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VAIDADE DE RISCO
Seis pessoas foram internadas após uso de produto veterinário; objetivo seria ganhar massa muscular
Anabolizante animal deixa 2 jovens em coma
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dois jovens, de 15 e 21 anos, estão internados na UTI do Hospital de Base de Brasília, em coma,
após tentar "inflar" os músculos
ao tomar doses de um combinado
para uso animal de anabolizante e
complemento vitamínico. Outros
quatro jovens que utilizaram as
mesmas substâncias foram hospitalizados, mas já receberam alta.
A polícia investiga mais cinco
casos de utilização das drogas
com o mesmo fim. Todos os casos
são de jovens de Padre Bernardo,
cidade goiana que fica a 120 quilômetros de Brasília.
Segundo a mãe de um dos internados, o garoto, de 15 anos, começou a passar mal na noite de quinta-feira, horas depois de ter 10 ml
de uma mistura do anabolizante
nandrolona e do complexo vitamínico ADE injetados em cada
braço. "Ele vomitava e não falava
coisa com coisa."
O garoto foi levado ao hospital
da cidade, de onde foi transferido
para o Hospital Regional de
Brazlândia, no Distrito Federal.
Ainda na madrugada de sexta-feira, foi removido para a UTI do
Hospital de Base, em Brasília, onde permanece em estado grave.
O mesmo ocorreu com o atendente Jackson Vieira de Souza, 21,
que está na UTI em estado gravíssimo. Ele recebeu uma dose de 30
ml em cada braço.
Segundo o médico veterinário
Augusto Moscardini, do Hospital
de Grandes Animais da UnB
(Universidade de Brasília), a dose
recomendada das substâncias fica
em torno de 10 ml para animais
entre 350 e 400 quilos.
Todos os seis hospitalizados injetaram o produto nos músculos
e, em pelo menos um dos casos,
houve administração intravenosa. Os jovens se conheciam e, segundo a Polícia Civil, receberam a
dose da mesma pessoa. O caso está sendo investigado nas delegacias de Padre Bernardo e Brazlândia, onde vive o suspeito de ter
vendido as doses.
A polícia investiga também a
composição do material injetado
nos jovens. É provável que se trate
do medicamento para uso animal
Estigor, que combina o esteróide
anabolizante nandrolona e o
complexo vitamínico ADE. Segundo o coordenador de produtos veterinários do Ministério da
Agricultura, Ricardo Pamplona, o
produto, fabricado na Argentina,
não tem registro no Brasil.
A venda e o uso de anabolizantes animais no país só é permitida
para eqüinos. O Estigor, indicado
para engorda de gado de corte, é
proibido. Segundo Pamplona, o
ministério não tem encontrado o
produto na fiscalização de lojas
veterinárias e agropecuárias. Ele
acredita que se trate de contrabando para uso humano.
Paulo Gentil, presidente do
Grupo de Estudos Avançados em
Saúde e Exercício, explica que o
ADE não tem a função de aumentar os músculos. Ao ser injetado,
tem uma pequena parte absorvida pelo organismo. O restante fica
"encapsulado" no local, causando
inflamação e inchaço, que daria a
impressão de maior massa muscular. A aplicação é dolorosa e o
efeito pode durar anos.
"É uma espécie de tumor, que
pode destruir tecidos e causar até
mesmo amputação", afirma. Caso seja aplicada na corrente sangüínea, a solução oleosa pode levar ao entupimento de veias e
causar embolia.
O hormônio nandrolona, que
tem como função aumentar a síntese protéica, é utilizado para aumentar a massa muscular. Seu
uso pode causar graves lesões hepáticas e renais e aumenta o risco
de câncer.
Segundo José Carlos Chinaglia,
diretor do Hospital de Base, além
das lesões nos rins e fígado, os
dois jovens correm risco de ficar
com seqüelas neurológicas. "Há
ainda um maior risco de câncer
de próstata", diz.
Chinaglia diz que o hospital tem
registrado de uma a duas internações por mês de pessoas que fazem uso de anabolizantes. "É a
primeira vez que aparecem seis
casos de uma única vez", diz.
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