r. General Espírito Santo Cardoso,
conforme as investigações, mas
na rua Uruguai (também na Tijuca), assim que o cabo e o soldado avistaram o Stilo roubado,
dando início à perseguição.
Os PMs envolvidos na morte
de João Roberto eram vistos
como de bom comportamento
por seu comando. As fichas
funcionais do cabo de De Paula
e de Costa Neto não registram
episódios anteriores de violência, segundo o coronel Ruy
Loury, comandante do 6º BPM.
NA FOLHA ONLINE
www.folha.com.br/081903
Veja a íntegra do vídeo
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