São Paulo, quarta-feira, 09 de setembro de 2009

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ANÁLISE

Onde havia terra, hoje há asfalto

EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

São Paulo viveu ontem um dia de chuva recorde no mesmo momento em que a prefeitura corta gastos nos serviços de limpeza e varrição de ruas.
O lixo não recolhido das ruas é arrastado pelas enxurradas. A primeira parada é o bueiro mais próximo, que acaba entupido. Sem ter por onde escorrer, a água fica ali na rua mesmo, causando alagamento.
Quando o lixo passa pelo bueiro vai parar nas galerias de águas pluviais, feitas justamente para as águas escoarem. Quando a galeria entope, a água volta e alaga a rua.
Isso significa que, se não houvesse corte nos serviços de limpeza, a cidade não teria vivido o caos de ontem? Não necessariamente. O volume de chuva foi tanto que dificilmente os bueiros e as galerias dariam conta, mesmo se estivessem completamente limpos.
Além disso, a prefeitura tem bom desempenho na execução dos gastos com limpeza e conservação de canais e galerias neste ano. Até o mês passado já havia gasto 76% dos recursos previstos para o serviço em 2009.
A falta de limpeza adequada é um agravante, mas não é o principal causador das enchentes. A causa principal é a crescente impermeabilização do solo somada à falta de investimentos em obras necessárias de combate às inundações.
Onde antes havia terra, hoje há asfalto, cimento ou laje. Se antes a água infiltrava, hoje ela escorre para bueiros, galerias e cursos d'água (rios, córregos, riachos etc.) mais próximos.
Um exemplo clássico é a região de Perdizes, de alta valorização imobiliária. Apesar de ser um tradicional ponto de alagamento, sofre nos últimos anos um agravamento do problema. Até a década passada, por exemplo, as inundações demoravam mais para começar e terminavam mais rápido. Hoje, qualquer chuva um pouco mais forte causa inundações na região da praça Marrey Jr. e da avenida Pompeia. E a água demora muito para escoar, porque não tem para onde ir.
A solução, a prefeitura já tem: construir um piscinão subterrâneo sob a praça Marrey Jr. O dinheiro, a prefeitura também já tem, nas contas da Operação Urbana Água Branca. Só o que falta é a obra, que não tem sequer previsão.
A prefeitura conhece os principais pontos de alagamento da cidade. Em 2007, a Folha listou os 30 locais onde as inundações são mais recorrentes. No ano passado, 22 desses pontos voltaram a alagar.
Nos primeiros sete meses do ano, a prefeitura gastou R$ 250 milhões em programas de combate e prevenção às enchentes. Isso é o equivalente a 66% dos R$ 379 milhões previstos para o ano. Ainda que a maior parte das obras necessárias não tenha sido feita, o desempenho está dentro do esperado, mesmo com corte de gastos. Só que, em 2008, haviam sido gastos R$ 57,5 milhões a mais no mesmo período. Em 2008 havia eleição municipal.


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