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MINHA HISTÓRIA
MAURÍCIO DINI KLIUKAS, 40
"Acelerava e perguntava se elas tinham levado tiros"
Foi instintivo, diz pai de bebê que saiu ileso após ser arremessado de carro
RESUMO
Na noite de 24
de agosto, o administrador
Maurício Dini Kliukas, 40,
parou seu carro numa rua
do Jaçanã, na zona norte,
para pedir informações.
Estava acompanhado
da mulher e da filha, de
apenas 22 dias. Foi abordado por um assaltante e,
por instinto, tentou acelerar o carro para fugir.
Foi atingido três vezes.
Ainda dirigiu por dez quilômetros até desmaiar. O
carro capotou e o bebê foi
arremessado a 20 metros.
A família foi socorrida
no pronto-socorro do Hospital Vereador José Storopolli, na Vila Maria (zona
norte). O caso foi registrado no 73º DP do Jaçanã.
(...)Depoimento a
ELIANE TRINDADE
DE SÃO PAULO
"A única coisa que pensei
na hora em que o assaltante
começou a disparar é que
não podia ficar parado. Repetia para mim mesmo: agora
que Juliana nasceu não posso morrer de jeito nenhum.
Não tenho dúvidas de que
ele iria nos matar. Acelerei
tudo o que podia. Foi instintivo. Sabia que estava baleado.
Não sentia dor, mas meu ombro esquerdo queimava muito. Acelerava e perguntava se
elas tinham levado tiros.
Rose se jogou sobre o bebê
conforto para proteger a nossa filha. Sete tiros atingiram a
lataria do carro, fora os que
destruíram os vidros.
Tentava tranquilizar a Rose dizendo que ia para o hospital da Vila Maria. Ela pedia
que parasse, mas naquele
trecho da Fernão Dias não tinha nada. Os assaltantes nos
perseguiram por um tempo.
Saí do hospital na sexta-feira, após 15 dias. Não cheguei a fazer cirurgia. Colocaram um dreno no meu pulmão esquerdo, perfurado.
Continuo com três balas
no corpo. Uma se alojou a
dois centímetros da coluna.
Outra parou na bacia. A terceira bateu na clavícula, no
esterno, numa costela, no
pulmão e parou próximo ao
coração. Os médicos ainda
vão decidir se vão retirá-la.
POR UM VÃOZINHO
O vidro do lado do motorista estava só um pouco
aberto e o assaltante atirou
por aquele vãozinho.
Pedia informação a três senhoras na rua Astecas. Parei
no posto, mas não souberam
informar. No GPS também
não constava a rua.
Rose viu a arma e gritou:
"Ele tá armado". As senhoras
correram. Abaixamos para
nos desviar. Dirigi ainda por
uns 10 km, na Fernão Dias,
da região do Jaçanã até entrar na marginal Tietê. A partir daí não lembro de nada.
Rose diz que em vez de entrar na marginal, eu fui para
o canteiro. O carro bateu na
mureta e capotou três vezes.
Ela só gritava pela nossa filha. Um rapaz encontrou Juliana a 20 metros do carro,
enrolada em cobertores e sobre uma caminha de vidros.
Li muita besteira na internet. Uma pessoa, que se disse
especialista em segurança,
chegou a dizer: "Vamos ver se
essa mãe aprende".
Espero que nunca vivam
um momento como esse. Juliana está viva e sem um aranhão porque não estava presa ao cinto do bebê conforto.
Não aconselho a andar
com ou sem. No nosso caso,
ela teria se machucado mais.
O bebê conforto foi parar
prensado no teto do carro,
preso ao cinto de segurança.
Fomos socorridos pelo Samu. Rose me disse que um
dos socorristas, chamado
João, cortou a mão para me
liberar das ferragens.
Havia dois cirurgiões na
emergência da Vila Maria. Eu
estava com hemorragia interna, mas não tinham equipamentos. Só dispunham de
um raio-x, mas o exame da
minha filha saiu um borrão.
Os médicos eram excelentes. Minha crítica é para a falta de estrutura de um hospital municipal. A começar pela rampa esburacada do
pronto-socorro. Eu gritava de
dor ao ser transportado.
De lá, fui levado para um
hospital particular em São
Bernardo do Campo. Fiquei
oito dias na UTI. Ainda sinto
dores. Para deitar é um terror. No começo, foi difícil entender o que aconteceu.
SUCESSÃO DE MILAGRES
Foi uma sucessão de milagres. Juliana não ter um arranhão, Rose ter só cortes superficiais e meus órgãos vitais não serem atingidos.
A emoção de rever minha
filha foi maior do que no dia
do parto. Sou católico, não
praticante. Depois disso, você acaba acreditando que a
mão divina desviou a bala da
coluna e do coração.
Ainda não deu tempo de
saber como anda o inquérito.
Não fomos ouvidos pela polícia [a Secretaria da Segurança Pública informa que as investigações prosseguem,
mas não há novidades]. Espero que a polícia faça o papel dela ou que alguém denuncie os bandidos. Não pode haver impunidade.
Sempre defendi pena de
morte em crimes contra a vida. O rapaz que descarregou
a arma na minha família vai
fazer o mesmo com quantos?
Entrei na estatística de tentativa de assalto, poderia ter
sido pior se eu não tivesse tido sorte ou a mão de Deus."
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