São Paulo, sexta-feira, 09 de setembro de 2011

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Brasileiros definham à espera de novo julgamento nos EUA

Condenada à prisão perpétua em processo falho, dupla enfrenta problemas de saúde em presídios da Califórnia

Eles transportavam mãe e filho, que haviam entrado ilegalmente no país, e acabaram sendo acusados de sequestro

LAURA CAPRIGLIONE

DE SÃO PAULO

O detento número 2605085 da cadeia de Santa Ana, Califórnia, EUA, Reynaldo Eid, 52, é brasileiro. Foi condenado à prisão perpétua, ao lado do suposto comparsa, Alaor do Carmo Oliveira, 56, preso 2605083 do complexo penitenciário de segurança máxima Theo Lacy, na cidade de Orange, Califórnia também.
Em agosto de 2010, a Corte de Apelação da Califórnia anulou o julgamento em que os dois foram considerados culpados pelo crime de sequestro. Foi detectada uma série de erros no processo.
Um novo julgamento foi marcado, mas acabou adiado sucessivas vezes, a última na semana passada. Salvo mais mudanças, deve ocorrer agora em 31 de outubro.
"Ninguém pensa nas sequelas terríveis dessa prisão injusta?", pergunta a mulher de Oliveira, Mary de Souza Oliveira, 49, moradora de Borborema, interior paulista.
Eid, diabético e cardíaco, desenvolveu depois da prisão (em 2005) úlceras -aftas- de origem nervosa por toda a boca. O quadro se agravou e foi erroneamente diagnosticado como câncer bucal.
Operado, "Eid ficou com o rosto desfigurado por grossas cicatrizes", diz Alfredo Henrique de Robert d'Escragnolle, cônsul honorário do Brasil, que acompanha o caso.
Oliveira está anoréxico, segundo sua mulher. A família perdeu tudo. "E com isso acabou nossa vida. Os meninos tiveram de sair da faculdade, o meu filho mais novo adquiriu uma depressão violenta."

AJUDA
O crime de sequestro com finalidade de resgate é passível de prisão perpétua pelas leis americanas -uma herança do trauma deixado no país pelo sequestro e assassinato do filho do aviador Charles Lindbergh, em 1932.
Os brasileiros tiveram de recorrer à Defensoria Pública. Só agora, mais de seis anos após a prisão, e depois do reconhecimento das falhas de processo, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência tenta entender o que se passa.
"O governo brasileiro incorporou o complexo de vira-latas e assumiu que os dois eram culpados antes de qualquer análise", diz Antonio Carlos de Melo Sá, o Toninho Kalunga, 38, militante de direitos humanos há 20 anos.
Eid era dono de uma empresa de transportes, a Yellow Green, em Boston. Levava clientes vip para aeroportos e cassinos. Tinha o "green card" e morava no país havia 20 anos. Oliveira estava ilegal. Sem visto, era carpinteiro em Nova York. Queria voltar ao Brasil no fim de 2005.
Em novembro daquele ano, a Yellow Green foi contratada para um trabalho.
Eid convidou Oliveira para ajudar. Teriam de pegar uma brasileira, Ana Ribeiro, e seu filho, Iago, então com 5 anos, em uma casa em Costa Mesa, Califórnia, e levá-los ao encontro de Jefferson Ribeiro, marido de Ana e pai de Iago, que vivia na Flórida. Mãe e filho tinham acabado de entrar clandestinamente nos EUA.
O primeiro passo foi dado -mãe e filho foram tirados da casa e levados a um hotel.

DENÚNCIA
Eid e Oliveira telefonaram para Jefferson e pediram pelo serviço US$ 14 mil. Deram o telefone do hotel e deixaram Ana conversar com ele.
Jefferson, ilegal nos EUA, não quis pagar. À Justiça disse que já tinha pago US$ 14 mil para um conhecido cuidar do ingresso ilegal da mulher e do filho. Mas disse não saber se esse conhecido havia pago os coiotes.
Após a conversa por telefone, Eid e Oliveira foram presos por sequestro, a partir de acusação de Jefferson.


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