São Paulo, domingo, 09 de setembro de 2007

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Cidade não estimula a andar, diz arquiteta

Médicos defendem espaço público mais amigável para a prática de exercícios

Poluição, calçadas esburacadas e disputa por espaço com os carros são desestímulos apontados por especialistas e moradores

DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em um ponto, médicos e arquitetos concordam: o modelo de urbanização nas grandes cidades, como São Paulo, privilegia os automóveis em detrimento dos pedestres e dos ciclistas, tornando as ruas e as calçadas espaços impróprios para atividades físicas.
A arquiteta Cibele Taralli, professora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP, diz que as calçadas não foram planejadas e não são conservadas a ponto de favorecer a movimentação de pedestres e de veículos leves, como a bicicleta e o skate.
"Vou andar, mas disputo espaço com os carros, é aquela poluição horrível. Isso não estimula ninguém a andar nas ruas. São Paulo é uma cidade pensada em pedaços, sem visão de continuidade das coisas."
Para o cardiologista Álvaro Avezum, as pessoas não são sedentárias porque querem, mas sim porque os espaços públicos não as estimulam ao exercício. "Se não tiver os planejadores de cidade para facilitar algum gasto enérgico, vamos explodir em doenças cardiovasculares."
Ele cita o exemplo de capitais como Viena (Áustria) e Paris (França), em que a pessoa pode alugar bicicletas públicas a 1 (o equivalente a R$ 2,80).
O endocrinologista Bruno Geloneze, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), também defende melhorias no espaço público para estimular a prática de exercícios.
Segundo ele, da mesma forma que o risco cardíaco passou a ser um problema multidisciplinar, a atividade física não depende apenas do cidadão ou do médico, mas também de uma ação governamental.
"Precisamos ter parques e praças seguras para que a população se exercite, ter calçadas sem buracos para que as pessoas caminhem sem tropeçar. Isso é mais barato do que investir em remédio", afirma.
O cientista social Sergio Andrade emenda: "Caminhar com toda essa poluição não vale a pena, não me sinto estimulado. Ir ao Ibirapuera pra respirar fumaça?", questionava ele, enquanto passeava anteontem pela avenida Paulista.
Os arquitetos Luciano César Teixeira e Anelisa de Paula concordam que a cidade é poluída e as ruas e calçadas não estimulam as caminhadas, mas recorrem ao parque Ibirapuera sempre que podem.
Teixeira conta que passou um ano sem praticar esportes, mas hoje corre 10 km todos os dias no Ibirapuera. "Trabalho muito parado e, correndo, consigo diminuir as coisas ruins em todos os sentidos: mental, espiritual e físico."
Anelisa diz que tenta compensar com a prática esportiva o fato de passar o dia todo trabalhando no computador. "Fora do escritório, caminho no parque duas vezes por semana e treino boxe outras três." (CLÁUDIA COLLUCCI E JOHANNA NUBLAT)


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