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Morador habita área contaminada em SP sem saber
Responsabilidade por avisar sobre a situação dos empreendimentos é do governo e das construtoras
Apesar de risco à saúde ser quase nulo, prédios em antigas zonas fabris podem ter restrições de uso do terreno e da água
EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO
Milhares de pessoas que fizeram investimentos altos na
compra de um imóvel estão
há anos morando em áreas
classificadas oficialmente
como contaminadas pelo poder público sem saber disso.
O risco à saúde, na maioria
das vezes, é quase nulo, principalmente se a construtora
estiver cumprindo todas as
exigências dos órgãos ambientais, como a Cetesb.
Mas a falta de transparência, seja por quem faz a obra,
seja por parte do poder público, é algo usual na cidade. E
pode ter sérias implicações.
Segundo a Cetesb, saber se
o terreno onde fica um prédio
está contaminado é importante por vários motivos.
Se um metal qualquer, por
exemplo, estiver presente em
quantidades bem acima do
permitido no solo, em um
canto do terreno, o projeto da
obra poderá ter de prever a
construção de uma garagem
naquele local contaminado.
Não será permitido, em hipótese nenhuma, a construção de um parquinho para as
crianças, por exemplo. "Nesse caso, o uso da área não poderá ser mudado nunca", diz
Elton Gloeden, da Cetesb.
"Não sabemos nada. Essa
informação [da contaminação] não me foi passada no
momento da compra", diz
Danielle Sanches, dona de
um apartamento no Collina
Parque dos Príncipes, na zona oeste da cidade. O terreno
aparece na lista da Cetesb.
O caso do condomínio na
zona oeste é emblemático.
Ali, a contaminação de uma
antiga fábrica atingiu o lençol freático, segundo a própria incorporadora. Por isso,
os moradores nunca poderão
cavar um poço artesiano lá.
Existem dezenas de exemplos em outros pontos da capital. Casos que vão aumentar ainda mais nos próximos
anos, porque a cidade está
trocando antigas zonas fabris por residenciais, fato
também comum no interior.
Segundo a Agre, incorporadora da obra na zona oeste,
a informação de que o terreno está em área contaminada
consta do memorial descritivo e da convenção do prédio.
"Fizemos tudo o que foi
exigido pela Cetesb. Não
existe nenhum risco para os
moradores", diz Astério Safatle, diretor da Agre.
"A responsabilidade [de
avisar], em termos éticos, é
da construtora", diz Gloeden, técnico da Cetesb.
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