São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2010

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Governo libera caminhões com excesso de peso e ameaça estradas

Contran prorroga tolerância para veículos com sobrepeso de carga de até 7,5% por eixo

Especialista diz que asfalto que duraria dez anos aguenta menos de quatro se todos veículos rodarem mais pesados

ALENCAR IZIDORO
DE SÃO PAULO

Os caminhões ganharam, mais uma vez, a anuência federal para trafegar com eixos sobrecarregados, um dos principais vilões da deterioração das vias brasileiras.
O Contran (Conselho Nacional de Trânsito) prorrogou por mais seis meses, até 31 de dezembro, a autorização para que esses veículos circulem no país com excesso de peso por eixo de até 7,5%.
É a quarta vez, em menos de dois anos, que o órgão, liderado por integrantes do governo Lula (PT) adia a volta da tolerância máxima de 5% de sobrecarga, que vigorava nos anos 1990 e que era suficiente para comportar as margens de erro de pesagem.
O limite foi flexibilizado em 1999, na gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB), após a greve nacional dos caminhoneiros, mais por razões políticas que técnicas, como reconhecem alguns transportadores de carga.
Ele deveria ter acabado no começo de 2009, segundo o Contran, mas vem sendo postergado a cada semestre.
Segundo Neuto Gonçalves dos Reis, da NTC & Logística (associação do transporte de carga), cada 1% de excesso de peso diminui em mais de 4% a vida de um pavimento.
Ou seja, um asfalto que deveria durar dez anos sobrevive menos de quatro anos se todos os veículos rodarem com 7,5% de sobrecarga.
O Contran, em nota, diz que vai aguardar a conclusão de estudos do Inmetro para a pesagem de caminhões que transportam granéis sólidos e líquidos, cuja carga se movimenta com facilidade.
Os testes, afirma, são importantes para comprovar a adequação das balanças.
O Contran diz ainda que a prorrogação foi pedida pelo Ministério dos Transportes.
Apesar de reconhecer os danos da sobrecarga na qualidade das vias públicas, a NTC defendeu a prorrogação da tolerância de 7,5% porque seus associados cobram mais tempo para se adaptar.
Segundo Reis, da NTC, empresas deixaram de se preocupar com a boa distribuição da carga porque a tolerância havia aumentado.
Além disso, buscando ter mais lucratividade, houve quem incorporasse os 7,5% nos cálculos da carga transportada, levando mais produtos em menos caminhões.
"Se há uma frota grande com sobrepeso, a durabilidade do asfalto encurta", diz Sérgio Ejzenberg, mestre em transportes pela Poli-USP.


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