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ANÁLISE
Onde havia terra, hoje há asfalto
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
São Paulo viveu ontem um
dia de chuva recorde no mesmo
momento em que a prefeitura
corta gastos nos serviços de
limpeza e varrição de ruas.
O lixo não recolhido das ruas
é arrastado pelas enxurradas. A
primeira parada é o bueiro
mais próximo, que acaba entupido. Sem ter por onde escorrer, a água fica ali na rua mesmo, causando alagamento.
Quando o lixo passa pelo
bueiro vai parar nas galerias de
águas pluviais, feitas justamente para as águas escoarem.
Quando a galeria entope, a água
volta e alaga a rua.
Isso significa que, se não
houvesse corte nos serviços de
limpeza, a cidade não teria vivido o caos de ontem? Não necessariamente. O volume de chuva
foi tanto que dificilmente os
bueiros e as galerias dariam
conta, mesmo se estivessem
completamente limpos.
Além disso, a prefeitura tem
bom desempenho na execução
dos gastos com limpeza e conservação de canais e galerias
neste ano. Até o mês passado já
havia gasto 76% dos recursos
previstos para o serviço em
2009.
A falta de limpeza adequada é
um agravante, mas não é o
principal causador das enchentes. A causa principal é a crescente impermeabilização do
solo somada à falta de investimentos em obras necessárias
de combate às inundações.
Onde antes havia terra, hoje
há asfalto, cimento ou laje. Se
antes a água infiltrava, hoje ela
escorre para bueiros, galerias e
cursos d'água (rios, córregos,
riachos etc.) mais próximos.
Um exemplo clássico é a região de Perdizes, de alta valorização imobiliária. Apesar de ser
um tradicional ponto de alagamento, sofre nos últimos anos
um agravamento do problema.
Até a década passada, por
exemplo, as inundações demoravam mais para começar e terminavam mais rápido. Hoje,
qualquer chuva um pouco mais
forte causa inundações na região da praça Marrey Jr. e da
avenida Pompeia. E a água demora muito para escoar, porque não tem para onde ir.
A solução, a prefeitura já tem:
construir um piscinão subterrâneo sob a praça Marrey Jr. O
dinheiro, a prefeitura também
já tem, nas contas da Operação
Urbana Água Branca. Só o que
falta é a obra, que não tem sequer previsão.
A prefeitura conhece os principais pontos de alagamento da
cidade. Em 2007, a Folha listou os 30 locais onde as inundações são mais recorrentes.
No ano passado, 22 desses pontos voltaram a alagar.
Nos primeiros sete meses do
ano, a prefeitura gastou R$ 250
milhões em programas de
combate e prevenção às enchentes. Isso é o equivalente a
66% dos R$ 379 milhões previstos para o ano. Ainda que a
maior parte das obras necessárias não tenha sido feita, o desempenho está dentro do esperado, mesmo com corte de gastos. Só que, em 2008, haviam
sido gastos R$ 57,5 milhões a
mais no mesmo período. Em
2008 havia eleição municipal.
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