São Paulo, segunda-feira, 09 de agosto de 2010

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Pilotos sob pressão

Profissionais se queixam do desrespeito às jornadas de trabalho e de punições; segundo comandantes, a era de glamour da aviação acabou

MARIANA BARBOSA
AFONSO BENITES
DE SÃO PAULO

O descontentamento de pilotos, que reclamam de jornadas excessivas, da pressão exercida por seus superiores, e o fim da era de glamour da profissão estão por trás do caos aéreo da semana passada, em que mais de 400 voos da Gol foram cancelados.
Cinco pilotos ouvidos pela reportagem relatam que é comum a prática de "rasgar a folha de apresentação" -documento que equivale a uma folha de ponto na aviação.
Em um processo que corre na Justiça sob sigilo, um comandante aposentado que trabalhou três anos na Gol acusa a companhia de reemitir as folhas de apresentação de pilotos e comissários com horários alterados.
O objetivo, segundo o comandante, é evitar que a fiscalização da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) descubra o desrespeito à jornada máxima de trabalho. A Gol nega as acusações.
A Lei do Aeronauta proíbe tripulantes de voar mais de 9,5 horas por dia. A jornada -tempo em que ficam à disposição da empresa- pode, em casos extremos, ser extrapolada. Se isso ocorrer, a empresa deve avisar a Anac.
Ultrapassar eventualmente o limite de horas não significa que a segurança do voo será reduzida. Nos EUA, a jornada é de 14 horas. "A jornada no Brasil está defasada e precisa passar por uma revisão", diz o comandante Miguel Dau, vice-presidente técnico operacional da Azul.
O descontentamento vai além da questão da jornada. Pilotos também reclamam do clima de punição. Quem desagrada aos superiores é "colocado na geladeira" -excluído da escala de voo. A punição afeta o bolso, já que eles ganham por hora voada.
Na época em que a profissão era glamorizada, dizem os pilotos, os limites de horas voadas eram respeitados, os salários melhores e as diretorias ouviam as críticas dos pilotos, sem puni-los.
"Era difícil chegarmos ao limite de horas voadas [850 ao ano]. Comigo isso ocorreu uma vez. Ficava gripado com frequência. Nosso corpo não foi feito para ficar tanto tempo no ar", diz um piloto com mais de 25 anos de profissão.
Hoje tudo mudou. "Antes, quem tinha a razão dentro de uma aeronave era o comandante. Atualmente, são os clientes que mandam."


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