|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Deputado tirou do cofre dado da caixa-preta
Eduardo Cunha levou CDs com informações sigilosas para seu gabinete, e secretário da CPI do Apagão Aéreo fez queixa à direção da Casa
Parecer da Câmara diz que deputados da CPI violaram leis ao divulgar os dados da caixa-preta do vôo 3054 da TAM na semana passada
ANDREZA MATAIS
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O secretário da CPI do Apagão Aéreo da Câmara, Marcos
Figueira de Almeida, registrou
queixa ontem na direção da Casa contra o presidente interino
da comissão, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), por ele ter retirado do cofre documentos sigilosos recebidos pela CPI com dados sobre o acidente da TAM.
Cunha levou os CDs com dados das caixas-pretas para o seu
gabinete, o que preocupou Almeida porque poderia ser responsabilizado pelo vazamento
das informações. Cunha confirmou que retirou o material do
cofre e ficou com os CDs por
uma hora, enquanto circulava
pelas dependência da Câmara,
mas disse que não fez cópias
nem vazou os dados.
Sua intenção, afirmou, era levar o material para a CPI decidir se iria divulgá-lo, mas como
a reunião não havia começado,
decidiu ir ao seu gabinete. "Não
vazei [dados] nem fiz cópias."
Ele afirmou que, se o secretário
da CPI "não restabelecer a verdade", vai pedir que ele seja
afastado da comissão. Ele não
se manifestou.
Vazamento
Um parecer oficial da Câmara afirma que os deputados da
CPI do Apagão Aéreo violaram
a Constituição, leis e tratados
internacionais ao divulgar os
dados sigilosos da caixa-preta
do vôo 3054 da TAM na semana passada. Irritado com a conclusão do documento, Cunha
mandou a diretoria legislativa
da Casa descartar o parecer e
fazer outro, com o intuito de
avalizar o vazamento.
"A CPI cometeu ato reprovável sob o viés legal e constitucional", diz o parecer original,
do qual Cunha nega ter tido conhecimento detalhado.
"Soube que essa seria a linha
e que um militar da reserva redigiu o parecer. Por isso pisei
no freio e mandei elaborar outro parecer", disse o deputado.
Ele não confirmou se as infrações legais apontadas poderiam fundamentar processos
de cassação, conforme alertaram outros parlamentares.
A transcrição de voz da cabine do Airbus-A320 foi fornecida pela Aeronáutica sob compromisso de sigilo, conforme
Convenção da Icao (Organização Internacional de Aviação
Civil), da qual o Brasil é signatário. Depois da publicação de informações da caixa-preta pela
Folha no dia 1º, os integrantes
da CPI votaram a favor da divulgação completa, que ocorreu em sessão pública.
"Os parlamentares, responsáveis por funções políticas do
Estado, não podem pretender
pautar suas condutas pelo que
faz a imprensa", diz o parecer.
"A CPI agiu ao arrepio dos
compromissos internacionais
assumidos pelo Estado brasileiro e de dispositivos constitucionais, legais e infralegais diversos", conclui o texto, que cita as leis e regulamentos que
regem os cuidados com documentos classificados como sigilosos pelo Estado.
Texto Anterior: Ministro nomeia brigadeiro como diretor da Infraero Próximo Texto: Incêndio em favela destrói 100 barracos Índice
|