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Cidade não estimula a andar, diz arquiteta
Médicos defendem espaço público mais amigável para a prática de exercícios
Poluição, calçadas esburacadas e disputa por espaço com os carros são desestímulos apontados por especialistas e moradores
DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em um ponto, médicos e arquitetos concordam: o modelo
de urbanização nas grandes cidades, como São Paulo, privilegia os automóveis em detrimento dos pedestres e dos ciclistas, tornando as ruas e as
calçadas espaços impróprios
para atividades físicas.
A arquiteta Cibele Taralli,
professora da FAU (Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo)
da USP, diz que as calçadas não
foram planejadas e não são
conservadas a ponto de favorecer a movimentação de pedestres e de veículos leves, como a
bicicleta e o skate.
"Vou andar, mas disputo espaço com os carros, é aquela
poluição horrível. Isso não estimula ninguém a andar nas
ruas. São Paulo é uma cidade
pensada em pedaços, sem visão
de continuidade das coisas."
Para o cardiologista Álvaro
Avezum, as pessoas não são sedentárias porque querem, mas
sim porque os espaços públicos
não as estimulam ao exercício.
"Se não tiver os planejadores de
cidade para facilitar algum gasto enérgico, vamos explodir em
doenças cardiovasculares."
Ele cita o exemplo de capitais
como Viena (Áustria) e Paris
(França), em que a pessoa pode
alugar bicicletas públicas a 1
(o equivalente a R$ 2,80).
O endocrinologista Bruno
Geloneze, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), também defende melhorias no espaço público para estimular a prática de exercícios.
Segundo ele, da mesma forma que o risco cardíaco passou
a ser um problema multidisciplinar, a atividade física não depende apenas do cidadão ou do
médico, mas também de uma
ação governamental.
"Precisamos ter parques e
praças seguras para que a população se exercite, ter calçadas sem buracos para que as
pessoas caminhem sem tropeçar. Isso é mais barato do que
investir em remédio", afirma.
O cientista social Sergio Andrade emenda: "Caminhar com
toda essa poluição não vale a
pena, não me sinto estimulado.
Ir ao Ibirapuera pra respirar
fumaça?", questionava ele, enquanto passeava anteontem
pela avenida Paulista.
Os arquitetos Luciano César
Teixeira e Anelisa de Paula
concordam que a cidade é poluída e as ruas e calçadas não
estimulam as caminhadas, mas
recorrem ao parque Ibirapuera
sempre que podem.
Teixeira conta que passou
um ano sem praticar esportes,
mas hoje corre 10 km todos os
dias no Ibirapuera. "Trabalho
muito parado e, correndo, consigo diminuir as coisas ruins
em todos os sentidos: mental,
espiritual e físico."
Anelisa diz que tenta compensar com a prática esportiva
o fato de passar o dia todo trabalhando no computador. "Fora do escritório, caminho no
parque duas vezes por semana
e treino boxe outras três."
(CLÁUDIA COLLUCCI E JOHANNA NUBLAT)
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