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Pilotos sob pressão
Profissionais se queixam do desrespeito às jornadas de trabalho e de punições; segundo comandantes, a era de glamour da aviação acabou
MARIANA BARBOSA
AFONSO BENITES
DE SÃO PAULO
O descontentamento de
pilotos, que reclamam de jornadas excessivas, da pressão
exercida por seus superiores,
e o fim da era de glamour da
profissão estão por trás do
caos aéreo da semana passada, em que mais de 400 voos
da Gol foram cancelados.
Cinco pilotos ouvidos pela
reportagem relatam que é comum a prática de "rasgar a
folha de apresentação" -documento que equivale a uma
folha de ponto na aviação.
Em um processo que corre
na Justiça sob sigilo, um comandante aposentado que
trabalhou três anos na Gol
acusa a companhia de reemitir as folhas de apresentação
de pilotos e comissários com
horários alterados.
O objetivo, segundo o comandante, é evitar que a fiscalização da Anac (Agência
Nacional de Aviação Civil)
descubra o desrespeito à jornada máxima de trabalho. A
Gol nega as acusações.
A Lei do Aeronauta proíbe
tripulantes de voar mais de
9,5 horas por dia. A jornada
-tempo em que ficam à disposição da empresa- pode,
em casos extremos, ser extrapolada. Se isso ocorrer, a empresa deve avisar a Anac.
Ultrapassar eventualmente o limite de horas não significa que a segurança do voo
será reduzida. Nos EUA, a
jornada é de 14 horas. "A jornada no Brasil está defasada
e precisa passar por uma revisão", diz o comandante Miguel Dau, vice-presidente
técnico operacional da Azul.
O descontentamento vai
além da questão da jornada.
Pilotos também reclamam do
clima de punição. Quem desagrada aos superiores é "colocado na geladeira" -excluído da escala de voo. A punição afeta o bolso, já que
eles ganham por hora voada.
Na época em que a profissão era glamorizada, dizem
os pilotos, os limites de horas
voadas eram respeitados, os
salários melhores e as diretorias ouviam as críticas dos pilotos, sem puni-los.
"Era difícil chegarmos ao
limite de horas voadas [850
ao ano]. Comigo isso ocorreu
uma vez. Ficava gripado com
frequência. Nosso corpo não
foi feito para ficar tanto tempo no ar", diz um piloto com
mais de 25 anos de profissão.
Hoje tudo mudou. "Antes,
quem tinha a razão dentro de
uma aeronave era o comandante. Atualmente, são os
clientes que mandam."
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