São Paulo, quinta-feira, 09 de setembro de 2010

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MINHA HISTÓRIA
MAURÍCIO DINI KLIUKAS, 40


"Acelerava e perguntava se elas tinham levado tiros"

Foi instintivo, diz pai de bebê que saiu ileso após ser arremessado de carro

RESUMO
Na noite de 24 de agosto, o administrador Maurício Dini Kliukas, 40, parou seu carro numa rua do Jaçanã, na zona norte, para pedir informações.
Estava acompanhado da mulher e da filha, de apenas 22 dias. Foi abordado por um assaltante e, por instinto, tentou acelerar o carro para fugir.
Foi atingido três vezes. Ainda dirigiu por dez quilômetros até desmaiar. O carro capotou e o bebê foi arremessado a 20 metros.
A família foi socorrida no pronto-socorro do Hospital Vereador José Storopolli, na Vila Maria (zona norte). O caso foi registrado no 73º DP do Jaçanã.

(...)Depoimento a

ELIANE TRINDADE
DE SÃO PAULO

"A única coisa que pensei na hora em que o assaltante começou a disparar é que não podia ficar parado. Repetia para mim mesmo: agora que Juliana nasceu não posso morrer de jeito nenhum.
Não tenho dúvidas de que ele iria nos matar. Acelerei tudo o que podia. Foi instintivo. Sabia que estava baleado. Não sentia dor, mas meu ombro esquerdo queimava muito. Acelerava e perguntava se elas tinham levado tiros.
Rose se jogou sobre o bebê conforto para proteger a nossa filha. Sete tiros atingiram a lataria do carro, fora os que destruíram os vidros.
Tentava tranquilizar a Rose dizendo que ia para o hospital da Vila Maria. Ela pedia que parasse, mas naquele trecho da Fernão Dias não tinha nada. Os assaltantes nos perseguiram por um tempo.
Saí do hospital na sexta-feira, após 15 dias. Não cheguei a fazer cirurgia. Colocaram um dreno no meu pulmão esquerdo, perfurado.
Continuo com três balas no corpo. Uma se alojou a dois centímetros da coluna. Outra parou na bacia. A terceira bateu na clavícula, no esterno, numa costela, no pulmão e parou próximo ao coração. Os médicos ainda vão decidir se vão retirá-la.

POR UM VÃOZINHO
O vidro do lado do motorista estava só um pouco aberto e o assaltante atirou por aquele vãozinho.
Pedia informação a três senhoras na rua Astecas. Parei no posto, mas não souberam informar. No GPS também não constava a rua.
Rose viu a arma e gritou: "Ele tá armado". As senhoras correram. Abaixamos para nos desviar. Dirigi ainda por uns 10 km, na Fernão Dias, da região do Jaçanã até entrar na marginal Tietê. A partir daí não lembro de nada.
Rose diz que em vez de entrar na marginal, eu fui para o canteiro. O carro bateu na mureta e capotou três vezes.
Ela só gritava pela nossa filha. Um rapaz encontrou Juliana a 20 metros do carro, enrolada em cobertores e sobre uma caminha de vidros.
Li muita besteira na internet. Uma pessoa, que se disse especialista em segurança, chegou a dizer: "Vamos ver se essa mãe aprende".
Espero que nunca vivam um momento como esse. Juliana está viva e sem um aranhão porque não estava presa ao cinto do bebê conforto.
Não aconselho a andar com ou sem. No nosso caso, ela teria se machucado mais. O bebê conforto foi parar prensado no teto do carro, preso ao cinto de segurança.
Fomos socorridos pelo Samu. Rose me disse que um dos socorristas, chamado João, cortou a mão para me liberar das ferragens.
Havia dois cirurgiões na emergência da Vila Maria. Eu estava com hemorragia interna, mas não tinham equipamentos. Só dispunham de um raio-x, mas o exame da minha filha saiu um borrão.
Os médicos eram excelentes. Minha crítica é para a falta de estrutura de um hospital municipal. A começar pela rampa esburacada do pronto-socorro. Eu gritava de dor ao ser transportado.
De lá, fui levado para um hospital particular em São Bernardo do Campo. Fiquei oito dias na UTI. Ainda sinto dores. Para deitar é um terror. No começo, foi difícil entender o que aconteceu.

SUCESSÃO DE MILAGRES
Foi uma sucessão de milagres. Juliana não ter um arranhão, Rose ter só cortes superficiais e meus órgãos vitais não serem atingidos.
A emoção de rever minha filha foi maior do que no dia do parto. Sou católico, não praticante. Depois disso, você acaba acreditando que a mão divina desviou a bala da coluna e do coração.
Ainda não deu tempo de saber como anda o inquérito. Não fomos ouvidos pela polícia [a Secretaria da Segurança Pública informa que as investigações prosseguem, mas não há novidades]. Espero que a polícia faça o papel dela ou que alguém denuncie os bandidos. Não pode haver impunidade.
Sempre defendi pena de morte em crimes contra a vida. O rapaz que descarregou a arma na minha família vai fazer o mesmo com quantos?
Entrei na estatística de tentativa de assalto, poderia ter sido pior se eu não tivesse tido sorte ou a mão de Deus."


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